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FUTEBOL
Novos ventos
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Começam hoje os dois principais torneios regionais brasileiros: o Rio-SP e o Sul-Minas.
Um estrangeiro talvez tivesse
dificuldade em entender o desenho geográfico desses dois campeonatos: uma cruz cujo traço
vertical é o Sul-Minas e o horizontal é o Rio-São Paulo.
Os brasileiros que acompanham o futebol compreendem
muito bem essa esdrúxula geografia. O eixo Rio-São Paulo representa a tradição, os clubes
mais poderosos, o predomínio na
mídia.
O eixo vertical, por sua vez, corresponde à ascensão de novas forças. No Sul-Minas estão, por
exemplo, o novo campeão brasileiro (Atlético-PR), o líder de público da última temporada (Atlético-MG) e um dos dois novos
membros da Série A nacional (o
Figueirense).
Seria um exagero dizer que o
Rio-São Paulo representa o "antigo regime" do futebol brasileiro e
que o Sul-Minas encarna a "nova
ordem".
Afinal, no Sul-Minas estão clubes de arraigada tradição de conquistas, como o Internacional, o
Grêmio, o Cruzeiro e o próprio
Atlético-MG, que conquistou há
31 anos o primeiro Brasileirão.
No Rio-São Paulo, por sua vez,
nem tudo é tradição. A grande
sensação dos dois últimos campeonatos nacionais, o jovem São
Caetano, está no torneio, ainda
que tenha conquistado sua vaga
a duras penas.
Mas é inegável que, pela primeira vez na história do nosso futebol, a hegemonia de paulistas e
cariocas está sendo claramente
desafiada.
Essa mudança de equilíbrio é
muito saudável, não só para as
regiões em alta, mas para todo o
futebol brasileiro, pois suscita
-ou deveria suscitar- uma mudança de mentalidade do torcedor, da mídia e dos dirigentes.
Escrevi acima "deveria suscitar" porque os cartolas de alguns
clubes tradicionais, numa atitude
típica, têm resistido a encarar os
novos tempos.
Dou dois exemplos, extraídos
do noticiário publicado neste caderno nos últimos dias.
Incomodado pelo fato de o Corinthians ter ficado com a 16ª média de público no último Brasileirão, o diretor de futebol alvinegro
Antonio Roque Citadini preferiu
acusar de demagógica a atitude
do Atlético-MG, que baixou para
R$ 1 o preço do ingresso.
Ora, num país em que o nível de
vida da maioria está lá embaixo,
o futebol só vai continuar sendo o
esporte das multidões se o preço
do ingresso baixar. Do meu ponto
de vista, é preferível ter 10 mil torcedores pagando R$ 1 cada a ter
apenas mil pagando R$ 10. Para a
própria TV, é mais interessante
transmitir jogos com estádios lotados do que exibir arquibancadas vazias.
Outro dirigente paulista que
optou por tapar o sol com a peneira foi o diretor de futebol do São
Paulo, José Dias. Para desmerecer
o Sul-Minas, ele pergunta: "Que
renda pode dar um jogo entre
Atlético-PR e Cruzeiro se os mineiros não estiverem bem classificados?".
Agora pergunto eu ao leitor: entre esse hipotético jogo e um Etti
Jundiaí x Americano, qual dos
dois você escolheria para assistir?
Não há por que transformar a
disputa entre os dois campeonatos regionais numa guerra civil. O que é preciso é perceber os ventos
da mudança e ajudar a renovar o
futebol brasileiro como um todo.
Quem não entender isso, mais
cedo ou mais tarde, vai ficar falando sozinho.
Falta o arco
Com a provável vinda de
Christian para o Parque Antarctica, o Palmeiras reforça
seu ataque, mas continua dependendo de quem o municie. Alex, volto a insistir, se
encaixaria nessa equipe como uma luva. Só falta uma
coisa: o Parma deixar.
Fim do sonho
No Parque São Jorge, chega
ao fim, ao que parece, o sonho da volta de Marcelinho.
Vampeta, que não é nada bobo, bem que tentou. Ele sabe
que o ex-companheiro pode
ser uma mala sem alça, mas
joga bola como poucos.
Tricolor sem França
O São Paulo mexeu poucas
peças, mas que podem comprometer o funcionamento
do conjunto. Reinaldo é um
ótimo atacante, mas tenho a
impressão de que só agora o
torcedor vai ter a dimensão
de como o jogo de França era
importante para o time.
E-mail: jgcouto@uol.com.br
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