São Paulo, domingo, 19 de setembro de 2004

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PARAOLIMPÍADA

Em Atenas, a ligeiro Karla Ferreira, deficiente visual, torna-se a 1ª brasileira a subir ao pódio em Jogos

Brasil ganha 1ª medalha no judô feminino

FERNANDO ITOKAZU
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS

No mesmo Ano Liossia Olympic Hall em que conquistou suas primeiras medalhas na 28ª Olimpíada da Era Moderna, o Brasil subiu ontem ao pódio pela primeira vez na 12ª Paraolimpíada.
Mais do que isso, a ligeiro (até 48 kg) Karla Ferreira Cardoso, 22, ao conquistar a prata ontem tornou-se a primeira judoca brasileira a conquistar uma medalha olímpica ou paraolímpica.
Em Olimpíadas, as mulheres competem na modalidade desde os Jogos de Barcelona-92. O judô é disputado por atletas com deficiência visual nas Paraolimpíadas, e a categoria feminina acontece pela primeira vez na Grécia.
Diferentemente de outras modalidades, em que os atletas são divididos de acordo com o grau de sua deficiência, no judô não acontece essa distinção.
Ou seja, Karla, que "com óculos consegue enxergar até cinco metros", pode ter como rivais judocas totalmente cegas, como sua adversária na final de ontem, a francesa Karima Medjeded.
Carioca, ela tem hipermetropia (atualmente em 13 graus) e astigmatismo ("não sei quanto"), de nascença, e problema na retina.
Como possui visão parcial, ela também compete no judô entre os atletas chamados "videntes", no qual chegou a ser campeã carioca em 1998. Ela também já lutou com a representante brasileira da categoria ligeiro na Olimpíada de Atenas, Daniela Polzin.
"O problema é enxergar o placar, mas sempre tem o técnico ditando a luta", afirma Karla.
A atleta chegou inclusive a ser alvo de denúncia no Brasil, pois não se enquadraria nas condições do esporte paraolímpico.
Campeã mundial no ano passado, Karla afirma ter Flávio Canto, medalha de bronze no mês passado, como ídolo no esporte.
Ontem, ela subiu um degrau mais alto no pódio do que seu ídolo e Leandro Guilheiro, outro bronze olímpico, mas teve bem menos trabalho para isso.
Os dois primeiros medalhistas na Olimpíada de Atenas lutaram sete vezes e perderam uma para alcançar buscar a medalha e o ramo de folhas de oliveira.
Com chave de apenas sete atletas, Karla foi cabeça-de-chave, não precisou competir pela manhã e só disputou duas lutas.
Já classificada para a semifinal, a brasileira estreou contra a alemã Astrid Arndt, vice-campeã no Mundial. A luta de cinco minutos terminou empatada. No golden score, Karla conseguiu um wazari e garantiu vaga na decisão.
Sua adversária na disputa pela primeira medalha de ouro feminina do judô paraolímpico, a francesa Karima, já havia sido derrotada por ela na semifinal do Mundial do ano passado.
Karla começou vencendo. Sua adversária foi punida por falta de combatividade. Na seqüência, porém, conseguiu um yuko e um ippon, a pontuação máxima do judô, encerrando o combate.
Antes de ser abraçada pelo técnico Leonardo Maturana, Karla levou as mãos à cabeça e foi assim que caminhou à área onde se concentravam os jornalistas.
Chorando, a brasileira disse que deu "uma bobeira" na final. "Só tenho que agradecer todo mundo e dizer que vou lutar para trazer o ouro de Pequim." Outra brasileira, Tatiane Silva (até 52 kg), precisava vencer uma luta para medalhar, mas perdeu duas vezes.


O jornalista Fernando Itokazu viaja a convite do Comitê Paraolímpico Brasileiro


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