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FUTEBOL
Os segredos do Felipão
JORGE KAJURU
ESPECIAL PARA A FOLHA
Lisboa, bar do hotel Sofitel,
15h30. Reunidos para matar
saudades, o técnico Luiz Felipe
Scolari, meu amigo José Luís Datena, dois de seus filhos e eu.
Uma conversa que durou cinco
horas e revelou segredos dos quais
jamais desconfiei e para os quais
não foi pedido sigilo. Provavelmente, como é de seu estilo, Felipão não admitirá publicamente o
que você lerá a seguir, mas certamente não desmentirá.
Primeiro segredo: dez dias antes
da convocação final para a Copa-2002, Felipão foi demitido durante a noite e readmitido na manhã
seguinte, em meio a uma ressaca
colossal. A reunião, festiva, que
demitiu o treinador, teve a presença da cúpula da CBF (incluindo seu presidente, Ricardo Teixeira), três presidentes de federações
influentes, além de dois homens-fortes da Globo Esportes.
Já era madrugada, teor alcoólico no auge, quando o martelo foi
batido pela saída de Felipão.
No dia seguinte, um dos presidentes de federação acordou sóbrio e convenceu os demais: o risco era demasiado para se perder o
líder do grupo de jogadores, que,
depois, acabou reconhecido como
uma família.
Segundo segredo: além do episódio com a aeromoça em Montevidéu, na concentração da seleção, na véspera do jogo contra o
Uruguai pelas eliminatórias, o
que pesou para que Romário não
fosse à Copa foi a armação da
CBF com a Globo para que Felipão fosse hostilizado na frente da
sede da entidade. O técnico sabia
de tudo e até mudou o horário de
seu vôo para chegar o mais tarde
possível à rua da Alfândega, onde
se reuniria uma semana antes de
anunciar os 22 atletas que iriam
para a Ásia. Mesmo assim, houve
tumulto e provocações diante do
prédio da CBF. Ali Romário recebeu o golpe de misericórdia.
Terceiro segredo: Felipão sabia
que não gozava da simpatia da
Globo. Manteve sua postura independente, mas aceitou o insistente convite da direção global para
um almoço antes do embarque
para a Copa. Reuniu-se, na emissora, com o comando do jornalismo e do departamento de esportes. Foi aí que ficou seduzido pela
simpatia da jornalista Fátima
Bernardes. Não cobrou nada pelas entrevistas exclusivas que concedeu, mas pediu diversas fitas de
jogos de rivais do Brasil e, depois,
de reportagens que mostravam a
confiança da torcida brasileira.
Quarto segredo: foi Felipão
quem convenceu o Milan a emprestar Dida para o Corinthians,
quase de graça. Ele não queria
convocar um goleiro inativo, e só
por isso Júlio César, do Flamengo,
não foi à Copa. Felipão é tão bem
visto no rubro-negro italiano que
foi dele a palavra final de que valeria a pena apostar em Kaká.
Quinto segredo: Parreira deveria reconhecer o acerto de escalar
três zagueiros. Assim, liberaria
Cafu e Roberto Carlos e, com a
entrada de Edmílson, tornaria a
vida de Lúcio mais leve. Eis a receita Scolari para evitar sufoco
nas eliminatórias.
Sexto segredo
Felipão não admite voltar ao
Brasil tão cedo. Antes disso, já
fez promessa para ficar, ao menos, entre os quatro primeiros
na Eurocopa-2004 pela seleção
de Portugal. Com o que fará o
melhor contrato de sua vida e
irá com os patrícios à Copa da
Alemanha, em 2006. E tem certeza de que, mesmo que não seja bem-sucedido com o time luso, virão convites de clubes como o Leeds, o Barcelona e a Inter de Milão.
Segredo secreto
Prometi revelar, na coluna passada, por que só o Cruzeiro teve
caixa para ganhar o Brasileirão.
Mas me convenci de que mais
que um segredo, estamos diante de um mistério. Quem sabe
um dia, uma ida a Portugal,
desvende também este segredo.
E o de Fátima, a Nossa Senhora.
E-mail kajuru@band.com.br
Jorge Kajuru, 42, é apresentador do
"Esporte Total", da TV Bandeirantes
Soninha, de férias, excepcionalmente
hoje não escreve neste espaço
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