São Paulo, Domingo, 18 de Abril de 1999
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HÓQUEI
Dono de 60 recordes na liga profissional norte-americana, o canadense Wayne Gretzky, 38, encerra a carreira
"Maioral" despede-se dos rinques hoje

da Reportagem Local

"Mais um ano, mais um ano."
Por cinco minutos consecutivos, durante a prorrogação, os torcedores presentes na última quinta no ginásio Corel Centre, do Ottawa Senators, no Canadá, gritaram freneticamente a frase para ele -o número 99 da equipe adversária.
Durante o mesmo período de tempo, o placar eletrônico reprisou os grandes lances, os gols mais bonitos, os títulos e boa parte de sues recordes ofensivos.
E os alto-falantes tocavam "Nobody Does It Better" (Ninguém faz isso melhor), de Carly Simon.
Mas nada disso adiantou.
Ele já havia tomado sua decisão e, ao fim da partida, acenou demoradamente para o público, pois fora seu último jogo profissional em seu país. Em retribuição, aplausos.
O canadense Wayne Gretzky, 38, considerado o melhor jogador de hóquei sobre o gelo de todos os tempos, "pendura o taco" esta tarde, após o jogo de seu time, o New York Rangers, contra o Pittsburgh Penguins, no Madison Square Garden, em Nova York (EUA).
Se forem considerados os recordes individuais registrados, é possível até gerar uma discussão: Gretzky não poderia ser considerado o melhor atleta da história?
Com 60 marcas em seu poder, ele está à frente de todos os seus rivais em outras modalidades.
Entre os recordes em sua carreira de 21 anos na NHL (National Hockey League), Gretzky detém o de mais gols (1.016), assistências (2.221) e pontos (gols e assistências somados, 3.237).
A diferença para os vice-líderes é grande em gols (147), enorme em assistências (984) e ultrapassa o milhar em pontos (1.227).
Não à toa, Wayne Gretzky é chamado de "Great One" (o maioral) pela mídia norte-americana.

Comparações
Os títulos de Gretzky na NHL, a liga de hóquei mais disputada do planeta, porém, não foram tantos.
Em 21 temporadas, ele ganhou a Stanley Cup quatro vezes (84, 85, 87 e 88), todas com o Edmonton Oilers. Na América do Norte, astros de outros esportes tiveram igual ou mais sucesso.
Para citar alguns exemplos:
1) O armador Michael Jordan, no basquete, levou seis vezes o título da NBA pelo Chicago Bulls;
2) O quarterback Joe Montana conduziu o San Francisco 49ers a quatro vitórias no Super Bowl (a decisão do futebol americano);
3) O tenista Pete Sampras, ainda em atividade, já tem 11 conquistas em torneios do Grand Slam.
Mas todos são nascidos nos EUA.
No Canadá, não há atleta em nenhum esporte com mais reconhecimento do que Gretzky.
Lá, ele é o ícone.

Apelos
"Tudo o que tenho feito na vida, e tudo o que ganhei nela, devo à NHL", afirmou Gretzky ao anunciar sua aposentadoria, em uma entrevista, anteontem.
Desde o início da semana, havia rumores de que hoje seria o último jogo da carreira profissional dele.
Apesar de o jogador manter o suspense ("quero estar 100% certo, pois não é uma decisão para se arrepender"), amigos asseguravam que ele não continuaria.
O técnico dos Rangers, John Muckler, apelou: "Estou certo de que este time será melhor no próximo ano se você continuar".
O primeiro-ministro canadense, Jean Christien, fez coro. Até a mulher de Gretzky tentou influenciá-lo para que continuasse.
Em vão.
"Estou sendo corajoso para fazer isso, mas acredito que esteja certo. Meu coração me diz que esta é a melhor decisão", afirmou ele, que recusará uma oferta de US$ 5 milhões dos Rangers para seguir com o time por mais um campeonato.
"Queríamos que continuasse para sempre. É um pouco triste", concluiu o técnico Muckler. "Um pouco não. Muito triste."
Da família, apoio. "Ele tinha que parar algum dia", disse a mãe, Phyllis, que, ao lado do marido, Walter, estará hoje na despedida no Madison Square Garden.
Dois de seus irmãos estarão presentes. A irmã, idem. Ausente, só o irmão mais novo: também jogador de hóquei, estará em Winnipeg (Canadá) defendendo o Chicago Wolves na Liga Internacional.
O filho de Gretzky, que tem seis anos, ainda está sendo convencido por sua mulher, Janet.
"Você vai assistir ao meu jogo de domingo (hoje)?", perguntou Gretzky. "Não, tenho uma partida de beisebol", foi a resposta.
"Não devo voltar no próximo ano", continuou Gretzky. "Não me importo. Tenho um jogo de beisebol", retrucou o menino.

Último recorde
A NHL reconhece 60 recordes de Wayne Gretzky (19 na carreira, 17 em uma única temporada, 4 em um único jogo, 15 em playoffs e 5 em All-Star Games).
O último, contudo, ficará em seus arquivos pessoais.
Foi batido no final do mês passado, quando marcou contra o rival local, New York Islanders, e ultrapassou a marca de gols combinados -na NHL e na WHA (World Hockey Association), onde jogara uma temporada.
Chegou a 1.072 gols e deixou o lendário Gordie Howe, que jogou 26 temporadas, cinco a mais do que ele, para trás.
"Obviamente, será um recorde difícil de ser superado por qualquer um", comentou Gretzky.
A marca não é considerada pela NHL, que não reconhece a WHA.
Mas sim por Gretzky.
"Creio que (o recorde) não estará nos livros. "Mas as pessoas, quando se reunirem, irão falar nele."


Com as agências internacionais


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