São Paulo, domingo, 19 de março de 2000


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EXCLUSIVO

Brasil exportou 'gatos' à Copa-98

Agência Lance - 13.jun.98
Oliveira atua no empate sem gols entre Bélgica e Holanda, sua estréia na Copa de 1998


 Oliveira, 30 (34?), defendeu a Bélgica na França

 Clayton, 25 (28), disputou Mundial pela Tunísia
 Fraude pode anular a naturalização de atletas
FERNANDO MELLO
enviado especial a São Luís

A fraude dos "gatos" extrapolou as fronteiras do Brasil e alcançou o maior torneio de futebol do planeta, a Copa do Mundo.
Após três meses de investigação, a Folha comprovou que o país exportou dois "gatos" para o Mundial da França, em 1998. Oliveira e Clayton, naturalizados, defenderam as seleções da Bélgica e da Tunísia, respectivamente.
Os dois jogadores nasceram e adulteraram as datas de nascimento de seus documentos em São Luís, no Maranhão.
Desse Estado, mais exatamente da fronteira com Tocantins, surgiu Sandro Hiroshi, o atacante são-paulino que, conforme revelou a Folha em 1999, também falsificou seus papéis pessoais.
Hiroshi tornou-se o pivô do escândalo que tumultuou o Brasileiro do ano passado, que ameaça a realização do próximo campeonato e que pode tirar a seleção nacional de competições internacionais nas categorias de base.
A origem comum não é coincidência. Além de Oliveira, Clayton e Hiroshi, outros três casos revelados pela Folha nos últimos meses são oriundos ou passam em algum momento pelo Maranhão.
Na verdade, "gato", o jovem que frauda seus documentos para burlar os limites de idade nas categorias de base, parece fazer parte da cultura esportiva do Estado.
Airton Luis Oliveira Barroso, o "Oliverrá", como é conhecido na Europa o mais famoso jogador da história do futebol maranhense, companheiro de Edmundo na Fiorentina e hoje no Cagliari, tem, no mínimo, 34 anos, e não 30, como atestam seus documentos na Real Federação Belga e na Fifa.
Já o lateral-esquerdo José Clayton Ribeiro Menezes, titular nos quatro jogos da Tunísia no Mundial da França, que se naturalizou em junho de 1998, tem 28 anos, três a mais do que declara.
Com uma compleição física avantajada, "gatos" se sobressaem e obtêm melhores oportunidades no mercado profissional.
Com a receita, Oliveira e Clayton foram além, não apenas se transferindo para o exterior, mas sendo convidados para se naturalizarem e defenderem seleções.
A Fifa não estabelece limite de idade para a Copa, mas advogados afirmam que, por conta da adulteração de dados, a naturalização dos jogadores é nula. Com isso, os atletas teriam atuado de forma irregular no torneio. Da mesma forma, estariam fora das eliminatórias para o Mundial-2002, que começam neste ano.
Pelo Código Penal, "gatos" cometeram crime de falsidade ideológica. Se condenados, podem pegar até um ano de prisão.


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