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PARAOLIMPÍADA
Em Atenas, a ligeiro Karla Ferreira, deficiente visual, torna-se a 1ª brasileira a subir ao pódio em Jogos
Brasil ganha 1ª medalha no judô feminino
FERNANDO ITOKAZU
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS
No mesmo Ano Liossia Olympic Hall em que conquistou suas
primeiras medalhas na 28ª Olimpíada da Era Moderna, o Brasil
subiu ontem ao pódio pela primeira vez na 12ª Paraolimpíada.
Mais do que isso, a ligeiro (até
48 kg) Karla Ferreira Cardoso, 22,
ao conquistar a prata ontem tornou-se a primeira judoca brasileira a conquistar uma medalha
olímpica ou paraolímpica.
Em Olimpíadas, as mulheres
competem na modalidade desde
os Jogos de Barcelona-92. O judô
é disputado por atletas com deficiência visual nas Paraolimpíadas, e a categoria feminina acontece pela primeira vez na Grécia.
Diferentemente de outras modalidades, em que os atletas são
divididos de acordo com o grau
de sua deficiência, no judô não
acontece essa distinção.
Ou seja, Karla, que "com óculos
consegue enxergar até cinco metros", pode ter como rivais judocas totalmente cegas, como sua
adversária na final de ontem, a
francesa Karima Medjeded.
Carioca, ela tem hipermetropia
(atualmente em 13 graus) e astigmatismo ("não sei quanto"), de
nascença, e problema na retina.
Como possui visão parcial, ela
também compete no judô entre
os atletas chamados "videntes",
no qual chegou a ser campeã carioca em 1998. Ela também já lutou com a representante brasileira
da categoria ligeiro na Olimpíada
de Atenas, Daniela Polzin.
"O problema é enxergar o placar, mas sempre tem o técnico ditando a luta", afirma Karla.
A atleta chegou inclusive a ser
alvo de denúncia no Brasil, pois
não se enquadraria nas condições
do esporte paraolímpico.
Campeã mundial no ano passado, Karla afirma ter Flávio Canto,
medalha de bronze no mês passado, como ídolo no esporte.
Ontem, ela subiu um degrau
mais alto no pódio do que seu
ídolo e Leandro Guilheiro, outro
bronze olímpico, mas teve bem
menos trabalho para isso.
Os dois primeiros medalhistas
na Olimpíada de Atenas lutaram
sete vezes e perderam uma para
alcançar buscar a medalha e o ramo de folhas de oliveira.
Com chave de apenas sete atletas, Karla foi cabeça-de-chave,
não precisou competir pela manhã e só disputou duas lutas.
Já classificada para a semifinal, a
brasileira estreou contra a alemã
Astrid Arndt, vice-campeã no
Mundial. A luta de cinco minutos
terminou empatada. No golden
score, Karla conseguiu um wazari
e garantiu vaga na decisão.
Sua adversária na disputa pela
primeira medalha de ouro feminina do judô paraolímpico, a
francesa Karima, já havia sido
derrotada por ela na semifinal do
Mundial do ano passado.
Karla começou vencendo. Sua
adversária foi punida por falta de
combatividade. Na seqüência, porém, conseguiu um yuko e um ippon, a pontuação máxima do judô, encerrando o combate.
Antes de ser abraçada pelo técnico Leonardo Maturana, Karla
levou as mãos à cabeça e foi assim
que caminhou à área onde se concentravam os jornalistas.
Chorando, a brasileira disse que
deu "uma bobeira" na final. "Só
tenho que agradecer todo mundo
e dizer que vou lutar para trazer o
ouro de Pequim." Outra brasileira, Tatiane Silva (até 52 kg), precisava vencer uma luta para medalhar, mas perdeu duas vezes.
O jornalista Fernando Itokazu viaja a
convite do Comitê Paraolímpico
Brasileiro
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