São Paulo, sábado, 19 de janeiro de 2002

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A própria história do interestadual conspira contra sua estabilidade

Começa hoje o Torneio Rio-SP da incerteza

Wanter Tozeto Jr./"Jornal de Jundiaí"
Atletas do Etti Jundiaí, cuja inclusão no Rio-São Paulo foi a mais polêmica da competição, treinam para a estréia contra o São Paulo


Crise técnica, financeira, de identidade e de credibilidade põe em xeque futuro da primeira edição organizada pelos próprios clubes

DA REPORTAGEM LOCAL

O maior e mais alardeado Torneio Rio-São Paulo da história começa hoje à tarde, com o jogo Etti Jundiaí x São Paulo, acometido por uma crise de identidade.
Com a participação de 16 equipes (nove de São Paulo e sete do Rio de Janeiro) e a inédita administração dos próprios clubes, a competição entra na "nova era" das ligas já cheia de incertezas.
Símbolos da tentativa de ruptura entre clubes e federações, os regionais organizados pelas ligas não alcançaram o objetivo.
O Rio-São Paulo, que parecia ser o único do país a reinar supremo sobre os Estaduais, levou um baque na semana passada, quando os grandes clubes do Rio de Janeiro anunciaram que todos participarão da competição fluminense -que terá choque de datas com o regional.
A decisão dos cariocas coloca em xeque as próximas edições do Rio-São Paulo, pois, em caso de sucesso este ano, o Estadual do RJ tende a rivalizar com o regional e pôr por terra o desejo das ligas.
Na outra ponta da via Dutra, o Rio-São Paulo também tem um fantasma a lhe pressionar: os clubes paulistas preteridos do regional e desprezados pela federação comandada por Eduardo Farah.
Foi criada uma fórmula para contentá-los, mas cujos resultados são uma incógnita.
Simultaneamente ao Rio-São Paulo, amanhã começa a ser disputado o "Campeonato Paulista" da federação. Ao final do Rio-SP, os melhores dos dois torneios disputarão um "supercampeonato". Assim, não ficou definido quem será o campeão estadual -se o vencedor do "Paulista" ou do supercampeonato.
O Rio-SP também luta contra a crise técnica e financeira dos clubes e contra a falta de credibilidade dos dirigentes, fruto principalmente da ausência de critérios técnicos para a escolha dos participantes -que levou em conta o poder político e econômico.
Esta péssima imagem dos cartolas talvez explique a dificuldade que as ligas encontraram para atrair patrocinadores.
Por fim, a própria história conspira contra a estabilidade do Rio-SP. A primeira edição do torneio, em 1933, teve 12 times e relativo sucesso. Porém nos anos seguintes a competição parou.
A disputa entre a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) e a Federação Brasileira de Futebol (FBF), entidades que brigavam pelo controle do futebol nacional na época, prejudicou o Rio-SP, assim como a Copa de 1934.
Mas outras questões, como a pouca qualidade de alguns times (Bonsucesso, São Bento e Ypiranga, por exemplo), também pesaram contra o interestadual.
Em 1940, uma segunda edição do torneio começou, mas não passou do primeiro turno. O futebol paulista estava efervescente com a construção do Pacaembu, mas os cariocas não se interessaram muito pelo torneio -os jogos no Rio tinham pouca renda.
Só em 1950, com a construção do Maracanã e um interesse nacional pelo futebol, o Rio-SP voltou a ser disputado de fato. A competição ocorreu anualmente até 1966, exceção feita a 1956, quando o calendário nacional esteve ocupado pelos Estaduais.
No final dos anos 60, o Rio-SP ficou pequeno para o país, que já tinha vários times fortes em outros Estados. O Roberto Gomes Pedrosa nasceu em 1967 abrindo a porta para mais clubes e serviu de laboratório para o Brasileiro, que começou a ser jogado em 71.
Em 1993, com os grandes clubes paulistas e cariocas buscando uma receita maior, foi disputado um Rio-São Paulo experimental. O torneio curto não despertou muito interesse no início, mas o projeto foi melhorado para 1997.
O Rio-São Paulo passou a abrir a temporada nacional, a proporcionar bom público nos estádios e a dar aos clubes bom retorno financeiro, uma vez que a Globo virou uma parceira da competição.
A partir de 2000, o Rio-SP gerou mais interesse, uma vez que o vencedor passou a ter vaga na Copa dos Campeões, torneio da CBF que leva um time à Libertadores.


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