São Paulo, terça-feira, 19 de outubro de 2004

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XADREZ

Três principais nomes do esporte no país não vão à Olimpíada para pressionar mudança no comando da confederação

Tabuleiro copia tênis e organiza boicote

Dani Cardona - 15.out.04/Reuters
Mais de 1.400 enxadristas de 137 países participam da primeira rodada da Olimpíada de xadrez, realizada em Calvia, na Espanha


GUILHERME ROSEGUINI
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

A inspiração veio do tênis. Após verem Gustavo Kuerten e cia. boicotarem a Copa Davis para pressionar mudanças na confederação, os principais enxadristas do país decidiram fazer o mesmo.
Apenas dois dos seis Grandes Mestres brasileiros -grau máximo de um atleta da modalidade- estão disputando a Olimpíada de Calvia, na Espanha.
Giovanni Vescovi, Gilberto Milos Jr. e Rafael Leitão, os três primeiros do Brasil, respectivamente, não aceitaram o chamado para participar da competição.
Com o não, divulgaram manifesto em que criticam o presidente da Confederação Brasileira de Xadrez, Darcy Lima, e pedem eleições antecipadas sem sua participação. O pleito está previsto para janeiro, e a oposição já articula sua candidatura.
Segundo os enxadristas, Lima tem usado a CBX para alcançar objetivos pessoais, prejudicar seus desafetos e não demonstra transparência na organização de torneios e na definição de prêmios. "É muito complicado ser dirigente e jogador ao mesmo tempo. Não vemos transparência na confederação, não temos acesso aos trâmites da entidade, nem sabemos quem são os diretores que atuam com ele", disse Milos.
"Ele usa o site da confederação para mandar recadinhos de mau gosto. Já publicou conversas pessoais sobre negociação de cachê, que é praxe, como se estivéssemos nos recusando a defender o Brasil. Ele já fez uma série de desmandos e precisávamos tomar uma atitude drástica", completou Leitão.
Um dos questionamentos do trio é sobre a premiação estipulada para esta edição da Olimpíada.
Os atletas receberão US$ 3.000 cada um se ficarem entre primeiro e quinto lugar -no total, seriam distribuídos US$ 18 mil. O prêmio vai diminuindo a medida que a classificação cai.
Na última edição do torneio, em 2002, os brasileiros terminaram na 35ª posição. Por colocação semelhante, cada enxadrista receberia agora US$ 200. Se ficarem acima de 40º, não levarão nada.
"A maior prova da farsa desta premiação é oferecer prêmios altíssimos para colocações jamais conquistadas por nossa equipe na história", diz a carta dos atletas.
Os enxadristas acreditam que, com seis GMs, poderiam chegar até o 20º posto. Sem eles, esperam resultado pior que o de 2002.
Lima não foi encontrado pela Folha para comentar o boicote. Ele está em Calvia. Ao lado de Henrique Mecking, o Mequinho, é um dos Grandes Mestres que representam o país nos Jogos.
Os atletas que lideram o boicote também reclamam dos critérios usados pela CBX para a definição do time que foi à Olimpíada.
Foram chamados cinco GMs. Para o sexto tabuleiro, o técnico Christian Toth alegou não ter conseguido "chegar a uma conclusão a respeito da vaga" e deixou de fora o sexto GM do país, Jaime Sunye Neto, que já foi medalhista de ouro nos Jogos.
"Não há critério que explique deixá-lo de fora. Só pode ser explicado como perseguição pessoal", afirmou Leitão.
Sem poder contar com força total, a CBX realizou um Pré-Olímpico às pressas para formar a equipe. E teve surpresas.
Cícero Braga, oitavo melhor do país pela lista da federação internacional, classificou-se com facilidade. Com ele também está Alexandre Fier (27º), de 16 anos.


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