São Paulo, domingo, 19 de dezembro de 2004

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FUTEBOL

Recorde o campeonato de 8 meses que desfilou 24 protagonistas atrás de um papel nas edições reduzidas do futuro

Diga adeus ao último grande Brasileiro

ALCAGÜETE
A aparente severidade do STJD neste Brasileiro criou uma nova figura nos campos: o torcedor-delator. A febre aconteceu após Luiz Zveiter decidir que o clube não perderia o mando de campo caso denunciasse fãs que atirassem objetos no campo. O Palmeiras chegou a incentivar a delação em seu estádio. Em panfleto, pedia: "Torcedor, não deixe que prejudiquem o seu time! Certas atitudes levam seu time à derrota na Justiça desportiva. Não permita que vândalos joguem objetos no campo. Denuncie, defenda o seu time".

BANDEIRANTE
Só o Atlético-PR foi páreo para os paulistas. O Estado levou 3 das 4 vagas na Libertadores e ocupa 4 dos 5 primeiros lugares. O número pode crescer se o São Caetano recuperar os 24 pontos que perdeu no STJD.

COELHOS
Santa Catarina pintou como grande surpresa. Em 7 das 11 rodadas iniciais, a liderança ficou com Criciúma ou Figueirense. Mas o fôlego durou pouco. Hoje, o Criciúma precisa vencer e torcer para não cair. E o time de Florianópolis, que ficou invicto por dez rodadas, ainda não está na Sul-Americana. No final de semana passado, o Estado esteve perto de pôr outro time na Série A -mas o Avaí naufragou.

DESFIBRILADOR
Na noite de 27 de outubro, o aparelho usado para salvar pessoas com parada cardíaca entrou no dicionário do futebol brasileiro. Eram 13min50s do segundo tempo de São Paulo x São Caetano quando Serginho, 30, zagueiro do time do ABC, caiu no gramado. Médicos tentaram reanimá-lo, sem êxito. No Paulista do próximo ano, juízes terão desfibriladores à disposição para emergências.

ESTRANGEIROS
Falam outras línguas alguns dos destaques do Brasileiro. É uruguaio o zagueiro tido como o responsável pela zaga menos vazada do torneio. Com 41 gols sofridos, o São Paulo viu em Lugano a segurança que faltou em temporadas passadas. O sérvio Petkovic, mesmo no combalido Vasco, deixou sua marca ao se converter no estrangeiro que mais gols fez em Nacionais (52, sendo 18 neste ano).

FÉRIAS
A novidade foi encampada primeiro pelo palmeirense Mustafá Contursi, após briga com o Sindicato dos Atletas de São Paulo. Acabou copiada por rivais e pode ser decisiva na rodada de hoje. Pela primeira vez em uma reta final de Brasileiro, times estarão desfalcados por terem dado férias antecipadas a seus atletas. São os casos de Palmeiras, Corinthians, Botafogo, Cruzeiro, Criciúma, Paraná e Figueirense.

GANGORRA
Nunca um Brasileiro teve tantos líderes como nesta edição. No total, nove equipes sentiram o gosto de pontear a competição, entre elas a Ponte Preta e os dois "coelhos" catarinenses. Quem mais rodadas esteve em primeiro lugar foi o Santos, que antes de roubar a hegemonia do Atlético-PR na semana passada havia liderado em 18 jornadas.

HORÁRIO
Mais uma vez o horário de verão castigou as equipes do Norte e Nordeste do país, que tiveram que disputar jogos em Salvador e em Belém com sol a pino. Nos fins de semana, o Brasileiro-04 também abandonou a tradição para atender aos interesses da TV. Além do horário habitual das 16h, houve jogos às 17h, às 18h, às 18h10 e às 20h30, aos sábados e aos domingos.

INGRESSO
A BWA, empresa que produz entradas para a maioria dos jogos do Nacional, foi quem mais ganhou neste ano. Até a 40ª rodada, a fabricante havia faturado R$ 2,2 milhões. A BWA lucra em média R$ 0,41 por ingresso. Depois dela, quem mais receita teve com a bilheteria foi o Corinthians.

JOGUINHO
Com as principais estrelas atuando no exterior, problema que se agravou com a evasão ao longo do torneio, o Brasileiro teve baixo nível técnico. A média de 2,76 gols por confronto é a pior dos últimos sete anos. Os times também chutaram pouco -pior média em dez anos- e driblaram menos do que em 2003. A CBF decidiu diminuir a janela para transferências em 2005.

KIA
O executivo iraniano Kia Joorabchian tomou conta do noticiário nos últimos quatro meses do Brasileiro. Desde que a MSI passou a negociar parceria com o Corinthians, em agosto, nenhum atleta ou técnico foi alvo de tantos debates como o empresário de 33 anos, que fechou contrato para comandar o futebol do clube mais popular de São Paulo até 2014.

LUTA-LIVRE
A pancadaria envolvendo atletas e torcedores do Flamengo na noite de 14 de novembro é o símbolo de uma das mais desastrosas campanhas da história rubro-negra em Brasileiros. Zinho, Júnior Baiano e Júlio César se engalfinharam com membros de uniformizadas do Fla após goleada de 6 a 0 sofrida para o Atlético-MG, que também entra em campo hoje ameaçado de rebaixamento para a Série B.

MERMÃO
Não foi apenas o Flamengo que deu desgosto aos cariocas neste Nacional. Depois de um Estadual empolgante, com grandes jogos e estádios cheios, o Rio viveu nove meses de ostracismo. Os quatro grandes estão com saldo negativo. O Vasco só se livrou do fantasma da segunda divisão na semana passada. O Fluminense faz apenas campanha medíocre -classificou-se para a Sul-Americana. E Flamengo e Botafogo jogam hoje com a espada da Série B sobre suas cabeças.

NAUFRÁGIO
Nada deu certo para o Grêmio no Nacional-04. Campeão mundial e bi brasileiro, o time gaúcho foi degolado da elite a três jornadas do final e vai disputar a Série B pela segunda vez. A campanha pífia, com apenas 9 vitórias em 45 rodadas, já garantiu ao Grêmio o "título" de lanterna do torneio, sete pontos atrás do Guarani, também rebaixado.

OBESO
Com 46 longas jornadas disputadas em oito meses, o Brasileiro emagrecerá em 2005. Pelos planos da CBF, essa foi a última vez que a divisão de elite contou com 24 equipes. No ano que vem, o número cairá para 22, para se estabilizar em 20 a partir da temporada 2006.

PRANCHETA
Equipes com técnicos historicamente vitoriosos em Brasileiros tiveram sucesso em campo. O santista Luxemburgo, quatro títulos nacionais no currículo, pode conquistar seu quinto troféu. O atleticano Levir Culpi jamais levou o Brasileiro, mas está entre os oito únicos treinadores da história a ter mais de cem vitórias em Nacionais.

QUILOMETRAGEM
O Brasileiro-04 não deu vez nem para os veteranos nem para os times centenários. Atletas que beiram os 40 anos, donos de salários polpudos, naufragaram. Romário teve seu contrato rescindido pelo Fluminense. Valdo é um dos símbolos do Botafogo. Santos e Atlético-PR, no páreo hoje pelo título, não têm nenhum titular "trintão".

ROBINHO
Com faro de gol incomum em sua carreira e sem o companheiro Diego na maior parte do Nacional, o santista de 20 anos foi alijado no meio do Brasileiro por causa do seqüestro de sua mãe. Mesmo fora de combate há seis rodadas, segue como o artilheiro do Santos, com 21 gols, ao lado de Deivid. Hoje, na decisão, está de volta.

STENT
Três túneis de aço que dilatam as veias são o símbolo do recordista de gols em uma edição de Brasileiro. Washington, 29, superou um grave problema cardíaco para comandar o Atlético-PR. Antes de marcar 33 vezes e de virar o maior ídolo rubro-negro, o atacante ficou um ano e meio longe do futebol e pensou em se aposentar.

TAPA-BURACO
Denis Marques, Basílio, William e Diego Tardelli. Os quatro não figuravam no 11 titular de suas equipes, mas viraram protagonistas do Brasileiro na reta final. O atacante do Atlético-PR substituiu Dagoberto e manteve seu time no páreo. Os santistas se revezaram para ocupar o espaço deixado por Robinho. E o são-paulino acabou com o entra-e-sai no ataque tricolor.

UAI
Depois de uma temporada gloriosa em 2003, Minas Gerais viu seu futebol murchar. O Cruzeiro, campeão no ano passado sob o comando de Luxemburgo, sofreu um desmanche e foi coadjuvante durante todo o campeonato. E o Atlético-MG, afundado em crise financeira, fez sua torcida sofrer. Apesar do sufoco, o time alvinegro só precisa de uma vitória hoje para seguir na elite.

VAZIO
Esta edição vai entrar para a história como a de menor público em 34 temporadas. Cálculo feito pela Folha na 40ª jornada revelou que os estádios perderam um milhão de torcedores em relação a 2003. Até o final de semana passado, a média era de 7.899 por partida. A Série B, disputada com quadrangulares finais, teve três jogos com mais de 50 mil pagantes. A partida mais prestigiada da elite levou 37 mil.

WEB
Pela primeira vez na história, relatórios de juízes, súmulas e borderôs dos jogos estiveram disponíveis na internet durante todas as jornadas. A divulgação na web passou a ser exigida a partir da promulgação do Estatuto do Torcedor, em 15 de maio de 2003. Na temporada passada, o sistema de divulgação on-line não abrangeu toda a competição. Apesar de ainda haver atrasos na publicação dos documentos pela CBF, o torcedor tem condições de saber, por exemplo, o que o juiz escreveu sobre seu ídolo ou quanto seu time arrecadou.

XAVECO
O namoro do meia Roger e da modelo e apresentadora Adriane Galisteu dividiu o elenco do Fluminense. O atacante Edmundo reclamou publicamente de supostos privilégios dados ao meia. Na reta final, Roger e Galisteu romperam, e o atacante se afastou do time para cuidar da vida e do coração.

Y
A letra foi excluída do Brasileiro-04. Sem ela, Vanderlei Luxemburgo (desidratado do "w" e do "y") está muito perto de ampliar o recorde de títulos nacionais. Se vencer hoje, o técnico conquistará seu quinto nacional -dois a mais que Rubens Minelli e Ênio Andrade. Luxemburgo pode superar também o recorde de tentos de uma equipe no Nacional, que pertence ao seu Cruzeiro de 2003 (102 gols).

ZVEITER
O presidente do STJD roubou a cena ao tirar mandos de campo, procurar torcedores atirando copos d'água no gramado e acatar denúncia contra o São Caetano pela morte de Serginho. Também será dele a bola na "47ª" rodada do Nacional, o julgamento que definirá a classificação final, na terça.


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