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Por que o futebol é o mais erótico dos esportes
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
²
Já que não podemos conversar sobre Brasil x Rússia (pois
tenho de entregar esta coluna
antes do início do jogo), vamos
falar de sexo, que também,
convenhamos, não é um assunto desprezível.
Lembra aquela pesquisa que
constatou que a maioria dos
ingleses prefere assistir a uma
partida de futebol a fazer sexo?
Levando em conta a feiúra do
futebol britânico, as inglesas
devem ter ficado fulas, mas isso
não vem ao caso.
O fato é que um livrinho recém-publicado -"Futebol e
Orgasmo", de Claudio Mello
Wagner (Summus Editorial)-
ajuda a gente a entender as íntimas relações entre esses dois
esportes tão populares.
O autor, que é doutor em psicologia, parte das idéias de
Freud e do polêmico austríaco
Wilhelm Reich (1897-1957) para explicar, primeiro, por que o
futebol é o esporte mais difundido no mundo e, depois, por
que algumas partidas são prazerosas e outras são broxantes.
Na visão de Wagner, as duas
questões estão interligadas.
Em resumo (e bota resumo
nisso), é o seguinte: segundo
Reich, o organismo humano
funciona num movimento contínuo de tensão, carga, descarga e relaxamento. Na relação
sexual, isso corresponderia à
excitação crescente, que leva
ao orgasmo (descarga) e ao relaxamento subsequente.
Ora, entre os jogos e os esportes modernos, o futebol é aquele cuja alternância de relaxamento e tensão mais se aproxima à do sexo, sobretudo se estabelecermos que o gol, ocasião
relativamente rara, corresponde ao orgasmo.
No vôlei e no basquete, por
exemplo, a frequência de pontos é alta demais para que a
analogia com o sexo seja válida. (Só nos filmes pornográficos um sujeito consegue encestar tantas seguidas).
Talvez seja por isso que um
jogo com um número excessivo
de gols -especialmente se forem só de um dos dois times-
acaba afrouxando a tensão e se
tornando quase tão broxante
quanto um 0 a 0.
O autor do livro não fala do
futebol feminino nem explica
por que os homens costumam
gostar mais de futebol do que
as mulheres, mas podemos supor que a chamada "curva orgástica" do futebol tem mais a
ver com o ritmo erótico masculino do que com o feminino.
Curiosamente, o futebol feminino costuma ter muito mais
gols do que o masculino. Podemos forçar uma analogia com a
capacidade das mulheres (invejada pelos homens) de ter vários orgasmos seguidos.
Claro que o livro é muito mais
rico e interessante do que esse
breve resumo. Apesar do subtítulo meio amedrontador
-"Ensaio sobre orgonomia e
futebol"-, é escrito de forma
clara e bem- humorada e conta
com um breve e sagaz prefácio
de Juca Kfouri. A conclusão é
que, felizmente, sexo e futebol
não são atividades excludentes. É possível -e aconselhável- praticar as duas (não ao
mesmo tempo, por favor).
"Boleiros", de Ugo Giorgetti,
ganhou o prêmio de direção no
Festival de Amiens (França).
Aplaudido em todas as sessões,
jogou por terra as críticas segundo as quais seria um filme
"muito paulista". Assim como
o sexo, o futebol é uma língua
universal.
²
E-mail: jgcouto@uol.com.br
²
José Geraldo Couto escreve às quintas-feiras
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