São Paulo, domingo, 19 de setembro de 2010

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JUCA KFOURI

Farra ou missa?


Dentre as falácias que alimentam o futebol, uma é o comportamento mais aberto ou mais fechado


TENHO ANDADO pelo Sul do país num ciclo de palestras promovido por uma das afiliadas da rádio CBN. "Ganha-se uma Copa na farra ou na missa?", é um dos temas discutidos. E é curioso observar como as plateias do chamado interior do país parecem mais bem informadas e abertas do que outras, tidas e havidas como de vanguarda no Brasil.
Ninguém aprova a bagunça de 2006, mas, também, não se aplaude a clausura de 2010. Como sobra indignação com os rumos que tomam tanto a Copa-2014 quanto a Olimpíada-2016 no Brasil.
Diria que estamos diante da iminência de ver surgir um tipo novo de cidadão brasileiro, mais disposto a exigir limpeza no trato com a coisa pública, muito embora as pesquisas eleitorais mostrem algumas situações desanimadoras.
A observação sobre o comportamento dos jogadores, Neymar evidentemente incluído, começa a ser feita de maneira mais realista.
A falta de educação é criticada, mas, também, a ausência de respaldo à garotada que sai da exclusão à ribalta é observada pela maioria. Neste sentido, e ainda no que toca a Neymar, o Santos que inovou ao mantê-lo por aqui da maneira que manteve, parece perto de outro gol, ao contratar um psicólogo para acompanhá-lo.
Imagine este menino hoje em Londres, no Chelsea. Fácil vislumbrá-lo se perdendo, como qualquer garoto da idade dele.
A vigilância hipócrita do comportamento dos jogadores sempre faz lembrar duas frases de dois ícones da Democracia Corintiana.
Perguntado se sexo fazia mal antes do jogo, Casagrande respondeu que só prejudicava durante...
E Sócrates, diante do estupor que causava nas cabeças retrógradas o fato de os jogadores tomarem cerveja no bar do clube após os treinos, ensinava: "Muito melhor tomar umas cervejinhas na frente de todo mundo, porque ninguém vai entornar um engradado. Mas, quando o cara sai direto do treino para casa, não só bebe muito mais como toma cachaça mesmo, que é o que boleiro mais gosta".
A verdade é que já vimos campeonatos serem vencidos com regimes liberais e com regimes fechados, assim como já foram perdidos com ambas as atitudes, haja vista as Copas de 2006 e 2010.
Farra ou missa, enfim, é questão tão falsa como ganhar jogando feio ou perder jogando bonito.
Porque também, como é sabido, Copas já foram ganhas e perdidas jogando bonito, assim como foram perdidas e ganhas jogando feio.
Era lindo ver o bicampeão mundial Mané Garrincha, que fez um filho na Copa de 1958, na Suécia.

blogdojuca@uol.com.br


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