São Paulo, domingo, 19 de julho de 2009 |
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JUCA KFOURI O Cruzeiro e o real
O BRASIL não é o país do futebol. É o maior vencedor e o maior celeiro, mas mais países do futebol são a Inglaterra, a Argentina, a Itália. Aqui não se cultiva O JOGO, não se trata o futebol com reverência, não se dá a ele a liturgia que merece. No máximo é visto como paixão e entretenimento, pois até como negócio é maltratado. Prova disso, mais uma vez, foi que na maior noite do futebol no continente outras seis partidas do campeonato nacional rivalizavam com a decisão da Libertadores, num desrespeito à grandeza do que acontecia no Mineirão. E o eixo Rio-São Paulo nem sequer recebeu a transmissão do evento internacional pela TV aberta, algo simplesmente impensável na Europa, na Liga dos Campeões. É ululante que o torcedor prefira ver seu time em ação a qualquer outro, por mais importante que seja a disputa em que este esteja. Razão pela qual, em nome do JOGO, há que se tratar de maneira diferente aquilo que é mesmo diferente, raro, que acontece, no máximo, uma vez por ano, quando acontece, no dito país do futebol. A dor da maioria, a festa da minoria, a primeira apoteose, a virada dramática, os ingredientes todos que fazem do JOGO o mais popular e mais democrático do mundo (só nele alguém com o físico de Diego Armando Maradona pode ser o número 1) deveriam ter sido tratados com o devido respeito, para que as gerações se sucedam na perpetuação de seus vínculos e não apenas como a repetição do ganhar, do perder ou do empatar. Quem não entende que o estádio tem um quê de templo, que aquele cimento é um território sagrado, que aquela grama é a mais especial que há na face da Terra, não está entendendo nada do que fala a linguagem do JOGO. São meros burocratas, gente capaz apenas de pensar da mão para a boca, sem nenhuma preocupação com o futuro, porque, afinal, estarão tão mortos amanhã como estão hoje em sua mediocridade. Quem não viu ou não teve como ver os 90 minutos de tensão disputados por Cruzeiro e Estudiantes na última quarta-feira perdeu a chance de viver com a camisa celeste a angústia de um épico tal e qual teria vivido com as cores do seu time de coração. E perdeu a chance de ser solidário, de ser generoso, de se sentir protagonista de um momento especial na vida do JOGO. É de se lamentar, enfim, que o pragmatismo do dinheirismo insuflado pela batalha das audiências chegue ao ponto de fazer tábula rasa de momentos sagrados, como uma decisão de copa continental. Razão pela qual o velho escocês Bill Shankly, saudoso técnico e gerente do Liverpool quando o time inglês dominou a Europa, deve mesmo ser imortalizado pela frase que consagrou: "É claro que o futebol não é uma questão de vida ou de morte. É muito mais do que isso...". Um dia, quem sabe, haverá, no Brasil, dirigentes e não cartolas, executivos e não burocratas na administração do JOGO e de tudo que o cerca, para que nunca mais ninguém seja privado de ver o essencial em nome do circunstancial. Bem diferente, portanto, da realidade de hoje. Oremos. blogdojuca@uol.com.br Texto Anterior: MotoGP: Rossi larga na pole do GP da Alemanha Próximo Texto: Lula é crucial para Rio-16, diz mago da propaganda Índice |
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