São Paulo, terça-feira, 18 de agosto de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JOSÉ ROBERTO TORERO

A maior torcida do Brasil


Estive lá, bem no meio dela, e cheguei à conclusão de que essa torcida não tem nada especial. É só gente comum


NESTE fim de semana, resolvi conhecer ao vivo a maior torcida do Brasil. Não, não estou falando de flamenguistas ou corintianos. Hoje, a maior torcida do Brasil é a do Clube Atlético Mineiro. Pelo menos quando se fala em torcida nos estádios.
Se o leitor duvida e a leitora desconfia, podem olhar lá no site na CBF. Nos jogos em casa, ninguém leva mais torcedores que o Galo. Na verdade, ninguém nem chega perto.
Ele tem 39.709 torcedores em média. O Flamengo, segundo colocado, está 9.000 torcedores atrás. Nem somados gremistas (19.373) e são-paulinos (18.174), terceiros e quartos colocados, alcançam o clube mineiro.
Ou seja, a torcida do Galo está dando uma surra nas outras. E a melhor das surras, a surra metafórica.
Quando cheguei ao Pacaembu, a arquibancada dos visitantes abrigava uma torcida familiar, com muitos velhos, mulheres e crianças. Fiz uma pequena pesquisa e vi que a grande maioria era de mineiros que vieram trabalhar em São Paulo.
Por acaso, ou não, sentei-me perto de duas senhoritas: Gabriella, com dois eles, e Elen, com um ele só. Como é comum nas mulheres, elas possuíam teses interessantes sobre futebol. A primeira disse que, se houvesse um Brasileiro a cada dois meses, seria mais divertido, pois "aí todo mundo ganhava e ninguém ficava triste". A segunda confessou que torcia para que o Atlético não fizesse um gol logo de cara, pois assim o Corinthians não viria para cima.
Às 16h em ponto chegou a Galoucura, cantando e bem-humorada. A arquibancada ficou claramente dividida. Na parte de cima, os torcedores comuns. Na de baixo, os organizados. A Galoucura deu uma grande animada nos comuns. Todos levantaram e viram o jogo em pé. Mesmo porque, com a organizada levantada, ninguém enxergaria o jogo sentado.
Quando começou o jogo, com o time mineiro meio confuso e lento (tinha seis desfalques), os comuns ficaram apreensivos. Já os da organizada cantavam sem parar. Só se calaram aos 26min do primeiro tempo, quando Dentinho fez 1 a 0. Então fez-se um silêncio de quando se fecha caixão em velório. Mas, segundos depois, a torcida reiniciou sua música, e os comuns ressuscitaram.
"Vamos virar!", disse um cara com rabo de cavalo à minha frente.
Após o primeiro gol, começou uma certa animosidade entre a Galoucura e os corintianos do tobogã.
Os mineiros começaram a cantar músicas pouco elogiosas, como "Doutor, eu não me engano, fdp é corintiano". De lá, os corintianos também cantavam versos ofensivos e faziam gestos pouco educados.
No começo do segundo tempo, os comuns ainda estavam otimistas, tanto que, quando o Corinthians ia cobrar falta perigosa, o sujeito com rabo de cavalo disse: "É o começo da reação: a bola baterá na barreira e faremos gol no contra-ataque". Mas, instantes depois, o Corinthians faria 2 a 0, num belo chute de Boquita.
Veio então a expulsão do atleticano Renan, e as esperanças acabaram de vez. Os comuns começaram a ir embora. A Galoucura, sem mais interesse no jogo, ocupou-se em trocar insultos com os corintianos.
Concluí que a maior torcida dos estádios do país não tem nada especial. É só gente comum. Se é que isso é pouco e não, tudo.

torero@uol.com.br


Texto Anterior: Palmeiras: Lesionado, Marcos desfalca time amanhã
Próximo Texto: Brasil leva favoritismo às finais do Grand Prix
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.