São Paulo, terça-feira, 19 de junho de 2001

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BASQUETE

Bolo Califórnia

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Q ue ironias. A NBA jamais valorizou tanto o jogo individual. Mas a taça parou nas mãos do time que praticou o basquete coletivo com mais eficiência. O ano registrou o torneio mais equilibrado da história. Mas nunca uma equipe chegou tão facilmente ao título.
O Los Angeles Lakers demoliu recordes e até entediou o torcedor tamanha a sua superioridade ao longo dos playoffs. Tem tudo para estender o bicampeonato e formar a primeira dinastia do milênio. Saiba por quê:
1) Shaquille O'Neal e Kobe Bryant são os dois melhores jogadores da NBA, simples e claro. Aprenderam, enfim, a compartilhar seus talentos em quadra. E estão garantidos juntos, por contrato, pelo menos até 2004.
2) Tanto O'Neal como Bryant têm potencial para anotar mais de 30 pontos por jogo. Mas é na marcação que ambos desequilibram nos momentos decisivos. O primeiro, com 2,16 m e 140 kg, entope o garrafão, inibe as infiltrações do adversário e libera seus colegas para arriscar nos desarmes. O segundo foi eleito já aos 21 anos um dos cinco melhores defensores da liga -proeza que Michael Jordan alcançou somente aos 25 anos.
3) O zen-budista Phil Jackson continua em ótima forma. Ignorou a histeria de parte da mídia, que passou o primeiro semestre cobrando que o técnico interviesse para apaziguar a rivalidade histórica entre O'Neal e Bryant. Deixou que os dois se acertassem sozinhos, o que de fato ocorreu. Jackson aproveitou atletas desenganados, como Ron Harper e Brian Shaw. Descobriu utilidade em novatos desconhecidos, como Tyronn Lue. Em 11 anos como técnico, ostenta 8 troféus. Está a um título do recorde do legendário Red Auerbach, do Boston Celtics que dominou os anos 60.
4) Nunca o esquema de triângulos se encaixou tão bem. O Chicago Bulls, que celebrizou essa tática, improvisava os versáteis Michael Jordan e Scottie Pippen no vértice imaginário de dentro do garrafão. Os Lakers usam um pivô legítimo na posição, no caso o melhor da liga. O'Neal pode tanto partir em direção da cesta como explorar os colegas ignorados pela marcação -é ótimo passador.
5) Os triângulos engasgavam em quase todas as partidas dos Bulls. O hexacampeão da NBA era frequentemente resgatado, sobretudo no último quarto, pelo talento individual de Jordan. Nos Lakers, a tática parece mais fluida. As investidas do criativo Bryant agora são mais raras, menos necessárias. Pudera, os Lakers só estiveram atrás no placar em 3 dos 16 embates dos playoffs. Nos demais, administraram a vantagem.
6) Todos os coadjuvantes tiveram seus momentos de superação nos mata-matas. Abastecidos por O'Neal, Robert Horry e Derek Fisher alternaram-se com sucesso na artilharia de longa distância. Lue destacou-se na defesa carrapato sobre Allen Iverson, a estrela do Philadelphia, adversário nas finais. E Rick Fox funcionou como argamassa, adaptando sua contribuição a cada rodada.
7) Os Lakers podem gastar até US$ 4,5 milhões em reforços na próxima temporada. É dinheiro suficiente para melhorar o grupo que cumpriu a melhor campanha da história dos playoffs (15 vitórias e só 1 revés), que não tropeçou fora de seu ginásio (uma façanha inédita na NBA), que parece imbatível mesmo. Até 2001/2002.

Título 1
Em 15 ocasiões nestes mata-matas da NBA, um atleta anotou mais de 40 pontos. O recorde anterior era de 11 (1962, 1977 e 1995). Iverson, o dínamo do Philadelphia, foi o destaque, com seis explosões. Somados, O'Neal e Bryant emplacaram quatro.

Título 2
Ron Harper e Horace Grant, que escoltaram Phil Jackson tanto no Chicago como no Los Angeles, devem se aposentar. Mitch Richmond (Washington) e Jerome Williams (Toronto) estão na mira do clube angeleno para essas posições.

Título 3
Para a alegria californiana, o futuro não sorri aos adversários. San Antonio e Utah estarão ainda mais envelhecidos. Sacramento, Portland, New York e o próprio Philadelphia vão ter de se reconstruir. Só o Orlando, talvez o Dallas, poderão assustar.
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