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Família do "Marechal da Vitória" preserva lendas
Herdeiro do dirigente e empresário revela casos de privilégios concedidos a jogadores na 1ª Copa do Mundo ganha pelo Brasil
Paulo Machado de Carvalho Filho conserva santa que simbolizou 1ª conquista
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
A família de Paulo Machado
de Carvalho preserva algumas
poucas relíquias e um monte de
histórias sobre 1958. Filho, neto, bisneto e tataraneto, todos
com o ilustre nome do ""Marechal da Vitória", cuidam do legado do chefe da delegação da
seleção campeã na Suécia.
""Se eu não estiver mais aqui,
tem um outro Paulo Machado
de Carvalho", conta Paulo Machado de Carvalho Filho, empresário e diretor de TV que,
aos 84 anos, recebeu a Folha
em sua casa para contar casos
envolvendo o título mundial de
50 anos atrás e mostrar uma
jóia: a imagem de Nossa Senhora Aparecida levada à Europa
pelo supersticioso pai.
""Ele era supersticioso mesmo, tinha aquele negócio de só
usar terno marrom. Quando o
jogador não via ele com o terno,
achava que ia perder", falou.
Ele segura com cuidado a
imagem da padroeira nacional
mesmo não sendo fervoroso
adorador dela como o ""velho",
como se refere ao homem que
dá nome ao Pacaembu.
""O velho era devoto e sempre
ia a Aparecida. Eu não sou tão
fanático. A imagem ficava no
quarto dele na concentração,
acho. E voltou com a taça",
conta o herdeiro do dirigente,
que morreu em 1992.
O filho tenta não aumentar
as lendas que envolvem o pai.
""A gente vê alguns absurdos,
elogios exagerados e omissões
que nos deixam chateado. Contam a história errada do sorteio
de camisas na final. Não houve
sorteio. Pela lógica, a Suécia deveria jogar de amarelo. Time da
casa tem preferência. Não tinha jeito. O velho propôs que
fosse feito um sorteio, mas isso
não foi admitido, não deu", diz.
O filho do ""Marechal" confirma que o mais famoso chefe de
delegação da história do futebol brasileiro deu regalias a alguns jogadores em 1958.
""Ele alugou uma casa para a
Guiomar, mulher do Didi, na
Suécia. Ele aceitou isso."
Paulo Machado de Carvalho
também propiciou ao goleiro
Gilmar contatos telefônicos
com sua mulher. ""Até o velho
falecer, ele visitava o Gilmar e
sua esposa", fala o filho, muito
mais envolvido com a área cultural do que com a esportiva
-orgulha-se, por exemplo, de
ser padrinho de casamento de
Roberto Carlos e Elis Regina,
além de organizar famosos festivais de música popular.
""O velho sempre preferiu o
futebol ao resto. Eu comecei do
zero. Aos 14 anos, entregava
carta, era sonoplasta, tocava
disco, aprendi tudo. Sou empresário. Sabe o que é ser empresário? Pode ser qualquer
coisa", diz o ""PMC" Filho, que
ajudou muito o pai em seu império de comunicação na Rede
Record (e na Copa).
Pai, filho e neto também foram presidentes da Abert (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão).
Mas como Paulo Machado de
Carvalho deixou a seleção após
o bicampeonato em 1962?
""O Havelange [então presidente da CBD] resolveu fazer
uma comissão tríplice. Não era
mais um homem só mandando.
E o velho era assim mesmo: "Eu
vou, mas eu mando, se for para
dividir, não quero". Nós achávamos que tudo isso tinha sido
um golpe, a popularidade do
velho era grande", diz.
Essa opinião da família sobre
João Havelange durou quatro
décadas, passando pelo enterro
""pouco concorrido" do cartola
(""lembro, no caixão, só da bandeira do São Paulo", diz o filho), mas começa a mudar.
""Ouvi entrevista do Havelange dizendo que o futebol profissional e tudo aquilo que ocorreu de 1958 para cá deve-se a
uma pessoa: o velho", diz agora
o apelidado Paulinho.
São muitas histórias boas, algumas duvidosas, contadas por
Paulinho, mas uma ele presenciou e garante a autenticidade.
""Eu vi: na véspera da partida
para a Suécia, a minha mãe costurou todos os distintivos nos
paletós da delegação do Brasil.
A CBD não tinha nenhuma organização. O Brasil era amador", relata Paulinho.
Se não é a única, é a melhor
história cuja fonte não é o velho Paulo. ""Foi o velho que me
falou tudo o que lhe falei. Mas
quem sabe ele não criou alguma coisa? Coisas viraram lenda, mas não aconteceram."
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