São Paulo, sábado, 19 de janeiro de 2002

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FUTEBOL

Novos ventos

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Começam hoje os dois principais torneios regionais brasileiros: o Rio-SP e o Sul-Minas.
Um estrangeiro talvez tivesse dificuldade em entender o desenho geográfico desses dois campeonatos: uma cruz cujo traço vertical é o Sul-Minas e o horizontal é o Rio-São Paulo.
Os brasileiros que acompanham o futebol compreendem muito bem essa esdrúxula geografia. O eixo Rio-São Paulo representa a tradição, os clubes mais poderosos, o predomínio na mídia.
O eixo vertical, por sua vez, corresponde à ascensão de novas forças. No Sul-Minas estão, por exemplo, o novo campeão brasileiro (Atlético-PR), o líder de público da última temporada (Atlético-MG) e um dos dois novos membros da Série A nacional (o Figueirense).
Seria um exagero dizer que o Rio-São Paulo representa o "antigo regime" do futebol brasileiro e que o Sul-Minas encarna a "nova ordem".
Afinal, no Sul-Minas estão clubes de arraigada tradição de conquistas, como o Internacional, o Grêmio, o Cruzeiro e o próprio Atlético-MG, que conquistou há 31 anos o primeiro Brasileirão.
No Rio-São Paulo, por sua vez, nem tudo é tradição. A grande sensação dos dois últimos campeonatos nacionais, o jovem São Caetano, está no torneio, ainda que tenha conquistado sua vaga a duras penas.
Mas é inegável que, pela primeira vez na história do nosso futebol, a hegemonia de paulistas e cariocas está sendo claramente desafiada.
Essa mudança de equilíbrio é muito saudável, não só para as regiões em alta, mas para todo o futebol brasileiro, pois suscita -ou deveria suscitar- uma mudança de mentalidade do torcedor, da mídia e dos dirigentes.
Escrevi acima "deveria suscitar" porque os cartolas de alguns clubes tradicionais, numa atitude típica, têm resistido a encarar os novos tempos.
Dou dois exemplos, extraídos do noticiário publicado neste caderno nos últimos dias.
Incomodado pelo fato de o Corinthians ter ficado com a 16ª média de público no último Brasileirão, o diretor de futebol alvinegro Antonio Roque Citadini preferiu acusar de demagógica a atitude do Atlético-MG, que baixou para R$ 1 o preço do ingresso.
Ora, num país em que o nível de vida da maioria está lá embaixo, o futebol só vai continuar sendo o esporte das multidões se o preço do ingresso baixar. Do meu ponto de vista, é preferível ter 10 mil torcedores pagando R$ 1 cada a ter apenas mil pagando R$ 10. Para a própria TV, é mais interessante transmitir jogos com estádios lotados do que exibir arquibancadas vazias.
Outro dirigente paulista que optou por tapar o sol com a peneira foi o diretor de futebol do São Paulo, José Dias. Para desmerecer o Sul-Minas, ele pergunta: "Que renda pode dar um jogo entre Atlético-PR e Cruzeiro se os mineiros não estiverem bem classificados?".
Agora pergunto eu ao leitor: entre esse hipotético jogo e um Etti Jundiaí x Americano, qual dos dois você escolheria para assistir?
Não há por que transformar a disputa entre os dois campeonatos regionais numa guerra civil. O que é preciso é perceber os ventos da mudança e ajudar a renovar o futebol brasileiro como um todo.
Quem não entender isso, mais cedo ou mais tarde, vai ficar falando sozinho.

Falta o arco
Com a provável vinda de Christian para o Parque Antarctica, o Palmeiras reforça seu ataque, mas continua dependendo de quem o municie. Alex, volto a insistir, se encaixaria nessa equipe como uma luva. Só falta uma coisa: o Parma deixar.

Fim do sonho
No Parque São Jorge, chega ao fim, ao que parece, o sonho da volta de Marcelinho. Vampeta, que não é nada bobo, bem que tentou. Ele sabe que o ex-companheiro pode ser uma mala sem alça, mas joga bola como poucos.

Tricolor sem França
O São Paulo mexeu poucas peças, mas que podem comprometer o funcionamento do conjunto. Reinaldo é um ótimo atacante, mas tenho a impressão de que só agora o torcedor vai ter a dimensão de como o jogo de França era importante para o time.

E-mail: jgcouto@uol.com.br


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