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São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 2003

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BASQUETE

Entrevista com o vampiro

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

O ouro masculino no Pan prestou um serviço inestimável. Não foi fantástico ver a Globo arrombar o "Esporte Espetacular", na manhã de domingo, para encaixar a transmissão do teste contra o Uruguai, o último da seleção antes do Pré-Olímpico?
- O qualificatório para Atenas-2004, que começa amanhã em Porto Rico, seguia fora da grade da TV brasileira até a noite de ontem. Inclusive das emissoras fechadas, tradicional palco do basquete. O basqueteiro pode ser privado da mais importante competição do ano. Você festejaria a exibição de um amistoso Nike se soubesse que a Copa do Mundo de futebol não passaria na TV?
Não se pode negar que a seleção comandada por Lula Ferreira, invicta há 16 partidas, mostra muita empolgação. E que isso contaminou de vez a torcida, certo?
- Entusiasmo em demasia às vezes significa insegurança. Relembre a festa da vitória quase histérica sobre o combinado B/C argentino no Sul-Americano. O Pré-Olímpico é uma competição duríssima, com dez rodadas em 11 dias. Como os jogadores brasileiros reagirão a uma eventual, e provável, derrota ao longo da campanha? E como essa legião reconquistada de torcedores reagirá a uma eventual, e infelizmente possível, desclassificação?
A seleção tem levado à quadra um jogo de primeira, com defesa forte e muitos contra-ataques. Não é esse justamente o receituário do basquete moderno?
- A equipe incorporou virtudes ausentes na era Hélio Rubens. Mas, ao menos por enquanto, o que mudou foi a atitude -o time não se porta de modo covarde. A marcação, desentrosada, comete tantas falhas de cobertura como no passado. Diante do ginásio lotado do Tijuca, por exemplo, tomou 93 pontos de um Uruguai que disputará a sexta colocação em Porto Rico. E os contra-ataques têm apenas aparecido no segundo tempo, amparados nos atributos físicos de jogadores-chave do banco. A marca ofensiva do Brasil nessa temporada permanece o chute de três pontos.
Ninguém se prepara há tanto tempo como o Brasil. São quase três meses. Isso não conta nada?
- O próprio Lula admite prejuízo de continuidade nesse trabalho, devido à apresentação escalonada dos 12 atletas. O grupo que embarcou para San Juan, com Nenê e Leandrinho, cumpriu exatos sete dias de treinos. Dois a menos do que o "Dream Team" norte-americano, sabido modelo de esculacho no aprestamento para torneios. Já os argentinos estão juntos há quase quatro semanas.
EUA e Argentina são potências nas Américas. É a terceira vaga que está em jogo. Os outros adversários, como no Pan, são fracos?
- Os brasileiros poderão tropeçar em duas, no máximo três, das sete partidas da fase de classificação. E basta uma derrota nos mata-matas para enterrar o sonho ateniense. A seleção anfitriã mesclará experiência e arrojo e contará com a arquibancada mais fanática do Caribe. A canadense terá Steve Nash -Valtinho, Leandrinho e Demétrius no mesmo corpo. Seria também imprudente descartar o imponderável. A agonia só terminará no dia 31.

Sangue 1
Muitos leitores exortam a coluna a engrossar a corrente que pede a cabeça de Antonio Carlos Barbosa. Culpam o estabanado técnico pela apatia do feminino em Santo Domingo. Mas, até por coerência -na saúde ou na doença, falta legitimidade técnica ao basquete do Pan-, prefiro aguardar o Pré-Olímpico, mês que vem, no México. Até lá, para mim, vale o brilho do outro bronze, o de Sydney-2000.

Sangue 2
Boletim do Comitê Olímpico dá pistas sobre o uso no basquete das verbas da Lei Piva (não é engraçado, e sintomático, que a imprensa nacional tenha encaixado Agnelo no nome da lei tão logo foi nomeado o ministro do Esporte?). Sugere que o dinheiro das loterias federais bancou a excursão da comissão técnica a Denver, em fevereiro.

E-mail melk@uol.com.br


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