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RALI
Organizadores da prova ainda estudam reações dos países islâmicos às operações militares americanas no Afeganistão
América do Sul pode herdar Paris-Dacar
FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Os atentados terroristas de 11 de
setembro e a retaliação americana
contra o Afeganistão atingiram o
rali mais badalado do planeta.
A TSO (Thierry Sabine Organisation), empresa que organiza o
Paris-Dacar, não descarta mudanças ou até mesmo o cancelamento do evento. Tudo vai depender de como o mundo estará
em 26 de dezembro, dia em que os
competidores devem se apresentar em Arras, a 180 km de Paris.
Entre as possibilidades estudadas pelos franceses, no caso de
cancelamento da prova, está um
rali ligando Caiena, na Guiana
Francesa, ao Rio de Janeiro.
"A situação é complicada. Na
verdade, ninguém no planeta sabe como as coisas estarão no futuro", disse à Folha o francês Hubert Auriol, diretor-geral da TSO.
"Estamos preocupados e estudando as consequências que a
guerra teria na disputa do rali. Isso tudo é um drama que ninguém
esperava", completou o dirigente.
"Se nós tivermos que tomar uma
decisão drástica, vamos tomar."
Criado em 1978 pelo piloto
Thierry Sabine, o Paris-Dacar ganhou fama como a mais difícil
prova off-road do mundo. A largada da próxima edição está marcada para 28 de dezembro, com
passagem por Madri e chegada
em Dacar no dia 13 de janeiro.
A grande preocupação está no
trecho africano do rali. A competição cruzará Marrocos, Mauritânia, Mali e Senegal, países cuja religião dominante é o islamismo.
"Se for declarada uma guerra
santa durante o rali, os estrangeiros que estiverem competindo estarão em apuros", disse o piloto
Cacá Clauset, representante da
TSO no Brasil. "Eu estaria sendo
hipócrita se afirmasse que o rali
não corre risco de cancelamento."
Para Clauset, a caravana envolvida na disputa -cerca de 1.800
pessoas- seria um "alvo vulnerável". "A prova sempre teve um
risco calculado. Desta vez, seria
incalculável. Definitivamente, essa não é uma época favorável para
a realização do rali", declarou.
Mesmo que a prova aconteça,
porém, ela estará esvaziada. A começar pela participação do Brasil.
Presentes nas duas últimas edições do rali, a equipe Troller decidiu não ir para o deserto em 2002.
O motivo foi econômico: após
os atentados, o time brasileiro
perdeu seu principal patrocinador, uma empresa multinacional
americana (leia texto ao lado).
Competidores dos EUA e da Inglaterra, países que lideram as
ofensivas contra o Afeganistão,
também estariam desistindo do
Paris-Dacar, temendo agressões.
Pioneira da participação brasileira no rali, a equipe BR Lubrax
afirma que vai à próxima edição,
sua 15ª consecutiva. O time já se
inscreveu nas categorias moto
(400 cc e 250 cc), carro (superprodução) e caminhão. E não acredita no cancelamento da prova.
"Estamos indo. Já pagamos as
inscrições, os vôos, tudo. Só não
iremos se o mundo acabar", disse
Klever Kolberg, que correrá na
superprodução, com um Mitsubishi Pajero. "Minha expectativa
de cancelamento do rali é quase
zero. Garanto que nossa preparação está correndo normalmente."
Se a hipótese de não-realização
do Paris-Dacar for confirmada, a
América do Sul pode herdar a
prova. Em linha reta, a distância
entre Caiena e Rio é de 3.207 km,
cerca de 900 km a mais do que o
trajeto de Rabat, no Marrocos, a
Dacar, trecho africano do rali
atual -com os vaivéns das provas especiais, no entanto, o trajeto
final chega a 10.000 km.
Segundo afirma Clauset, a América do Sul funcionaria como uma
"escapatória" para a TSO.
"Não seria uma substituição.
Seria uma prova nova. Já temos
todas as planilhas para esse rali, e
a TSO está estudando essa possibilidade. Seria um grande benefício para a gente. Por enquanto, estamos batalhando", declarou.
Devido à complicada logística
de uma prova desse porte e às
chuvas que atingem a região amazônica nessa época, o rali sul-americano não poderia ser disputado em dezembro. Na melhor
das hipóteses, para Clauset, a corrida aconteceria em março.
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