São Paulo, quarta, 18 de março de 1998

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FUTEBOL
Paulo Russo, gerente de esportes da Parmalat, consulta psicólogos e livros sobre lapso do jogador no domingo
Palmeiras estuda "amnésia' de Oséas

RODRIGO BUENO
da Reportagem Local

O Palmeiras está procurando desde o último domingo, quando o atacante Oséas marcou contra as próprias redes, a favor do Corinthians, uma explicação para a "amnésia" do jogador no lance.
Após uma cobrança de escanteio de Marcelinho, Oséas, sozinho na área, subiu com estilo e tocou com perfeição no canto esquerdo de Velloso, como se estivesse finalizando a favor de seu time.
Paulo Russo, gerente de esportes da Parmalat, patrocinadora do Palmeiras, revelou à Folha que conversou nos últimos dias com a psicóloga Regina Brandão, que trabalha há mais de um ano com o Internacional-RS, e com o psicólogo Alfredo Soeiro sobre o tema.
O dirigente, que também conversou com o especialista em medicina esportiva Victor Matsudo, foi buscar informações até em livros do psicofisiologista russo Puni, além de consultar outras três publicações estrangeiras.
"Só não fui pesquisar na Internet ainda", disse Paulo Russo.
Segundo o dirigente, essa grande preocupação com o erro de Oséas visa exatamente proteger o jogador, que, apesar de ter sido vítima de piadas até de seus companheiros de time, está escalado para enfrentar hoje o Mogi Mirim.
"Algumas pessoas não sabem o que falam. Isso é comum. O Kiko, na Espanha, fez um gol igualzinho ao do Oséas", afirmou Russo.
Ele expõe uma de suas hipóteses: "Pode ser uma amnésia psicomotora. É uma ausência, que faz com que o jogador perca a noção de espaço", afirmou.
"No vôlei, há jogadores que sacam por baixo da rede, dão peixinho e esquecem de se proteger quando caem no chão. No basquete, já aconteceu até em jogos da NBA: atletas no salto inicial mandam a bola para o lado errado", disse.
Os especialistas têm diversas suposições para explicar o que ocorreu com Oséas.
"Provavelmente trata-se de um caso de amnésia motora momentânea", afirmou Regina Brandão.
Para a psicóloga, alguns fatores, como estresse ou cansaço, podem contribuir para situações do tipo.
"A fadiga faz com que um atleta tenha as funções senso-perceptivas reduzidas. Ele sofre uma diminuição na orientação tempo-espaço", explica Brandão.
Já o coordenador da pós-graduação da faculdade de educação física da Unicamp, o psicólogo Ademir de Marco, acha que o gol contra de Oséas se deve mais ao intenso condicionamento a que o atleta foi submetido.
"Na minha opinião, foi resultado de treinamento. Ele teve a percepção do gol. Foi atraído. A reação que ele teve é fruto do condicionamento", disse.
De Marco acha possível ainda que o estilo vigoroso de trabalho do técnico Luiz Felipe possa contribuir para "lapsos de momento".
"O atleta pode ficar mais sujeito a isso num esquema rígido."
O Campeonato Paulista também apresentou outros lances curiosos.
No jogo entre Santos e São Paulo, Zetti chutou tiro de meta nos pés de Denílson, que marcou. O são-paulino Márcio Santos, contra a Matonense, fez uma assistência para o adversário Taílson.
As pessoas ouvidas pela Folha concordaram em afirmar que esses lances foram só desatenções.
"Foram displicências. Aconteceram mais pelo sossego em uma jogada", resumiu De Marco.



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