São Paulo, domingo, 18 de outubro de 2009

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TOSTÃO

Medo das duas linhas de quatro


A seleção e os clubes do Brasil não atuam com duas linhas de quatro e, ainda, têm medo e não sabem enfrentá-las

O ABRAÇO e o choro convulsivo, depois do jogo contra o Uruguai, entre Maradona e Carlos Bilardo e as palavras de Maradona, negando que ele e o diretor técnico não conversavam, contrariam o que dizia a imprensa argentina e o que repetimos no Brasil.
Ou foi uma reconciliação, uma demonstração de que os dois podem ainda formar uma boa dupla no Mundial? Conversar sobre detalhes burocráticos é também bem diferente do que conversar sobre detalhes técnicos e táticos.
Será que a maioria dos argentinos que queria a saída de Maradona vai agora, em mais uma atitude apaixonada, supersticiosa e mística, pedir a permanência do técnico e dizer que o sofrimento para conseguir a vaga foi o ruído, o instante mágico, que muda uma vida e que pode fazer a Argentina ganhar o Mundial?
Se Maradona aprender com os erros e conversar mais com Carlos Bilardo, poderá ser ainda um bom técnico na Copa do Mundo. Além disso, os treinadores não têm a enorme importância que tantos acham que eles têm.
Contra o Uruguai, a Argentina jogou com duas linhas de quatro, recuadas, além de dois atacantes. É a melhor maneira de se atuar defensivamente e no contra-ataque. Será que Maradona conversou com Bilardo ou com Carlos Bianchi? Só não funcionou bem o contra-ataque.
Não há também nenhum segredo para armar essa estratégia. Qualquer treinador pode desenhá-la em uma prancheta.
As duas linhas de quatro se tornaram sinônimo de retranca. Não é bem assim. Se as duas linhas avançam, o time fica ofensivo. Os meias, pelos lados, passam a ser atacantes, pontas, e os armadores pelo meio (volantes) se aproximam dos dois atacantes. A maioria das seleções da Europa atua dessa forma.
No Brasil, somente os times pequenos, quando querem fazer uma retranca, atuam com duas linhas de quatro. Os grandes não fazem isso porque perderiam as duas principais características táticas do futebol brasileiro, que são o meia de ligação e o avanço dos laterais. A seleção e os times brasileiros não jogam com duas linhas de quatro e, ainda, têm medo e não sabem como enfrentá-las.
Mesmo com um jogador a menos, durante quase toda a partida, o Brasil não fez um gol contra as duas linhas de quatro de Gana, na perda do título mundial sub-20. O Estudiantes ganhou do Cruzeiro, na final da Libertadores, com o mesmo esquema tático. O mesmo aconteceu na derrota do Brasil para a França, na Copa de 2006. Há inúmeros exemplos. Os times brasileiros também ganharam contra times que jogaram nesse esquema, mas são evidentes as dificuldades.
Contra a Venezuela, o Brasil teve novamente os mesmos problemas para enfrentar uma equipe defensiva e com duas linhas de quatro. A seleção não sabe marcar por pressão, troca poucos passes e não há um excepcional armador. O time brasileiro joga bem contra adversários do mesmo nível. Aí, é o Brasil que coloca dois marcadores na frente dos zagueiros para contra-atacar.
Kaká, por seu enorme talento e estilo, foi quem definiu a maneira de jogar da seleção brasileira ou é a falta de um craque no meio-campo que faz a equipe atuar bem somente no contra-ataque?


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