São Paulo, terça-feira, 20 de janeiro de 2004

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FUTEBOL

Quem tem medo do Portella?

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO

Pelo que leio, tem gente incomodada com o fato de o Flamengo ter contratado José Luiz Portella para assessorar a presidência do clube no desenho de uma nova estrutura para seu departamento de futebol.
Portella parece ser mesmo um incômodo para dirigentes e parte da mídia. Quando foi secretário-executivo do Ministério do Esporte, no final da gestão de Fernando Henrique Cardoso, ele fez o que muitos consideravam uma fantasia: utilizou seu bom trânsito com o presidente -que aparentemente tinha dificuldades, como aquela grã-fina de Nelson Rodrigues, até para identificar quem é a bola num jogo de futebol- para lançar as bases de uma nova legislação para o esporte.
Inconformado com o atraso, a falência, a corrupção, a falta de ética e profissionalismo da gestão do futebol brasileiro, Portella lutou, no pouco tempo que teve, para modificar esse quadro. Com muito "drive", tocou um projeto que ficou conhecido como "moralização do futebol". Conseguiu que FHC enviasse ao Congresso medidas provisórias criando novos critérios de gestão dos clubes, e articulou o Estatuto do Torcedor -que conferiu ao público de futebol um status inédito.
"Ah, mas o Portella exagerou", cochicham nas esquinas. "Exigiu demais", comentam nos salões. " "Vai ficar isolado", futricam nos toaletes. Ora, é esse então o problema? Que bom, não? Numa atividade que movimenta milhões, mas na qual a simples publicação de um balanço com auditagem independente é vista como uma revolução perigosa e indesejável, seria mesmo estranho se propostas como as de Portella fossem bem acolhidas por todos os nossos dirigentes -categoria, como se sabe, famosa pela honestidade, profissionalismo e eficiência. O conservadorismo no futebol brasileiro é pré-capitalista. É paroquial, é provinciano, é brasileirinho no pior sentido.
Por que tanto medo? Talvez Portella consiga recolocar o Flamengo na vanguarda do futebol brasileiro -onde esteve na primeira gestão de Márcio Braga- e demonstre que é possível implantar o modelo de gestão empresarial e profissional que tanto ameaça certa cartolagem. É mesmo um risco: e se o projeto funcionar? E logo no Flamengo, com aquela torcida toda, com aquele peso todo que o clube, apesar de tantos que tentaram destruí-lo, ainda mantém? O que vai ser? E qual será o próximo passo?
Isso seria uma grande encrenca para quem quer demonstrar que a melhor coisa a fazer no futebol é não fazer nada.
Afinal, somos penta, não é mesmo? Está tudo lindo. Beleza, amigos. Vamos manter o esqueminha gelatinoso, envolto em penumbra, para continuarmos beliscando uma comissão aqui e uma negociata acolá... É disso, afinal, que se trata.
Não me furtarei a criticar José Luiz Portella se considerar que devo. Não tenho nenhum compromisso com ele nem com seus opositores. Só não tenho é fôlego para esse rema-rema a favor do atraso.

Olha a máscara!
Espero que Diego volte à seleção pré-olímpica com uma lição na cabeça. Seu comportamento contra o Chile só confirmou as suspeitas de que o craque do Santos está muito cheio de si mesmo. E cheio de resmungos, de ceninhas, de reclamações. Será que esse exemplo vem de cima? Antigamente a gente chamava isso de máscara. E Diego está tropeçando nas fitinhas da sua. O pior mascarado, diga-se, é aquele que não ganha. Diego ainda precisa ganhar mais do que um Brasileiro -do qual esteve ausente, aliás, na final, machucando-se logo no início. Tem tudo para ser um craque, mas ainda não é. Carrega muito a bola e não consegue ser um ponto de equilíbrio e coordenação para a equipe. Já está na hora de ele vestir as sandalinhas da humildade.

E-mail mag@folhasp.com.br


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