São Paulo, domingo, 18 de novembro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RALI

Organizadores da prova ainda estudam reações dos países islâmicos às operações militares americanas no Afeganistão

América do Sul pode herdar Paris-Dacar

FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Os atentados terroristas de 11 de setembro e a retaliação americana contra o Afeganistão atingiram o rali mais badalado do planeta.
A TSO (Thierry Sabine Organisation), empresa que organiza o Paris-Dacar, não descarta mudanças ou até mesmo o cancelamento do evento. Tudo vai depender de como o mundo estará em 26 de dezembro, dia em que os competidores devem se apresentar em Arras, a 180 km de Paris.
Entre as possibilidades estudadas pelos franceses, no caso de cancelamento da prova, está um rali ligando Caiena, na Guiana Francesa, ao Rio de Janeiro.
"A situação é complicada. Na verdade, ninguém no planeta sabe como as coisas estarão no futuro", disse à Folha o francês Hubert Auriol, diretor-geral da TSO.
"Estamos preocupados e estudando as consequências que a guerra teria na disputa do rali. Isso tudo é um drama que ninguém esperava", completou o dirigente. "Se nós tivermos que tomar uma decisão drástica, vamos tomar."
Criado em 1978 pelo piloto Thierry Sabine, o Paris-Dacar ganhou fama como a mais difícil prova off-road do mundo. A largada da próxima edição está marcada para 28 de dezembro, com passagem por Madri e chegada em Dacar no dia 13 de janeiro.
A grande preocupação está no trecho africano do rali. A competição cruzará Marrocos, Mauritânia, Mali e Senegal, países cuja religião dominante é o islamismo.
"Se for declarada uma guerra santa durante o rali, os estrangeiros que estiverem competindo estarão em apuros", disse o piloto Cacá Clauset, representante da TSO no Brasil. "Eu estaria sendo hipócrita se afirmasse que o rali não corre risco de cancelamento."
Para Clauset, a caravana envolvida na disputa -cerca de 1.800 pessoas- seria um "alvo vulnerável". "A prova sempre teve um risco calculado. Desta vez, seria incalculável. Definitivamente, essa não é uma época favorável para a realização do rali", declarou.
Mesmo que a prova aconteça, porém, ela estará esvaziada. A começar pela participação do Brasil.
Presentes nas duas últimas edições do rali, a equipe Troller decidiu não ir para o deserto em 2002.
O motivo foi econômico: após os atentados, o time brasileiro perdeu seu principal patrocinador, uma empresa multinacional americana (leia texto ao lado).
Competidores dos EUA e da Inglaterra, países que lideram as ofensivas contra o Afeganistão, também estariam desistindo do Paris-Dacar, temendo agressões.
Pioneira da participação brasileira no rali, a equipe BR Lubrax afirma que vai à próxima edição, sua 15ª consecutiva. O time já se inscreveu nas categorias moto (400 cc e 250 cc), carro (superprodução) e caminhão. E não acredita no cancelamento da prova.
"Estamos indo. Já pagamos as inscrições, os vôos, tudo. Só não iremos se o mundo acabar", disse Klever Kolberg, que correrá na superprodução, com um Mitsubishi Pajero. "Minha expectativa de cancelamento do rali é quase zero. Garanto que nossa preparação está correndo normalmente."
Se a hipótese de não-realização do Paris-Dacar for confirmada, a América do Sul pode herdar a prova. Em linha reta, a distância entre Caiena e Rio é de 3.207 km, cerca de 900 km a mais do que o trajeto de Rabat, no Marrocos, a Dacar, trecho africano do rali atual -com os vaivéns das provas especiais, no entanto, o trajeto final chega a 10.000 km.
Segundo afirma Clauset, a América do Sul funcionaria como uma "escapatória" para a TSO.
"Não seria uma substituição. Seria uma prova nova. Já temos todas as planilhas para esse rali, e a TSO está estudando essa possibilidade. Seria um grande benefício para a gente. Por enquanto, estamos batalhando", declarou.
Devido à complicada logística de uma prova desse porte e às chuvas que atingem a região amazônica nessa época, o rali sul-americano não poderia ser disputado em dezembro. Na melhor das hipóteses, para Clauset, a corrida aconteceria em março.


Texto Anterior: Brasileiro tem menos jogos e prêmios
Próximo Texto: Sem patrocínio, piloto se diz aliviado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.