São Paulo, domingo, 19 de maio de 2002

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FUTEBOL

Clubes de São Paulo compram material oficial da Penalty vendido pela FPF sem a emissão de nota fiscal ou recibo

Federação cria comércio irregular de bola

CESAR AUGUSTO
DA FOLHA RIBEIRÃO

A FPF (Federação Paulista de Futebol) está vendendo irregularmente bolas oficiais a equipes do interior e da capital.
Dirigentes de pelo menos 11 clubes paulistas afirmaram que a entidade negocia as bolas por quase a metade do preço de mercado, mas a FPF só aceita pagamento em cheque ou dinheiro e não emite nota fiscal nem recibo. No total, 15 equipes foram ouvidas pela Folha nas últimas duas semanas.
A Penalty doa bolas à FPF em troca de espaço publicitário durante as partidas.
Segundo a Receita Federal, a não emissão de nota caracteriza crime de sonegação fiscal.
Os clubes compraram, somente neste ano, no mínimo 30 bolas cada. O Botafogo de Ribeirão Preto é o recordista: 280. Fazendo o cálculo mínimo entre os 11 times que confirmaram terem feito a compra, são pelo menos 580 bolas vendidas, o que teria rendido R$ 31.900 (R$ 55 cada uma) à FPF, dinheiro que, em tese, não consta das contas da entidade.
A Penalty, por meio de uma nota oficial, informou que fornece bolas a federações de futebol. Mas desconhece, porém, o que a FPF faz com o material.
Em nota enviada via fax, a federação garantiu que não vende bolas (leia texto nesta página).
Após ser contatada pela primeira vez, na sexta retrasada, a entidade inseriu em seu site a seguinte frase: "a Federação Paulista de Futebol doou aos clubes, em 2002, 2.680 bolas da Penalty".
Em parte, é verdade. Segundo os dirigentes ouvidos, uma primeira remessa de bolas -cerca de 30- é doada. Depois, os times alegam que vão comprando o material na federação no decorrer do campeonato, pois essa quantidade não é suficiente. A FPF exige que o mandante dos jogos mantenha bolas novas, pelo menos sete, dependendo da série disputada.
Os clubes alegam que, juntando partidas oficiais, treinos táticos e coletivos, 30 bolas não dão nem para duas rodadas.
"Já fui várias vezes à federação comprar as bolas", afirmou Cléber Maldaner, diretor de futebol do Ituano, atual campeão da A-1.
O esquema funciona geralmente assim: os clubes enviam uma pessoa com ofício da equipe endereçado a Farah, solicitando a compra de bolas. Na federação, o documento é entregue a um funcionário, que realiza a negociação. Lá, as bolas -modelo Penalty Star- saem por R$ 55. No mercado, custam, no mínimo, R$ 92. Confirmaram esse procedimento Mogi Mirim, União Barbarense, Juventus, Ituano (todos da Série A-1), Comercial, Olímpia (ambos da segunda divisão), Sertãozinho, Barretos (da Série A-3), Santarritense e Monte Azul (da B-1). Outros clubes confirmam a negociação sem nota fiscal, mas relatam uma versão diferente.
É o caso do Botafogo. O vice-presidente de esportes da equipe, Gilberto Pinhata, informa que, quando precisa de bolas novas, um funcionário da FPF traz o material de São Paulo para Ribeirão. O dinheiro é dado com um recibo, expedido pelo próprio Botafogo. "Eles não nos dão nada, nem nota fiscal nem recibo, nada", diz. "Já compramos por volta de 280 bolas neste ano, que, depois, ficam com nossos times amadores."
Há, entre os dirigentes ouvidos, casos como o de Santino Soares da Silva Júnior, presidente do Comercial, outro clube de Ribeirão. Ele confirma a negociação, mas diz que já passou cheque. Nota, no entanto, nunca foi dada.
O diretor de marketing do Sertãozinho, Pedro Luiz Lopes, lembra que já ocorreu de a federação mudar o modelo da bola a ser usada nos jogos no meio do campeonato, tornando obsoletas e inúteis as que os times já haviam comprado. O clube informou que ainda na quinta-feira passada adquiriu mais um lote.
Em outro clube do interior, há controvérsias. O ex-presidente da Ferroviária, de Araraquara, Milton Cardoso, que renunciou ao cargo há menos de um mês, garante já ter comprado bolas na federação durante sua gestão -o que é desmentido pela atual diretoria. "Eles [a federação" vendem as bolas sem nota e não aceitam cheque", afirma Cardoso.
O atual diretor de futebol do clube, Evandro Malara, diz, no entanto, que está comprando todo o seu material esportivo no comércio de Araraquara.
Os únicos clubes que não quiseram falar sobre o assunto foram Taquaritinga, União São João e Francana. Coincidentemente, as duas últimas equipes lutavam pelo título em suas séries até a semana retrasada.



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