São Paulo, quinta, 19 de novembro de 1998

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Por que o futebol é o mais erótico dos esportes

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

² Já que não podemos conversar sobre Brasil x Rússia (pois tenho de entregar esta coluna antes do início do jogo), vamos falar de sexo, que também, convenhamos, não é um assunto desprezível.
Lembra aquela pesquisa que constatou que a maioria dos ingleses prefere assistir a uma partida de futebol a fazer sexo? Levando em conta a feiúra do futebol britânico, as inglesas devem ter ficado fulas, mas isso não vem ao caso.
O fato é que um livrinho recém-publicado -"Futebol e Orgasmo", de Claudio Mello Wagner (Summus Editorial)- ajuda a gente a entender as íntimas relações entre esses dois esportes tão populares.
O autor, que é doutor em psicologia, parte das idéias de Freud e do polêmico austríaco Wilhelm Reich (1897-1957) para explicar, primeiro, por que o futebol é o esporte mais difundido no mundo e, depois, por que algumas partidas são prazerosas e outras são broxantes.
Na visão de Wagner, as duas questões estão interligadas.
Em resumo (e bota resumo nisso), é o seguinte: segundo Reich, o organismo humano funciona num movimento contínuo de tensão, carga, descarga e relaxamento. Na relação sexual, isso corresponderia à excitação crescente, que leva ao orgasmo (descarga) e ao relaxamento subsequente.
Ora, entre os jogos e os esportes modernos, o futebol é aquele cuja alternância de relaxamento e tensão mais se aproxima à do sexo, sobretudo se estabelecermos que o gol, ocasião relativamente rara, corresponde ao orgasmo.
No vôlei e no basquete, por exemplo, a frequência de pontos é alta demais para que a analogia com o sexo seja válida. (Só nos filmes pornográficos um sujeito consegue encestar tantas seguidas).
Talvez seja por isso que um jogo com um número excessivo de gols -especialmente se forem só de um dos dois times- acaba afrouxando a tensão e se tornando quase tão broxante quanto um 0 a 0.
O autor do livro não fala do futebol feminino nem explica por que os homens costumam gostar mais de futebol do que as mulheres, mas podemos supor que a chamada "curva orgástica" do futebol tem mais a ver com o ritmo erótico masculino do que com o feminino.
Curiosamente, o futebol feminino costuma ter muito mais gols do que o masculino. Podemos forçar uma analogia com a capacidade das mulheres (invejada pelos homens) de ter vários orgasmos seguidos.
Claro que o livro é muito mais rico e interessante do que esse breve resumo. Apesar do subtítulo meio amedrontador -"Ensaio sobre orgonomia e futebol"-, é escrito de forma clara e bem- humorada e conta com um breve e sagaz prefácio de Juca Kfouri. A conclusão é que, felizmente, sexo e futebol não são atividades excludentes. É possível -e aconselhável- praticar as duas (não ao mesmo tempo, por favor).

"Boleiros", de Ugo Giorgetti, ganhou o prêmio de direção no Festival de Amiens (França). Aplaudido em todas as sessões, jogou por terra as críticas segundo as quais seria um filme "muito paulista". Assim como o sexo, o futebol é uma língua universal.
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E-mail: jgcouto@uol.com.br
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José Geraldo Couto escreve às quintas-feiras



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