São Paulo, sábado, 19 de junho de 2010

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JUCA KFOURI

A ética do jogo...


...ou o jogo da ética? Como devem jogar México e Uruguai se o empate os leva às oitavas?


O ESCRITOR franco-argelino Albert Camus, que foi goleiro de seleção universitária na Argélia, um dia disse que "o que finalmente eu mais sei sobre a moral e as obrigações do homem devo ao futebol".
Disse porque os tempos eram outros -ele nasceu em 1913 e morreu em 1960- ou porque jamais disputou uma Copa do Mundo?
O que terão a fazer uruguaios e mexicanos, que, graças ao regulamento da Copa, dependem de empatar entre si para ambos irem às oitavas de final na África do Sul, alijando os anfitriões sul-africanos e os franceses?
Será correto exigir deles que busquem a vitória em nome do jogo e de uma classificação mais cômoda (o segundo do grupo provavelmente enfrentará a Argentina) ou será compreensível que façam o chamado jogo de compadres, a velha marmelada, sem correr riscos em busca de vencer porque, daí, podem perder?
Há casos famosos na história das Copas, como o da vergonhosa vitória da Alemanha sobre a Áustria por 1 a 0, na Copa de 1982, resultado que classificou os dois sem luta e alijou, exatamente, a seleção da Argélia, de Camus.
As fórmulas de torneios como as Copas do Mundo sempre embutem riscos semelhantes, e o mais fácil é julgar, porque o mais difícil é se colocar no lugar de cada um dos oponentes e saber exatamente como faria na mesma situação.
Uma coisa é certa: os argentinos torcerão para que os uruguaios não lhe apareçam pela frente, porque a rivalidade entre eles é muito maior do que a dos brasileiros com qualquer um dos dois.

PROPAGANDA
E, por falar em ética, já há 20 dias na África do Sul ainda não vi, como não vi na Alemanha, em 2006, na França, em 1998, nos EUA, em 1994, na Itália, em 1990, e na Espanha, em 1982, nenhum jornalista fazendo papel de garoto-propaganda. Aliás, brilhante o artigo de Ilana Pinsky, dias atrás na página 3 desta Folha, sobre o envolvimento de esportistas em campanhas de cerveja. Imaginar que os "comunicadores" que as criam e apresentam vão parar para pensar será demais, mas os do esporte mesmo poderiam refletir. O técnico Dunga, por exemplo, que tem uma fundação para ajudar crianças. Ou com ele é também tudo por dinheiro?

blogdojuca@uol.com.br


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