São Paulo, quarta-feira, 18 de julho de 2001

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GINÁSTICA

Romena Nadia Comaneci credita à vontade de vencer a principal razão da conquista na Olimpíada de Montreal

Primeiro dez do esporte completa 25 anos

DA REPORTAGEM LOCAL

Sem muita festa nem grandes comemorações oficiais, a ginástica celebra hoje 25 anos de um feito histórico. Aos 14 anos de idade, nos Jogos Olímpicos de Montreal-1976, uma pequena romena, de 1,54 m e 35 kg, encantou o mundo e os jurados e conseguiu o que atualmente é tido como impossível no esporte: a nota dez.
Ao todo foram sete notas dez, que renderam a Nadia Comaneci três medalhas de ouro, uma de prata e uma de bronze e a tornaram uma legenda do esporte.
Ao voltar à Romênia, depois de ter pedido ao governo de seu país uma bicicleta nova ("A minha está com o pedal quebrado, e não gosto da cor dela"), a jovem romena da cidade industrial de Onesti ganhou carro, apartamento e até medalha de honra.
Atrelado a todo o sucesso, porém, veio o assédio do filho do ditador Nicolae Ceausescu -em 1984, ele invadiu sua festa de noivado com a polícia secreta, espancou os convidados e a violentou.
Pupila do técnico Bela Karoly -famoso por dar aos EUA o primeiro título por equipe em Atlanta-96-, nos Jogos de Moscou-1980 Nadia ainda obteve dois ouros e duas pratas, mas, já atormentada por problemas diversos -controle de peso, idade e assédios-, não teve o mesmo brilho.
Após encerrar a carreira em 1984, ela deu início a uma odisséia, que inclui a fuga a pé da Romênia em 1989, o refúgio nos EUA e o casamento com Constantin Panait, outro refugiado, de quem se separaria em 1993, acusando-o de tortura e de fazê-la prisioneira em casa por três meses. Em 1996, após morar no Canadá, voltaria aos EUA e se casaria com o ginasta Bart Connor.
Reconhecida recentemente como cidadã americana, Nadia, 39, comanda hoje, ao lado do marido, uma academia em Oklahoma (EUA), faz apresentações, ações filantrópicas e realiza palestras.
Mesmo sem manter à risca a dieta imposta por Bela Karoly em 1976 -quatro horas diárias de treino, sem pão e açúcares-, ela diariamente destina 35 minutos de seu tempo para alongamentos e exercícios. E garante: "A fome de sucesso e a ética profissional de Montreal, responsáveis pela nota dez, ainda norteiam minha vida".
"Eu era de uma cidade pequena. Meu pai andava 20 km para chegar ao serviço. Aquela situação me motivou. Venci porque não fui rebelde nos treinos, tive um técnico qualificado e, para a época, inovei nos exercícios. Aprendi a superar dificuldades."
E, indiferente ao fato de o sonho de criança de se tornar médica não vingar, Nadia diz que merece nota dez por ter conduzido bem a carreira -ela se tornaria a campeã mais jovem da Romênia, com 11 anos. "Por 20 anos, eu me dediquei à ginástica. Isso era a coisa mais importante, e aceitei bem o fato de que um dia isso acabaria."



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