São Paulo, Terça-feira, 19 de Outubro de 1999
Próximo Texto | Índice

Fraude coloca em risco chance de Brasil disputar a Copa-2002


Sandro Hiroshi, atleta do São Paulo, adulterou idade para jogar Sul-Americano



Escândalo similar alijou mexicanos da Olimpíada de 1988 e do Mundial de 1990


PAULO COBOS
da Reportagem Local

O futebol brasileiro, tetracampeão mundial, está ameaçado de não participar da Olimpíada de 2000 (Sydney) e da Copa do Mundo de 2002 (Japão/Coréia do Sul).
No Campeonato Sul-Americano juvenil de 1997, no Paraguai, a seleção brasileira utilizou o atacante Sandro Hiroshi, que estava registrado com idade falsa.
O Brasil ganhou o título e se classificou para o Mundial disputado em setembro daquele ano, no Egito. Dessa vez, sem Hiroshi, hoje jogador do São Paulo, o Brasil sagrou-se campeão mundial juvenil pela primeira e única vez.
Por usar quatro jogadores com idade adulterada, em 1988, em um torneio classificatório júnior, o México foi suspenso por dois anos de todas as competições organizadas pela entidade máxima do futebol mundial, incluindo os Jogos de Seul (1988) e as eliminatórias da Copa do Mundo de 1990.
A diferença entre os dois casos é que, até agora, não há evidências de que os dirigentes da Confederação Brasileira de Futebol tenham tido participação no caso ou consciência prévia do mesmo.
Os aparentes autores da fraude são o próprio Sandro Hiroshi e seu clube à época, o Rio Branco, de Americana (SP). Foi para esse clube que, em 1994, ele se transferiu do Tocantinópolis (TO) de maneira supostamente irregular.
O jogador (leia texto ao lado) não confirma sua data de nascimento, e o clube se exime de qualquer culpa. "Fizemos todos os registros com a documentação apresentada pelo jogador. Se houve má fé, não foi por parte do Rio Branco", diz Juraci Catarino, supervisor do clube paulista.
A Folha descobriu a fraude ao examinar os documentos do jogador na Federação Tocantinense de Futebol e a confirmou ao obter cópia original da certidão de nascimento no Cartório de Registro Civil da cidade de Araguaína (TO), onde ele nasceu.
Por esses documentos, Hiroshi nasceu no dia 19 de novembro de 1979, antes portanto de 1º de janeiro de 1980, data-limite para os participantes daquele Sul-Americano paraguaio. Após transferir-se para o Rio Branco, sua data de nascimento já constava como sendo 19 de novembro de 1980.
Como o registro de jogador na Federação Paulista de Futebol é feito com base na cédula de identidade ou na certidão de nascimento, há fortes indícios de falsidade ideológica, o que é crime tipificado no Código Penal -artigo 299, pena máxima de cinco anos de reclusão.
No dia 25 de abril de 1988, os mexicanos escalaram quatro jogadores com mais de 19 anos em sua seleção júnior na partida contra a Guatemala, pelas eliminatórias do Mundial da categoria.
Para inscrevê-los foram apresentados passaportes com idade falsa obtidos com certidões de nascimento adulteradas.
A fraude foi descoberta, e a Fifa suspendeu o México por dois anos, a contar do dia do jogo. Os atletas foram eliminados do futebol em 29 de junho de 1988, na maior punição já aplicada pela Fifa a uma federação até então.
Além da possibilidade de barrar o Brasil da Olimpíada-2000 e da Copa-2002, cuja fase eliminatória começa no próximo ano, a fraude pode ainda minar a candidatura do país ao Mundial de 2006 -a escolha da sede será feita pela Fifa em junho próximo.
Efeito imediato, o caso deve transformar o Brasileiro-99 em uma verdadeira batalha judicial. Perdendo os pontos dos jogos em que usou Hiroshi, o São Paulo estará entre os rebaixados.


Colaboraram Marcelo Damato e Alexandre Gimenez, da Reportagem Local

Próximo Texto: Jogador não confirma a idade
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.