São Paulo, quinta, 19 de novembro de 1998

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FUTEBOL
Zico providencia antena parabólica para atletas, que reclamam da concentração, poderem ver a TV brasileira
Tédio ameaça planejamento do Vasco

RICARDO SETYON
especial para a Folha, em Kashima

A falta do que fazer tem sido, até agora, o maior adversário do Vasco na preparação para a decisão do Mundial interclubes, no próximo dia 1º de dezembro, contra o Real Madrid, da Espanha.
A equipe carioca está há três dias no Japão, hospedada no hotel Kashima Central, a 12 km do centro da cidade de Kashima (região central da ilha principal, Honshu).
"Após as 5h da tarde, já escurece por aqui. Pouco tempo depois, as lojas ao lado do hotel fecham. Não há muitas alternativas e nem uma cadeira no lobby. Assim fica difícil", diz o atacante Gian.
"Na TV do hotel, existem oito canais, todos em japonês. Ontem, vimos uma novela local, em que a mãe matou a filha, e o vizinho espancou o neto. Todo mundo morre. Depois, vimos uma luta de boxe e muito sumô. Depois de algumas risadas, fica tudo muito chato", afirma o goleiro Carlos Germano.
"Além de treinar, comer, dormir, jogar cartas e conversar, não sobram muitas opções", diz o assessor de imprensa da equipe, Fernando Santana.
Para ajudar o time carioca, Zico, que é diretor técnico do Kashima Antlers, providenciou, com o auxílio de Jorginho e Bismarck, a instalação de uma antena parabólica no hotel do Vasco.
Com isso, os vascaínos poderão assistir a programas da TV brasileira. "Até novela serve", afirma o atacante Donizete.
O técnico Antônio Lopes diz que não vê problemas no planejamento feito pelo Vasco, que escolheu viajar com mais de duas semanas de antecedência para o Japão, para fazer uma preparação específica para o jogo.
"Essas questões de tédio, saudade ou clima frio não existem. Os jogadores do Vasco são profissionais acostumados a esse tipo de sacrifício. Estamos todos preocupados só com uma coisa: trabalhar para a conquista do título", afirmou.
Os jogadores, no entanto, já demonstram insatisfação com o esquema armado pelo clube.
"É claro que é sempre bom ficar isolado para ter um bom nível de concentração para uma partida como esta. Mas aqui a coisa está parada demais", afirma o atacante Luizão.
"No primeiro dia, desci com um companheiro para verificar o que havia na lojinha do hotel. Após algumas horas, voltei a passear por lá. Depois de três dias, já sou amigo do pessoal que trabalha na lojinha", diz Mauro Galvão.
É comum os times sul-americanos chegarem com bastante antecedência ao Japão para fazer uma preparação específica para o Mundial interclubes.
A estratégia é oposta à normalmente utilizada pelas equipes européias, que costumam chegar ao Japão a poucos dias do jogo -o Real Madrid, por exemplo, ainda está na Espanha.
A preparação adotada pelo Vasco inclui treinos no mesmo horário do jogo contra o Real Madrid (19h locais, 8h de Brasília).
O esquema especial para o jogo no Japão ameaçou até o calendário do futebol brasileiro.
Segundo afirmou o vice-presidente de futebol do clube, Eurico Miranda, a equipe carioca viajaria com antecedência para o Japão mesmo que tivesse se classificado para as quartas-de-final do Campeonato Brasileiro.



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