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FUTEBOL
A turma de trás e a da frente
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Após o empate com o Peru,
houve consenso, até do Parreira e do comentarista Lula, que
faltou posse de bola ao time brasileiro. Trocar passes, atacar sem
afobação e impor a sua maneira
de jogar são características das
equipes dirigidas pelo Parreira.
A seleção tocou pouco a bola
porque o Peru pressionou laterais
e volantes, que não saíram da
marcação. Era o que eu temia, como escrevi no domingo. Dida e os
zagueiros deram chutões porque
ninguém estava livre para receber
a bola. Os três volantes quase não
passaram do meio-campo. Havia
sete defensores bem distantes dos
três atacantes. O meio-campo era
só defensivo. A turma de trás não
se misturava com a da frente.
Quase todos os times que pegam
o Brasil atuam diferente. Ainda
bem. Esperam perto da área para
contra-atacar. Os volantes brasileiros ficam livres para dominar a
bola, ajeitar o corpo e tocar para o
lado. Assim é fácil jogar.
Faltou no meio-campo um atleta de mais talento para driblar,
trocar passes curtos e sair da marcação. Esse é um antigo problema
do futebol brasileiro. Há muitos
meias ofensivos que só atacam e
volantes que só defendem.
A solução é adaptar alguns
meias ofensivos à função de volante, como acontece com Juninho Pernambucano, na França.
Ele se posiciona e marca como volante e avança como meia. Kleberson e Renato também fazem
isso, mas têm menos habilidade.
Juninho Pernambucano poderia entrar no lugar do Emerson
ou do Zé Roberto, que é o único
que não tem reserva definido. Só
sai se machucar. Parece até que
Zé Roberto é o Zidane do time.
Outra solução contra o Peru seria o recuo do Kaká. Com quatro
atletas no meio-campo ficaria
mais fácil tocar a bola. Mas Kaká
não é um armador. Ele tem pressa
de chegar ao gol. O único jogador
brilhante da seleção foi Rivaldo.
O Peru pressionou no meio-campo, e o Brasil não fez o mesmo, em nenhum momento. Essa é
uma característica negativa dos
times do Parreira. Se o Brasil tivesse marcado mais à frente, chegaria com mais atletas ao ataque
e impediria que o Peru tocasse a
bola, armasse jogadas pelas laterais e fizesse perigosos cruzamentos. O erro nas bolas altas não foi
dos zagueiros, e sim dos laterais,
que permitiram os cruzamentos.
Hoje o Uruguai deve esperar o
Brasil para contra-atacar com
seus velozes atacantes. O Brasil
vai precisar marcar por pressão e
de volantes que avancem e finalizem. Renato deve entrar no lugar
do Emerson. Prefiro o Juninho
Pernambucano.
Diferentemente do estilo pesado
e defensivo das últimas seleções, a
equipe atual do Uruguai joga um
futebol mais leve, veloz e ofensivo.
Não será surpreendente se o Uruguai adotar uma postura mais
ousada contra o Brasil.
O time brasileiro tem deficiências individuais e coletivas, mas
elas são menos evidentes do que
as das outras principais seleções
do mundo. A última Copa nos ensinou isso. Porém o Brasil tem jogadores para atuar muito melhor, ganhar e encantar. É o que
espero ver durante as eliminatórias e o que vou cobrar.
Recordar é preciso
Há um conceito "moderno" no
futebol: que uma equipe deveria
defender e atacar com muitos jogadores. Todos os técnicos falam
isso, mas pouco se vê na prática.
Contra o Peru, o Brasil tinha sete
na defesa e três no ataque. Não
havia troca de posições.
Nesses dias muito se falou da
história de Brasil x Uruguai. Há
excesso de estatísticas e informações no futebol e em todas as
áreas. "Quem acumula muitas
informações perde o condão de
adivinhar." (Manoel de Barros)
Quero também lembrar de bons
momentos. Sou orgulhoso e vaidoso. Na Copa de 70, há 33 anos,
contra o Uruguai, o Brasil deu
bons exemplos de como se deve jogar o futebol moderno. No primeiro gol, o meia Gerson estava
muito marcado, trocou de posição com o Clodoaldo, e o volante
finalizou dentro da área.
No segundo gol, o Uruguai atacava, o time brasileiro tomou a
bola, e os três atacantes (Pelé,
Jairzinho e Tostão) trocaram passes curtos no seu campo. O Brasil
tinha dez jogadores atrás da linha da bola, como fala o Parreira. Dominei a bola no campo do
Brasil, e o Jairzinho foi recebê-la
na intermediária do Uruguai.
E ainda dizem que o time de 70
só se preocupava com o ataque,
que não tinha disciplina tática,
que os jogadores faziam o que
queriam, que ganhou somente
porque havia muitos craques e
que não precisava de técnico.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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