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"dois Brasis"
Kaká e Marta democratizam sonhos
Melhores do mundo têm origens bem diferentes, mas são iguais no discurso de que todos podem obter o que desejam
Craque do Milan e estrela da seleção brasileira feminina triunfam, por uma larga vantagem, na eleição da Fifa dos destaques de 2007
Walter Bieri/Associated Press
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O brasileiro Kaká na cerimônia do prêmio de melhor jogador do mundo concedido pela Fifa, um dia depois de comandar o Milan na conquista do Mundial de Clubes
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A ZURIQUE
Pelos caminhos improváveis
do futebol, duas realidades brasileiras bem diferentes se cruzaram ontem para um final feliz na Ópera de Zurique. Na
premiação da Fifa aos melhores do ano, Kaká, o rapaz de
classe média de São Paulo e inabalável fé evangélica alcançou o
topo da bola ao lado de Marta, a
moça de família humilde da cidade alagoana de Dois Riachos.
Foi noite brasileira. Além de
Kaká e Marta, subiram ao palco
Buru, eleito o melhor jogador
do futebol de praia do mundo,
Cristiane, que ficou em terceiro
no futebol feminino, e Pelé, que
recebeu prêmio do presidente
da Fifa, Joseph Blatter.
O troféu recebido pelo melhor jogador do mundo de todos os tempos talvez tenha sido
a única surpresa da noite. Horas antes da cerimônia, Marta e
Kaká já eram tidos como francos favoritos. A própria jogadora alagoana, que concorreu pela
quarta vez ao prêmio, antecipava aos jornalistas ao subir as escadarias do teatro que havia sido eleita pela segunda vez.
Ainda assim, fingiu surpresa
quando seu nome foi anunciado por Franz Beckenbauer.
Com voz embargada e vestido
preto decotado que destacava
um par de bíceps definidos,
Marta, 21, agradeceu a Deus, às
colegas de seleção e clube e à
mãe, antes de dizer: ""Podem ter
certeza de que trabalharei firme para voltar aqui outras vezes". Marta teve 988 pontos,
contra 507 da vice, a alemã Birgit Prinz, e 150 de Cristiane.
O momento mais aguardado
foi também o que causou menos surpresa. Quando o nome
de Kaká foi anunciado pelo presidente da Fifa, confirmou-se
um ano iluminado para o jogador de 25 anos, que anteontem
se sagrou campeão mundial pelo Milan com atuação de gala.
A pontuação ressaltou o amplo favoritismo de Kaká. Ele recebeu 179 dos votos dados por
treinadores e capitães de seleções, contra 40 para o argentino Messi, do Barcelona, e 39
para o português Cristiano Ronaldo, do Manchester United.
No total, teve 1.047 pontos,
mais que o dobro do segundo.
Para o melhor do mundo, o
fato de dois atletas de um mesmo país e perfis econômicos
tão diferentes terem conquistado o prêmio mais cobiçado do
futebol prova que nos campos
as diferenças sociais desaparecem. ""Isso só demonstra que
qualquer um pode conquistar
seus sonhos", disse Kaká, enquanto atendia com paciência a
jornalistas de todo o mundo.
Marta, que não conseguia parar de sorrir, repetiu um discurso parecido. ""Kaká continua
sendo uma boa pessoa fora dos
gramados, apesar de todo o sucesso", elogiou. ""O sonho é
igual para todos", afirmou ela.
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