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FUTEBOL
Sem CT e ônibus próprio, time prepara-se para jogo com o Corinthians
Botafogo faz treino para finais em meio a canavial
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
RICARDO PERRONE
ENVIADOS ESPECIAIS A RIBEIRÃO PRETO
O funcionário se aproxima do
portão pronto para estourar o cadeado que protege o campo de futebol da fazenda São José -265
alqueires, quase todos forrados
pela cana-de-açúcar- na zona
rural de Ribeirão Preto.
São quase 15h30 de uma quinta-feira chuvosa, e o time de futebol
da São José está dando duro na lavoura. Mesmo assim, o portão do
campo precisa ser aberto, pois o
ônibus que leva o time do Botafogo, finalista do Paulista, chacoalha pelas enlameadas estradas de
terra roxa que rasgam o canavial.
Não foi preciso destruir o cadeado, uma chave apareceu. O
alambrado está vencido.
Assim, o adversário do Corinthians pôde realizar em paz um de
seus treinos para os jogos mais
importantes de sua história, iniciada em outubro de 1918.
"A fazenda é o local que cederam para a gente se preparar. É
claro que eu gostaria de poder
contar com um centro de treinamento, mas temos que fazer o
melhor possível", diz o técnico do
Botafogo, Lori Sandri.
Dono daquele que talvez seja o
melhor estádio do interior paulista, o Santa Cruz, o Botafogo tem
contado com a boa vontade e a
paixão de um fazendeiro de Ribeirão para treinar.
As chuvas que atingiram a cidade (320 km ao norte de São Paulo)
nos últimos dois dias colocaram
em perigo o gramado do Santa
Cruz, onde Botafogo e Corinthians farão no domingo o primeiro jogo da final deste ano.
O clube de Ribeirão não possui
um CT. Ontem, só conseguiu chegar até São José, que muitos chamam em Ribeirão Preto de Santa
Maria Agrícola, graças à empresa
de transporte Rápido Ribeirão,
que cedeu um ônibus. A fazenda
fica a quase 20 km do centro.
O velho "Jabiraca" não resistiu,
sucumbiu antes da final. Pudera,
o ônibus, fabricado nos anos 60,
nem forro sobre os bancos tem
mais. "Ele sofreu uma distensão,
está fora da final", brinca Sandri.
Os jogadores parecem não se importar. Vestem peças dos uniformes na beira do gramado.
"A gente está acostumado. Para
um clube da cidade grande pode
parecer estranho treinar no meio
da cana. Mas tem dado sorte, é assim que vamos tentar vencer", diz
o goleiro Doni. A cana-de-açúcar
está na base da economia de Ribeirão Preto, região de usinas sucroalcoleiras e que ostenta o codinome de "Califórnia Brasileira".
Um homem bem vestido e cordial senta-se próximo ao campo.
Diz ser um dos donos da fazenda
e pede para não ter seu nome revelado. Cede o espaço para ajudar
o Botafogo, só.
Os repórteres "da capital" e de
Ribeirão que acompanham o treino se misturam a alguns cortadores de cana. Todos tentam reconhecer os jovens do time botafoguense, que tentam reconhecer os
repórteres dos grandes veículos
de comunicação. "A gente pensa
em um futuro melhor, mas depois
da final", diz Leandro, atacante.
A folha de pagamento do Botafogo gira em torno de R$ 170 mil
mensais, quase o salário de Marcelinho, do Corinthians.
O tempo fecha, a noite cai. Não
há iluminação. Sandri encerra o
treino. É hora de pegar a estrada e
sonhar com a final.
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