São Paulo, domingo, 18 de maio de 2008

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Família do "Marechal da Vitória" preserva lendas

Herdeiro do dirigente e empresário revela casos de privilégios concedidos a jogadores na 1ª Copa do Mundo ganha pelo Brasil

Paulo Machado de Carvalho Filho conserva santa que simbolizou 1ª conquista


RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

A família de Paulo Machado de Carvalho preserva algumas poucas relíquias e um monte de histórias sobre 1958. Filho, neto, bisneto e tataraneto, todos com o ilustre nome do ""Marechal da Vitória", cuidam do legado do chefe da delegação da seleção campeã na Suécia.
""Se eu não estiver mais aqui, tem um outro Paulo Machado de Carvalho", conta Paulo Machado de Carvalho Filho, empresário e diretor de TV que, aos 84 anos, recebeu a Folha em sua casa para contar casos envolvendo o título mundial de 50 anos atrás e mostrar uma jóia: a imagem de Nossa Senhora Aparecida levada à Europa pelo supersticioso pai.
""Ele era supersticioso mesmo, tinha aquele negócio de só usar terno marrom. Quando o jogador não via ele com o terno, achava que ia perder", falou.
Ele segura com cuidado a imagem da padroeira nacional mesmo não sendo fervoroso adorador dela como o ""velho", como se refere ao homem que dá nome ao Pacaembu.
""O velho era devoto e sempre ia a Aparecida. Eu não sou tão fanático. A imagem ficava no quarto dele na concentração, acho. E voltou com a taça", conta o herdeiro do dirigente, que morreu em 1992.
O filho tenta não aumentar as lendas que envolvem o pai.
""A gente vê alguns absurdos, elogios exagerados e omissões que nos deixam chateado. Contam a história errada do sorteio de camisas na final. Não houve sorteio. Pela lógica, a Suécia deveria jogar de amarelo. Time da casa tem preferência. Não tinha jeito. O velho propôs que fosse feito um sorteio, mas isso não foi admitido, não deu", diz.
O filho do ""Marechal" confirma que o mais famoso chefe de delegação da história do futebol brasileiro deu regalias a alguns jogadores em 1958.
""Ele alugou uma casa para a Guiomar, mulher do Didi, na Suécia. Ele aceitou isso."
Paulo Machado de Carvalho também propiciou ao goleiro Gilmar contatos telefônicos com sua mulher. ""Até o velho falecer, ele visitava o Gilmar e sua esposa", fala o filho, muito mais envolvido com a área cultural do que com a esportiva -orgulha-se, por exemplo, de ser padrinho de casamento de Roberto Carlos e Elis Regina, além de organizar famosos festivais de música popular.
""O velho sempre preferiu o futebol ao resto. Eu comecei do zero. Aos 14 anos, entregava carta, era sonoplasta, tocava disco, aprendi tudo. Sou empresário. Sabe o que é ser empresário? Pode ser qualquer coisa", diz o ""PMC" Filho, que ajudou muito o pai em seu império de comunicação na Rede Record (e na Copa).
Pai, filho e neto também foram presidentes da Abert (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão).
Mas como Paulo Machado de Carvalho deixou a seleção após o bicampeonato em 1962?
""O Havelange [então presidente da CBD] resolveu fazer uma comissão tríplice. Não era mais um homem só mandando. E o velho era assim mesmo: "Eu vou, mas eu mando, se for para dividir, não quero". Nós achávamos que tudo isso tinha sido um golpe, a popularidade do velho era grande", diz.
Essa opinião da família sobre João Havelange durou quatro décadas, passando pelo enterro ""pouco concorrido" do cartola (""lembro, no caixão, só da bandeira do São Paulo", diz o filho), mas começa a mudar.
""Ouvi entrevista do Havelange dizendo que o futebol profissional e tudo aquilo que ocorreu de 1958 para cá deve-se a uma pessoa: o velho", diz agora o apelidado Paulinho.
São muitas histórias boas, algumas duvidosas, contadas por Paulinho, mas uma ele presenciou e garante a autenticidade.
""Eu vi: na véspera da partida para a Suécia, a minha mãe costurou todos os distintivos nos paletós da delegação do Brasil. A CBD não tinha nenhuma organização. O Brasil era amador", relata Paulinho.
Se não é a única, é a melhor história cuja fonte não é o velho Paulo. ""Foi o velho que me falou tudo o que lhe falei. Mas quem sabe ele não criou alguma coisa? Coisas viraram lenda, mas não aconteceram."


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