São Paulo, terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"dois Brasis"

Kaká e Marta democratizam sonhos

Melhores do mundo têm origens bem diferentes, mas são iguais no discurso de que todos podem obter o que desejam

Craque do Milan e estrela da seleção brasileira feminina triunfam, por uma larga vantagem, na eleição da Fifa dos destaques de 2007

Walter Bieri/Associated Press
O brasileiro Kaká na cerimônia do prêmio de melhor jogador do mundo concedido pela Fifa, um dia depois de comandar o Milan na conquista do Mundial de Clubes

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A ZURIQUE

Pelos caminhos improváveis do futebol, duas realidades brasileiras bem diferentes se cruzaram ontem para um final feliz na Ópera de Zurique. Na premiação da Fifa aos melhores do ano, Kaká, o rapaz de classe média de São Paulo e inabalável fé evangélica alcançou o topo da bola ao lado de Marta, a moça de família humilde da cidade alagoana de Dois Riachos.
Foi noite brasileira. Além de Kaká e Marta, subiram ao palco Buru, eleito o melhor jogador do futebol de praia do mundo, Cristiane, que ficou em terceiro no futebol feminino, e Pelé, que recebeu prêmio do presidente da Fifa, Joseph Blatter.
O troféu recebido pelo melhor jogador do mundo de todos os tempos talvez tenha sido a única surpresa da noite. Horas antes da cerimônia, Marta e Kaká já eram tidos como francos favoritos. A própria jogadora alagoana, que concorreu pela quarta vez ao prêmio, antecipava aos jornalistas ao subir as escadarias do teatro que havia sido eleita pela segunda vez.
Ainda assim, fingiu surpresa quando seu nome foi anunciado por Franz Beckenbauer. Com voz embargada e vestido preto decotado que destacava um par de bíceps definidos, Marta, 21, agradeceu a Deus, às colegas de seleção e clube e à mãe, antes de dizer: ""Podem ter certeza de que trabalharei firme para voltar aqui outras vezes". Marta teve 988 pontos, contra 507 da vice, a alemã Birgit Prinz, e 150 de Cristiane.
O momento mais aguardado foi também o que causou menos surpresa. Quando o nome de Kaká foi anunciado pelo presidente da Fifa, confirmou-se um ano iluminado para o jogador de 25 anos, que anteontem se sagrou campeão mundial pelo Milan com atuação de gala.
A pontuação ressaltou o amplo favoritismo de Kaká. Ele recebeu 179 dos votos dados por treinadores e capitães de seleções, contra 40 para o argentino Messi, do Barcelona, e 39 para o português Cristiano Ronaldo, do Manchester United. No total, teve 1.047 pontos, mais que o dobro do segundo.
Para o melhor do mundo, o fato de dois atletas de um mesmo país e perfis econômicos tão diferentes terem conquistado o prêmio mais cobiçado do futebol prova que nos campos as diferenças sociais desaparecem. ""Isso só demonstra que qualquer um pode conquistar seus sonhos", disse Kaká, enquanto atendia com paciência a jornalistas de todo o mundo.
Marta, que não conseguia parar de sorrir, repetiu um discurso parecido. ""Kaká continua sendo uma boa pessoa fora dos gramados, apesar de todo o sucesso", elogiou. ""O sonho é igual para todos", afirmou ela.


Texto Anterior: Painel FC
Próximo Texto: Kaká usa Bíblia para dizer que foi além de seu sonho
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.