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FUTEBOL
Fiéis, infiéis e quarentenas
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Quando eu soube que havia
um interesse do São Paulo
pelo Ricardinho, torci o nariz.
Achei falta de respeito. Como
quase todo mundo, ainda namoro a idéia romântica do jogador
eternamente identificado com
um clube, vestindo a mesma camisa durante anos.
Como isso é quase impossível de
acontecer (e não é de hoje), admito algumas coisas: por exemplo,
que o jogador defenda dois clubes
de forte rivalidade desde que
cumpra uma "quarentena" defendendo uma equipe do exterior,
como é mais comum, ou um time
de outra região do Brasil.
Também aceito uma troca direta quando um jogador não é feliz
no clube em que está - para falar de duas histórias bem diferentes, cito Rivaldo (do Corinthians,
onde não emplacou, para o Palmeiras) e o lateral Rogério (do
Palmeiras, onde foi encostado,
para o Corinthians).
Não é assim com Ricardinho.
Mesmo com os problemas novelescos com outro ídolo corintiano
(o polêmico Marcelinho, claro), o
meia não é perseguido pela torcida (fora as exceções de praxe),
não é subestimado, não precisa
provar seu valor nem lutar por ser
lugar no time. É titular absoluto,
capitão, considerado "insubstituível" pelo técnico. Então por
que iria para o São Paulo?
Por uma boa proposta, oras
-dinheiro e boas condições de
trabalho. Ou talvez por um novo
desafio; pela vontade de mudar
de ares e testar o próprio talento
-como seria começar tudo de
novo já sendo uma "estrela", não
o jogador quase desconhecido que
era do Paraná? Talvez até por
vaidade -é bom ser cortejado,
disputado, querido.
Mas isso não eliminaria a "inconveniência" do São Paulo, que
fez uma proposta para um atleta
com contrato em vigor. Só que isso acontece o tempo todo no
mundo profissional: professores
trocam de escola; jornalistas, de
emissora; publicitários, de agência; executivos, de empresa; bandas, de gravadora... Seja pelo motivo que for, ninguém pode ser
obrigado a cumprir um contrato
até o fim. Todos estamos sujeitos
a mil mudanças na vida; por isso
existem as cláusulas rescisórias.
Então por que a saída do Luizão do Grêmio seria antiética?
Porque não houve reciprocidade,
clareza, empenho para honrar o
compromisso. E a ocasião para o
rompimento foi péssima, totalmente inadequada. Do contrário,
é claro que ele poderia romper o
contrato (e pagar a multa!).
E por que, estou acreditando, a
negociação do Ricardinho não é
antiética? Pela transparência. O
São Paulo confessou o interesse
desde o começo; os presidentes
dos clubes estão conversando um
com o outro, diretamente; Ricardinho não jurou por Deus que só
sai do Corinthians morto ou a
contragosto. Ele admitiu com
tranquilidade que a transferência
poderia acontecer e que ele preferia o São Paulo a alguma equipe
estrangeira sem grande projeção.
Os corintianos certamente prefeririam que ele fosse para a Grécia, e não para o Morumbi. Mas
ele tem o direito de escolher.
Se até de marido (ou mulher) a
gente troca... Diz que vai amar
pra sempre, acredita nisso, compartilha momentos incríveis, filhos, conquistas -e um dia se separa... Não é fácil! Rolam mil ressentimentos, expectativas de
"quarentena", mas o certo é ir cada um para o seu lado sem birras.
Significa que não deu certo? Às
vezes deu, mas acabou. Se for esse
o caso com Ricardinho... Boa sorte no novo relacionamento.
Comovente
Se Vieri, Recoba e Ronaldinho mal vão sentir falta do
que deixarão de receber, eu
não sei. Mas sei que todo
mundo quer sempre mais, e
fico emocionada quando alguém se dispõe a ter menos.
O ex-mais pedido
E pensar que antes da Copa
do Mundo só se falava em
Romário... Que será dele agora? Se fosse pentacampeão,
talvez nem fizesse mais questão de jogar. Passados poucos
meses, virou quase um refugo. Romário não é indispensável, mas também não é de
se jogar fora! Só que é caro
demais. E é um risco.
A-zu-lão!
Dá-lhe, São Caetano! Com os
pés no chão, mantendo a vocação ofensiva, trabalhando
anos com o mesmo treinador, a equipe paulista já está a
duas partidas de Yokohama
(JAP). Será que vai?
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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