São Paulo, sábado, 19 de maio de 2001

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FUTEBOL

Ídolo no Corinthians e no Botafogo, ex-atleta se diz dividido na decisão

Neutro na final do Paulista, Sócrates quer "incomodar"

Ed Viggiani/Folha Imagem
O ex-meia Sócrates, que foi ídolo de Corinthians e Botafogo, os finalistas do Paulista-2001


JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DO PAINEL FC

As finais do Paulista acabaram se transformando em mais uma oportunidade para o ex-jogador Sócrates fazer barulho.
Tendo iniciado carreira em Ribeirão Preto, onde defendeu o Botafogo, e virado um dos maiores ídolos da história do Corinthians, após sua contratação por Vicente Matheus, ele hoje se diz neutro.
E avisa: não tem muito o que falar sobre a decisão -""tudo pode acontecer, não consigo ver um favorito mesmo".
Ele prefere deixar a decisão de lado para discutir a política do esporte e a administração do futebol brasileiro. Sobre isso, não mede palavras. Anticandidato à presidência da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Sócrates quer mexer com as estruturas do poder. ""Estou incomodando e estou gostando de incomodar", disse à Folha em um dos intervalos de um debate sobre negócios no esporte, realizado pela Fundação Getúlio Vargas e pelo escritório de advocacia Pinheiro Neto. ""Não vou parar de chiar."
Para Sócrates, desde que ele se lançou candidato, o grupo que comanda a CBF começou a se mexer. ""Preciso ter três federações estaduais me apoiando para poder oficializá-la. Não consegui nenhuma. Se conseguir, eles podem mudar o estatuto, obrigar que o candidato tenha sido presidente de federação ou de clube de futebol, o que não é meu caso."
Procurada pela Folha, a CBF informou que não comentaria a possibilidade de alteração do estatuto para as eleições de 2003.

Folha - Como você vê a decisão do Campeonato Paulista, justamente entre os dois times que mais marcaram a sua carreira?
Sócrates -
Numa boa. Vou ver à distância, do estúdio da ESPN, onde vou comentar o jogo. Mas acho que tudo pode acontecer.

Folha - Não vê a equipe do Corinthians como favorita?
Sócrates -
Não sei, só vou poder falar alguma coisa sobre isso depois que o jogo começar. Em 76 [quando o Botafogo foi campeão do primeiro turno do Paulista, no empate contra o São Paulo, no Morumbi, por 0 a 0", ninguém esperava que a gente ganhasse.

Folha - Mas vai torcer para algum dos dois...
Sócrates -
Coração dividido. Vou mais observar e analisar o que os times farão em campo.

Folha - Quando o Luxemburgo assumiu o Corinthians, você via com ressalvas o trabalho dele...
Sócrates -
É que penso muito na parte ética. Escrevi até um artigo no meu site [www.socrates.esp.br" falando sobre o assunto. É como aconteceu no acordo entre o Pelé e o Ricardo Teixeira. As pessoas, em geral, ficaram com muitas dúvidas. O espaço da Pelé Sports & Marketing dentro do futebol brasileiro agora vai aumentar? O que estava por trás do acordo? São coisas para a gente refletir. É isso o que eu estou propondo.

Folha - O Leão, quando é indagado sobre a sua candidatura, costuma dar risada. É muito provável que ela seja inviabilizada, já que, pelo menos oficialmente, nenhuma federação lançou seu nome.
Sócrates -
Mas é para isso mesmo que ela funciona. Quero gerar polêmica, provocar barulho...

Folha - Mas é o que ele diz quando responde com risos. Que você quer aparecer e está se aproveitando para bater nele, que estaria mais em evidência...
Sócrates -
Acho bom provocar o reacionário, gerar discussão. É o que está faltando no futebol. Nesse sentido, acho que as CPIs [sobre futebol na Congresso" tiveram um papel importante, gerando polêmica. Não basta mudar o presidente da CBF, tirar o Teixeira e colocar alguém do mesmo grupo ou com o mesmo sistema de trabalho. Temos que mudar a estrutura. E isso só com debate.
A cúpula pode não querer mudar, mas a sociedade tem o direito e o dever de pressionar por mudanças. É aí que eu entro.

Folha - Você tem sido figura constante em quase todos os seminários de marketing esportivo...
Sócrates -
Porque estou a fim de aprender e conhecer o outro lado da moeda. Já tive experiência como técnico, aprendi muito como jogador, participei da vida política do Brasil, seja no movimento Diretas-Já, seja na Secretaria de Esportes de Ribeirão Preto [na administração Antônio Palocci Filho, do PT, entre 1993 e 1996"...
Se você quer ser um bom dirigente, tem de administrar com o coração e com o conhecimento.

Folha - O seu filho Gustavo também está sempre presente...
Sócrates -
Ele também mexe com futebol, só que mais no campo jurídico, que é a especialidade dele.

Folha - E o seu site na internet, [lançado no ano passado" como é que ele está indo?
Sócrates -
Devagar, mas está indo. É um site de pobre, mas decente. Coloco também minhas idéias, é uma outra forma de gerar discussão, temos um espaço para as entidades filantrópicas, para as ações do terceiro setor... Começamos falando sobre o trabalho da Fundação Gol de Letra [montada por Raí, seu irmão, e Leonardo, do Milan". Depois, nós abrimos para outras iniciativas.


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