São Paulo, segunda-feira, 19 de março de 2007

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JUCA KFOURI

Não tem pequeno contra grande

Record x Globo, TV pública x estatal, Justiça x crime, jogadores x clubes, é o futuro que está em jogo

COMO JÁ é sabido, o Comitê Olímpico Internacional bateu o martelo e a Rede Record de Televisão ganhou o direito de transmitir a Olimpíada de Londres, em 2012. Por US$ 60 milhões, prejuízo na certa, mas isso é o de menos. Beneficiada pela arrecadação do dízimo, que não paga impostos ao explorar a fé e a ignorância alheias, a Record sinaliza para o corrupto mundo do futebol que não está para brincadeira e de burras abertas. E a Globo Esporte, que a alimentou irresponsavelmente durante os últimos anos, que se vire.
Para quem gasta R$ 250 milhões por ano nas madrugadas de descarrego da rede da Igreja Universal do Reino de Deus, seja lá o que isso for, R$ 120 milhões por tamanha jogada não representam quase nada. A tendência natural é a de que se torça para a Record derrubar o império, como se fosse Davi contra Golias, e até há quem se esforce para convencer a opinião pública de que a TV do bispo não vive mais das economias de seus evangélicos. Só que não há luta alguma de pequeno contra grande. O que há é um confronto entre a hegemonia global e o fundamentalismo embutido nas ações da IURD. A Globo Esporte, de fato, jamais se preocupou em ser simpática ao torcedor e se aliou com o que há de pior em nosso esporte para vencer.
Mas, muito mais que o esporte, o futebol ou a audiência de TV, é o poder que está em jogo. Jogo que, se a Igreja Católica, aliás, pudesse jogar, também o faria.

TV pública
Ao contrário do que muitos acham, se quisermos ter uma democracia de verdade, a TV pública brasileira será uma necessidade. Desde que seja, mesmo, pública. Como a BBC. Até o esporte se beneficiará, e, se é difícil imaginar, hoje, uma TV verdadeiramente pública no país, que não seja correia de transmissão dos poderosos da hora, um dia teremos que começá-la, como os britânicos fizeram, não sem crises e problemas. Para nossos filhos e netos.

Os russos chegaram
Hoje, no Gaeco, em São Paulo, membros da Procuradoria Geral da Rússia se reunirão com promotores públicos de São Paulo, os mesmos que fizeram o inquérito da parceira formada entre MSI e Corinthians e concluíram que há fortes indícios de lavagem de dinheiro no negócio. O objetivo é o de estreitar relações no combate aos crimes internacionais, e o encontro coroa o esforço da embaixada russa no Brasil, que vê no Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado um dos principais obstáculos às anunciadas pretensões de Boris Berezovski no país. Se bem que há quem jure que o bilionário russo só pense em derrubar Vladimir Putin, o presidente da fechada Rússia.

Portugal ensina
A Justiça portuguesa decidiu que o jogador de futebol que quiser mudar de emprego não precisará mais pagar multas contratuais. Bastará que pague o que tem a receber do clube até o fim do contrato. Uma revolução do tamanho do caso Bosman (1995). E com imediato impacto na Comunidade Européia, coisa que deverá chegar ao Brasil nos próximos três anos, a julgar pelo espaço de tempo que separou o caso do belga da Lei Pelé, de 1998. E pensar que por aqui não são poucos os que ainda vivem nostalgicamente esperando pela volta da Lei do Passe, em vez de pensar em se adequar aos novos tempos de profissionalismo em todos os níveis do futebol. Porque, ao mesmo tempo em que protestam contra a decisão, os clubes portugueses, como o Benfica, tratam de ir para a Bolsa de Valores e de incrementar seu quadro de associados.

blogdojuca@uol.com.br


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