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JUCA KFOURI
No Peru, com foco no Uruguai
Ao nível do mar do Pacífico, sem chuva para atrapalhar e contra um time fraco, só resta à nossa seleção treinar sério
LEMBRO COMO se fosse hoje:
acordei na manhã do dia 14 de
junho de 1970 com um certo
medo do Peru.
Dirigidos por Mestre Didi, o Príncipe Etíope, um dos maiores gênios
da história do futebol mundial como
jogador e técnico dos mais inteligentes, os peruanos enfrentariam a seleção brasileira pelas quartas-de-final da Copa do México.
E o temor não era sem sentido,
embora o time brasileiro fosse claramente melhor.
Mas os peruanos tinham batido os
argentinos nas eliminatórias e ocupado o lugar deles na Copa, uma das
grandes surpresas da época.
Verdade que na primeira fase da
Copa tinham perdido para a Alemanha por 3 a 1, depois de terem vencido o frágil Marrocos e a apenas organizada Bulgária, enquanto o Brasil
superava a Tchecoslováquia, os então campeões mundiais ingleses e a
Romênia.
Sim, nós tínhamos Carlos Alberto,
Clodoaldo, Gérson, Jairzinho, Tostão, Rivellino e Pelé.
Mas eles tinham uma geração como nunca possuíram antes e nem
voltariam a ter, com belos jogadores
como Chumpitaz, Mifflin, Baylon,
Perico Leon, Gallardo e, principalmente, Teófilo Cubillas.
O Brasil ganhou, e por 4 a 2.
Mas não foi fácil, como o placar
pode fazer crer, perguntem ao meu
vizinho de coluna, que fez dois gols
naquela tarde em Guadalajara, por
sinal, seus únicos gols numa Copa
do Mundo inesquecível.
Rivellino fez 1 a 0, Tostão fez 2 a 0,
mas Gallardo diminuiu, ainda no
primeiro tempo. Tostão fez 3 a 1,
mas Cubillas se encarregou de diminuir de novo. E o alívio só veio com
Jairzinho, a 15 minutos do fim do jogo, com o quarto gol.
Tudo isso para dizer que, ao contrário de 37 anos atrás, devo acordar
neste domingo tão tranqüilo como
fui dormir, até com um certo tédio
diante da partida desta noite, num
horário pouco convidativo.
As duas partidas do Peru nestas
eliminatórias foram muito fracas,
tanto no 0 a 0 com o Paraguai, em
Lima, quanto no 0 a 2 diante do Chile, em Santiago.
E há 22 anos os peruanos não ganham dos brasileiros, eles que têm
apenas três vitórias em 37 jogos,
além de oito empates. Sim, são 26 vitórias nacionais, 79 gols a 26.
Na média, hoje o Brasil vence por
2,1 a 0,7, uma bobagem como outra
qualquer. Ou mais.
Porque o que vale mesmo é que a
superioridade do atual time brasileiro é incomparavelmente maior do
que em 1970.
Como não tem nem altitude nem
chuva (em Lima, como se sabe, as
casas nem telhado têm porque as
nuvens são barradas pela cordilheira dos Andes) que possam ameaçar
o desempenho dos pupilos de Dunga, o mínimo que podemos exigir
para melhorar o humor dominical é
uma exibição categórica, dessas de
não deixar pedra sobre pedra na capital dos incas.
Para tanto, esperemos que Kaká e
Robinho estejam devidamente inspirados, mas que, a exemplo de 1970,
o brilho não se resuma às individualidades, com uma apresentação coletiva convincente, treino sério para
enfrentar o Uruguai no Morumbi,
este sim, um clássico de história que
são outros 500.
E bote outros 500 nisso.
blogdojuca@uol.com.br
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