São Paulo, terça-feira, 18 de julho de 2006

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MELCHIADES FILHO

Dançando com lobos

Perguntas que não querem calar enquanto o basquete rebola no free shop e roda na frente do grande público

PARECIA CORRETA a decisão da comissão técnica de levar para a Venezuela um time B, com jovens aspirantes a uma vaga no elenco que buscará a redenção no Mundial do Japão, dentro de um mês. O Brasil não se dá mesmo bem quando atropela os vizinhos. Calça o salto alto e depois se arrebenta em torneios mais importantes. Mas, se o diagnóstico era esse, se o Sul-Americano deixou de ser tão importante, se ele valia apenas como uma peneira, por que então viajaram para Caracas os três treinadores da seleção? Não teria sido mais proveitoso manter ao menos um deles no país, trabalhando com os oito atletas pré-relacionados para o Mundial?
Lula Ferreira & Cia. alegavam que esses jogadores vieram de uma temporada extenuante, a maioria do exterior, e que por isso deviam descansar. Se é assim, por que alguns têm se exercitado sozinhos? Guilherme, por exemplo, foi a público agradecer à academia e ao amigo que o ajudaram a montar um cronograma para o Japão. Está no caminho certo uma equipe cujo ala titular se gaba de preparar a própria rotina de treino?
Não é o único caso de dessintonia. Há dois anos o pivô Nenê trava uma contenda com os cartolas do basquete nacional. Seguidamente tem negado a seleção. A confederação agora diz que está tudo resolvido e que o mais famoso dos oito "intocáveis" disputará o Mundial. Mas Nenê ficou quase dez meses no estaleiro, recupera-se de cirurgia no joelho e acaba de renovar contrato com o Denver (US$ 60 milhões até 2012).
Será que o clube vai liberá-lo fácil, sem nenhum tipo de seguro? Por que o pivô ainda não falou da participação no Mundial? Por que Lula confirma a trégua se admite que nem sequer conversou com o atleta?
Talvez seja do interesse da comissão técnica esticar a novela, pois ela assim transfere ao pivô o ônus da nova recusa e permanece blindada às críticas. É, aliás, a tática usada com Valtinho -o armador faz tempo se desiludiu com as patotadas e, apesar disso, continua sendo convocado. Pressões e blefes fazem parte do esporte de alto rendimento. Mas não deviam ser evitados quando brincam com a opinião pública, com as expectativas da arquibancada?
De acordo com a programação da CBB, o mistério seria desfeito amanhã, com a lista dos que treinarão para o Mundial. Mas deverão ser chamados mais do que 12 nomes, justamente por conta de Nenê. Isso não aumentará a agonia dos garotos que ralaram no Sul-Americano? Não poderá ser interpretado por eles como um sinal de desprestígio?
Ou ampliar o fosso entre Nenê (a "prima donna") e os domésticos? São perguntas que não calam e decepções que engasgam neste ano tão importante. O Mundial é uma chance de ouro. Hoje o país só conhece o basquete que requebra, de vestido vermelho e maquiagem pesada, no auditório do Faustão. Hã? O quê? A Hortência rodou no programa da semana passada? Até lá dançamos?

SAPATILHA 1 Quem mais merecia ser observado ficou de fora do Sul-Americano. O pivô JP Batista preferiu tentar a sorte no Minnesota. Huertas e Murilo ganharam a vaga no Mundial dentro da quadra; Nezinho e Estevam, fora dela. Marcus Vinícius devia ser o escolhido para fechar os 12 caso Nenê refugue de novo.

SAPATILHA 2 Do ala Marquinhos, da NBA, ao "Lance!": "Não abandonei a seleção. Pedi dispensa. O Lula falou que, se eu fosse embora, iria falar muito mal de mim na mídia para eu me ferrar. Enquanto tiver pessoas como ele, não jogo pela seleção".

SAPATILHA 3 O time de Brasília foi à Justiça, travou o Nacional e fechou o Ribeirão Preto. Lula, o técnico deste, negocia para ser daquele. Afe.


melk@uol.com.br

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