São Paulo, sexta-feira, 18 de maio de 2001

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FUTEBOL

Sem CT e ônibus próprio, time prepara-se para jogo com o Corinthians

Botafogo faz treino para finais em meio a canavial

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
RICARDO PERRONE
ENVIADOS ESPECIAIS A RIBEIRÃO PRETO

O funcionário se aproxima do portão pronto para estourar o cadeado que protege o campo de futebol da fazenda São José -265 alqueires, quase todos forrados pela cana-de-açúcar- na zona rural de Ribeirão Preto.
São quase 15h30 de uma quinta-feira chuvosa, e o time de futebol da São José está dando duro na lavoura. Mesmo assim, o portão do campo precisa ser aberto, pois o ônibus que leva o time do Botafogo, finalista do Paulista, chacoalha pelas enlameadas estradas de terra roxa que rasgam o canavial.
Não foi preciso destruir o cadeado, uma chave apareceu. O alambrado está vencido.
Assim, o adversário do Corinthians pôde realizar em paz um de seus treinos para os jogos mais importantes de sua história, iniciada em outubro de 1918.
"A fazenda é o local que cederam para a gente se preparar. É claro que eu gostaria de poder contar com um centro de treinamento, mas temos que fazer o melhor possível", diz o técnico do Botafogo, Lori Sandri.
Dono daquele que talvez seja o melhor estádio do interior paulista, o Santa Cruz, o Botafogo tem contado com a boa vontade e a paixão de um fazendeiro de Ribeirão para treinar.
As chuvas que atingiram a cidade (320 km ao norte de São Paulo) nos últimos dois dias colocaram em perigo o gramado do Santa Cruz, onde Botafogo e Corinthians farão no domingo o primeiro jogo da final deste ano.
O clube de Ribeirão não possui um CT. Ontem, só conseguiu chegar até São José, que muitos chamam em Ribeirão Preto de Santa Maria Agrícola, graças à empresa de transporte Rápido Ribeirão, que cedeu um ônibus. A fazenda fica a quase 20 km do centro.
O velho "Jabiraca" não resistiu, sucumbiu antes da final. Pudera, o ônibus, fabricado nos anos 60, nem forro sobre os bancos tem mais. "Ele sofreu uma distensão, está fora da final", brinca Sandri. Os jogadores parecem não se importar. Vestem peças dos uniformes na beira do gramado.
"A gente está acostumado. Para um clube da cidade grande pode parecer estranho treinar no meio da cana. Mas tem dado sorte, é assim que vamos tentar vencer", diz o goleiro Doni. A cana-de-açúcar está na base da economia de Ribeirão Preto, região de usinas sucroalcoleiras e que ostenta o codinome de "Califórnia Brasileira".
Um homem bem vestido e cordial senta-se próximo ao campo. Diz ser um dos donos da fazenda e pede para não ter seu nome revelado. Cede o espaço para ajudar o Botafogo, só.
Os repórteres "da capital" e de Ribeirão que acompanham o treino se misturam a alguns cortadores de cana. Todos tentam reconhecer os jovens do time botafoguense, que tentam reconhecer os repórteres dos grandes veículos de comunicação. "A gente pensa em um futuro melhor, mas depois da final", diz Leandro, atacante.
A folha de pagamento do Botafogo gira em torno de R$ 170 mil mensais, quase o salário de Marcelinho, do Corinthians.
O tempo fecha, a noite cai. Não há iluminação. Sandri encerra o treino. É hora de pegar a estrada e sonhar com a final.


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