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MELCHIADES FILHO
Dançando com lobos
Perguntas que não querem
calar enquanto o basquete
rebola no free shop e roda
na frente do grande público
PARECIA CORRETA a decisão da
comissão técnica de levar para
a Venezuela um time B, com
jovens aspirantes a uma vaga no
elenco que buscará a redenção no
Mundial do Japão, dentro de um
mês. O Brasil não se dá mesmo bem
quando atropela os vizinhos. Calça o
salto alto e depois se arrebenta em
torneios mais importantes. Mas, se
o diagnóstico era esse, se o Sul-Americano deixou de ser tão importante,
se ele valia apenas como uma peneira, por que então viajaram para Caracas os três treinadores da seleção?
Não teria sido mais proveitoso manter ao menos um deles no país, trabalhando com os oito atletas pré-relacionados para o Mundial?
Lula Ferreira & Cia. alegavam que
esses jogadores vieram de uma temporada extenuante, a maioria do exterior, e que por isso deviam descansar. Se é assim, por que alguns têm se
exercitado sozinhos? Guilherme,
por exemplo, foi a público agradecer
à academia e ao amigo que o ajudaram a montar um cronograma para
o Japão. Está no caminho certo uma
equipe cujo ala titular se gaba de
preparar a própria rotina de treino?
Não é o único caso de dessintonia.
Há dois anos o pivô Nenê trava uma
contenda com os cartolas do basquete nacional. Seguidamente tem
negado a seleção. A confederação
agora diz que está tudo resolvido e
que o mais famoso dos oito "intocáveis" disputará o Mundial. Mas Nenê ficou quase dez meses no estaleiro, recupera-se de cirurgia no joelho
e acaba de renovar contrato com o
Denver (US$ 60 milhões até 2012).
Será que o clube vai liberá-lo fácil,
sem nenhum tipo de seguro? Por
que o pivô ainda não falou da participação no Mundial? Por que Lula
confirma a trégua se admite que
nem sequer conversou com o atleta?
Talvez seja do interesse da comissão técnica esticar a novela, pois ela
assim transfere ao pivô o ônus da
nova recusa e permanece blindada
às críticas. É, aliás, a tática usada
com Valtinho -o armador faz tempo se desiludiu com as patotadas e,
apesar disso, continua sendo convocado. Pressões e blefes fazem parte
do esporte de alto rendimento. Mas
não deviam ser evitados quando
brincam com a opinião pública, com
as expectativas da arquibancada?
De acordo com a programação da
CBB, o mistério seria desfeito amanhã, com a lista dos que treinarão
para o Mundial. Mas deverão ser
chamados mais do que 12 nomes,
justamente por conta de Nenê. Isso
não aumentará a agonia dos garotos
que ralaram no Sul-Americano?
Não poderá ser interpretado por
eles como um sinal de desprestígio?
Ou ampliar o fosso entre Nenê (a
"prima donna") e os domésticos?
São perguntas que não calam e decepções que engasgam neste ano tão
importante. O Mundial é uma chance de ouro. Hoje o país só conhece o
basquete que requebra, de vestido
vermelho e maquiagem pesada, no
auditório do Faustão. Hã? O quê? A
Hortência rodou no programa da semana passada? Até lá dançamos?
SAPATILHA 1
Quem mais merecia ser observado ficou de fora do Sul-Americano.
O pivô JP Batista preferiu tentar a
sorte no Minnesota. Huertas e Murilo ganharam a vaga no Mundial
dentro da quadra; Nezinho e Estevam, fora dela. Marcus Vinícius devia ser o escolhido para fechar os 12
caso Nenê refugue de novo.
SAPATILHA 2
Do ala Marquinhos, da NBA, ao
"Lance!": "Não abandonei a seleção. Pedi dispensa. O Lula falou
que, se eu fosse embora, iria falar
muito mal de mim na mídia para eu
me ferrar. Enquanto tiver pessoas
como ele, não jogo pela seleção".
SAPATILHA 3
O time de Brasília foi à Justiça,
travou o Nacional e fechou o Ribeirão Preto. Lula, o técnico deste, negocia para ser daquele. Afe.
melk@uol.com.br
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