São Paulo, sexta-feira, 18 de março de 2011

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XICO SÁ

'Androginou'


Anteontem, vi como essa peleja ridícula de 22 homens atrás de uma bola é capaz de hipnotizar


AMIGO TORCEDOR, amigo secador, é impressionante o tempo que nós, homens, gastamos com o futebol. Mesmo que um cara não seja tão obsessivo, dedica, por baixo, umas oito horas semanais ao esporte, incluindo jogos, mesas-redondas e bate-papo no botequim. Mais do que nos devotamos às mulheres, para ficarmos na comparação com a maior razão de permanecer vivo que temos conhecimento.
Na noite de anteontem, vi como essa peleja ridícula de 22 homens correndo infantilmente atrás de uma bola é capaz de hipnotizar. Tudo bem, estava em campo o Santos, o maior time desde que Charles Miller nos trouxe a britânica arte ludopédica, mas, qual é, meu rapaz, a vida pune quem ignora a beleza cadenciada de uma legítima afilhada de Balzac.
Não somente os cavalheiros da nossa távola, mas quase toda a população masculina dedicava 100% da testosterona reinante no ambiente, a Mercearia São Pedro, ao futiba.
E não somente ao time dos gênios Neymar e Ganso. Uma legião de verdes mirava o triunfo do Palmeiras contra o todo-poderoso Uberaba.
Os corintianos, liderados pelos garçons, claro, secavam duplamente. Tanto o Peixe na Libertadores como o embate na lama na Copa do Brasil. Os são-paulinos, com a soberba lastreada em títulos da América e do mundo, agouravam de narizes empinados.
Uma ou outra gazela via uns minutos aqui, outros minutos ali. Evidentemente sem a tara dos machos. Nesse capítulo, mesmo quando curtem, são mais sábias e se poupam dos vexames. No futebol, continuamos mais histéricos do que elas.
Sim, amigo, as oito horas de dedicação exclusiva valem para os homens normais. Conheço camaradas que duplicam essa conta. Fácil. Estaduais, Libertadores, Inglês, Espanhol, Italiano, Alemão, Francês e um pouco do Russo, dependendo dos jogadores em campo que já pertenceram aos seus times aqui nos trópicos.
Uns tarados. Foi a bela afilhada de Balzac que me chamou a atenção para a hipnose dos marmanjos. "Pena que você só teve olhos ontem para o futebol, perdeu o jogo e meus caprichos", disse ela. "E não somente você. Praticamente não havia homem no recinto capaz de prestar atenção em mulher."
É grave, senhores. Como naquela música genial de Luiz Ayrão, interpretada também pelo santista Zeca Baleiro, "esse camarada se androginou, a moça deu bola a ele e ele nem ligou".

xico.folha@uol.com.br
@xicosa


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