São Paulo, domingo, 19 de junho de 2011

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TOSTÃO

A verdade incomoda


O Brasil continua forte candidato a ganhar todos os títulos, mas outras seleções têm a mesma chance

COMO SE esperava, foi aprovado, na Câmara dos Deputados, o sigilo dos orçamentos para a Copa de 2014 e para a Olimpíada, com a justificativa de acelerar as obras. Como disse o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, foi uma decisão "escandalosamente absurda". Resta o Senado. Não tenho esperança.
Mudo de assunto. Um ano antes da Copa de 2010, no momento em que o Brasil ganhava das grandes e pequenas seleções, Beckenbauer disse que não gostava de ver o time jogar. Dunga e os pachecões protestaram. Beckenbauer não falou que a seleção era ruim, e sim que jogava igual às outras.
Na véspera de o Brasil ser eliminado pela Holanda, quando Dunga tinha entre 70% e 80% de aprovação popular, Cruyff falou que não pagaria para ver o Brasil jogar. Dunga e os ufanistas ficaram indignados. Cruyff não disse que o time do Brasil era fraco, e sim que não o agradava.
Semanas atrás, a versão inglesa da revista "Four Four Two" deu o seguinte título a uma reportagem: "Morreu o futebol brasileiro".
Obviamente, é exagerado, provocativo, para chamar a atenção, como é comum em todo o mundo. Já o conteúdo dizia que os melhores jogadores brasileiros são defensores e que o Brasil produz pouquíssimos craques e joga um futebol feio. Falo a mesma coisa há séculos.
A verdade incomoda. Alguns não aceitam as críticas, por convicção e falta de senso crítico, outros, por ufanismo, e muitos, porque não querem desvalorizar o produto futebol, um grande negócio.
Felizmente, surgiram Ganso e Neymar. O perigo é exigir que os dois resolvam tudo. Eles, por serem jovens, é que precisam de ajuda. Sempre foi assim.
O antigo chavão sobre a diferença entre o futebol brasileiro, habilidoso, criativo, bonito e imprevisível, e o europeu, tático, veloz, de muita força física e com jogadores altos e fortes, não existe há muito tempo.
Isso não significa que o Brasil não seja candidato a ganhar todos os títulos. Mas, quando chega às quartas de final de uma Copa, as chances de ganhar e de perder são as mesmas.
A maioria acha que essa transformação é inevitável, por causa da globalização e da evolução do futebol, que se tornou mais tático e científico. Os conhecimentos estariam à disposição de todos, pelo menos para os países com tradição.
Se não existisse o Barcelona, acreditaria nisso, ficaria conformado e, sem utopia, me tornaria torcedor e comentarista de rúgbi. Tenho ainda esperanças de continuar no futebol.


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