São Paulo, domingo, 18 de novembro de 2007

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JUCA KFOURI

No Peru, com foco no Uruguai

Ao nível do mar do Pacífico, sem chuva para atrapalhar e contra um time fraco, só resta à nossa seleção treinar sério

LEMBRO COMO se fosse hoje: acordei na manhã do dia 14 de junho de 1970 com um certo medo do Peru.
Dirigidos por Mestre Didi, o Príncipe Etíope, um dos maiores gênios da história do futebol mundial como jogador e técnico dos mais inteligentes, os peruanos enfrentariam a seleção brasileira pelas quartas-de-final da Copa do México.
E o temor não era sem sentido, embora o time brasileiro fosse claramente melhor. Mas os peruanos tinham batido os argentinos nas eliminatórias e ocupado o lugar deles na Copa, uma das grandes surpresas da época.
Verdade que na primeira fase da Copa tinham perdido para a Alemanha por 3 a 1, depois de terem vencido o frágil Marrocos e a apenas organizada Bulgária, enquanto o Brasil superava a Tchecoslováquia, os então campeões mundiais ingleses e a Romênia.
Sim, nós tínhamos Carlos Alberto, Clodoaldo, Gérson, Jairzinho, Tostão, Rivellino e Pelé.
Mas eles tinham uma geração como nunca possuíram antes e nem voltariam a ter, com belos jogadores como Chumpitaz, Mifflin, Baylon, Perico Leon, Gallardo e, principalmente, Teófilo Cubillas.
O Brasil ganhou, e por 4 a 2. Mas não foi fácil, como o placar pode fazer crer, perguntem ao meu vizinho de coluna, que fez dois gols naquela tarde em Guadalajara, por sinal, seus únicos gols numa Copa do Mundo inesquecível.
Rivellino fez 1 a 0, Tostão fez 2 a 0, mas Gallardo diminuiu, ainda no primeiro tempo. Tostão fez 3 a 1, mas Cubillas se encarregou de diminuir de novo. E o alívio só veio com Jairzinho, a 15 minutos do fim do jogo, com o quarto gol. Tudo isso para dizer que, ao contrário de 37 anos atrás, devo acordar neste domingo tão tranqüilo como fui dormir, até com um certo tédio diante da partida desta noite, num horário pouco convidativo.
As duas partidas do Peru nestas eliminatórias foram muito fracas, tanto no 0 a 0 com o Paraguai, em Lima, quanto no 0 a 2 diante do Chile, em Santiago.
E há 22 anos os peruanos não ganham dos brasileiros, eles que têm apenas três vitórias em 37 jogos, além de oito empates. Sim, são 26 vitórias nacionais, 79 gols a 26.
Na média, hoje o Brasil vence por 2,1 a 0,7, uma bobagem como outra qualquer. Ou mais.
Porque o que vale mesmo é que a superioridade do atual time brasileiro é incomparavelmente maior do que em 1970.
Como não tem nem altitude nem chuva (em Lima, como se sabe, as casas nem telhado têm porque as nuvens são barradas pela cordilheira dos Andes) que possam ameaçar o desempenho dos pupilos de Dunga, o mínimo que podemos exigir para melhorar o humor dominical é uma exibição categórica, dessas de não deixar pedra sobre pedra na capital dos incas.
Para tanto, esperemos que Kaká e Robinho estejam devidamente inspirados, mas que, a exemplo de 1970, o brilho não se resuma às individualidades, com uma apresentação coletiva convincente, treino sério para enfrentar o Uruguai no Morumbi, este sim, um clássico de história que são outros 500.
E bote outros 500 nisso.


blogdojuca@uol.com.br

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