|
Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Dirigentes promovem mudanças em estatutos e criam possibilidade de infinitas reeleições para ficar no poder
Clubes consagram "presidente eterno'
PAULO COBOS
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
da Reportagem Local
Dos 24 clubes que disputam o
Brasileiro-98, dez têm presidentes
que foram reeleitos pelo menos
uma vez ou estão no poder há
mais tempo do que o previsto
quando de suas eleições. Seis deles
já mudaram ou estão tentando alterar os estatutos de seus clubes
para ficar mais tempo no poder.
Mudanças na forma de eleição
dos conselheiros, decisiva na escolha dos presidentes, e oposição enfraquecida são as principais armas
dessas oligarquias para se perpetuarem no poder.
No Corinthians, que realiza sua
eleição amanhã, o Conselho Deliberativo, dominado pelo grupo do
presidente Alberto Dualib -que
havia tomado posse em 1993-,
modificou o estatuto em dezembro de 1994, em uma manobra que
deu ao dirigente mais quatro anos
no poder e criou a chance de um
novo mandato por igual período.
Primeiro, a mudança adiou uma
eleição que aconteceria em janeiro
de 1995 para agosto de 1998.
Depois, aumentou o número de
conselheiros de 300 para 400, um
artifício para garantir a maioria
dos votos para Dualib, que teria
direito de nomear 205. Estes, junto dos atuais 95 vitalícios e dos 100
que seriam escolhidos na eleição,
elegeriam o presidente.
Alegando que a situação, pelo
novo estatuto, nomearia mais de
50% dos conselheiros, assegurando, independente da eleição, a
continuidade de Dualib no poder,
a oposição contestou na Justiça a
mudança feita pelo Conselho.
No dia 15 de agosto passado,
uma liminar impediu a realização
da eleição pelo novo estatuto e
obrigou a diretoria a adiá-la para
amanhã, quando valerá o estatuto
antigo, que prevê a escolha de 205
novos conselheiros.
Mas não é só Dualib que não
quer largar o poder. O Guarani
tem o mesmo presidente há 11
anos e o Vasco, há 16 anos -é o
caso extremo (leia texto ao lado).
Para conseguirem isso, os dirigentes contaram com a ajuda da
Constituição de 1988 e da Lei Zico,
publicada em 1993. A Lei Pelé, que
regulamente o futebol no Brasil e
revogou, neste ano, a Lei Zico, é
omissa sobre eleições nos clubes.
A Constituição acabou com o limite de uma reeleição nos clubes e
liberou o tempo de mandato.
Já a Lei Zico indicava, e não obrigava, que as eleições deveriam
acontecer em anos olímpicos ou
no ano da competição mundial
mais importante do futebol.
No Corinthians, a Lei Zico foi o
recurso usado por Dualib em 1994
para prorrogar seu mandato.
Até em clubes com enormes
problemas o desejo de continuar
no cargo de presidente aparece.
No Atlético-MG, que tem dívidas superiores a R$ 50 milhões, a
gestão de Paulo Cury está sendo
investigada pelo Ministério Público de Minas Gerais.
Mesmo assim, Cury, em seu segundo mandato, faz articulações
para alterar os estatutos do clube,
que só permitem uma reeleição.
Deve conseguir, já que, segundo
Manfredo Palhares, líder da oposição, Cury tem a maioria no Conselho, que abriga funcionários do
clube indicados pelo presidente.
"Ele usa a máquina do clube para coagir os conselheiros, além de
usar o Atlético-MG em causa própria", afirma Palhares.
Mesmo em administrações consideradas boas, como no caso do
Palmeiras, a oposição reclama.
No clube paulista não existe um
limite para reeleições, graças a
mudanças nos estatutos feitas na
gestão de Mustafá Contursi, atual
presidente e no terceiro mandato.
Contursi também é favorito para
as próximas eleições, marcadas
para janeiro próximo.
"Logo, o clube não terá mais
novas lideranças", afirma Seraphim Del Grande, ex-diretor de
futebol do Palmeiras, que chegou
a recorrer à Justiça contra as mudanças estatutárias.
Isso já acontece em alguns clubes, nos quais a oposição nem
existe mais. No Vitória, que tem
Paulo Carneiro como presidente
desde 91, as duas últimas eleições
realizadas, em 93 e 95, não tiveram
chapa de oposição. Essa situação
deve se repetir no final do ano,
quando Carneiro poderá ser mais
uma vez aclamado presidente.
Há casos opostos, em que a sede
pelo poder ao menos respeita a rotatividade da presidência, como
na maioria dos clubes do Sul do
país e do São Paulo. Nesses, os estatutos não sofreram mudanças e
só permitem uma reeleição.
"Tive oportunidade para mudar
os estatutos no meu segundo
mandato, mas acho isso antiético", diz Fernando Casal de Rey,
presidente do São Paulo até abril.
Colaborou a Agência
Folha, em Salvador
Próximo Texto | Índice
|