São Paulo, quarta, 20 de janeiro de 1999

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Felipão estaria no olho da rua por menos

ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas

Na manhã seguinte à noite de aclamação de Mustafá, soberano da Turiassu e adjacências, lá vem Felipão cutucando o presidente que mal inicia o quarto mandato, um prodígio no Parque Antarctica, onde costumavam soar as cornetas mortais da era pré-Parmalat.
Resumindo as entrelinhas, o técnico aplaude a patrocinadora, que se empenha em buscar reforços de nível, como César Sampaio, Jackson e Rivarola, e condena a diretoria do clube, que sequer consegue acertar a permanência do garoto Rubens Júnior, lateral-esquerdo em quem Felipão bota muita fé.
Fosse em outros tempos, o técnico já estaria no olho da rua, por muito menos, ainda que senhor das torcidas.
Mas o Palmeiras mudou muito, se mudou, como dizem os velhos napolitanos.
Desde a parceria com a multinacional, o presidente sumiu das manchetes dos jornais e da frente das câmeras de TV ou dos microfones das rádios. Só aparece quando é absolutamente necessário e de forma muito discreta.
Eis aí o segredo da longa permanência no cargo.
Antigamente, por qualquer coisinha, lá estava Giuliano cercado de repórteres. E o Facchina, o saudoso tio do autor do contrato de co-gestão? Era uma eminência solar, nunca parda, iluminado por flashes e holofotes o tempo todo.
Isso, pelo que conheço de meus ancestrais, era puro veneno. Lenha sequinha na fogueira de vaidades que ardia no Parque dia e noite. E, por extensão, protege o técnico, permitindo-lhe até mesmo ironizar as decisões da diretoria: "Bem, se não der para acertar com o Rubens Júnior, vou pedir, então, o Sérginho, o Felipe, o Roger..."
O que é bom para o time de futebol, ainda que fel para a alma do soberano.

Torço para estar errado, mas desconfio que essa solução luxemburguesa para o Corinthians vai virar um problemão no primeiro tropeço.
Até agora, estamos em lua- de-mel, sob o embalo do título brasileiro conquistado no mês passado e a expectativa da Libertadores inédita.
Mas a história, nesses casos, está aí, implacável: em clubes como Corinthians, São Paulo e Palmeiras, soluções caseiras nunca vão além dos primeiros desencontros. Basta o Corinthians perder uma ou duas em seguida nesse Torneio Rio-São Paulo -o que não é nada impossível, já que só tem cobra criada na competição- e, pronto, a casa cai.
A não ser que, com esse negócio de parceria com banco Icatu e tal e cousa e lousa e maripousa, as coisas tenham mudado muito, se mudaram, no outro Parque também.

Enquanto isso... (sobe som, "My Way", na voz de Sinatra, como no saudoso Show de Rádio do Sangirardi) lá no outro extremo da cidade... no lugar de Didu Morumbi, tilintando cristais, ouvem-se grunhidos. São os novos tricolores se preparando para o jogo contra o Leverkusen, enquanto celebram a vitória de 4 a 1 sobre o Olímpia paraguaio.
No cardápio, cachaça de aperitivo, frango de TV e muita farofa, regados a um bom vinho de São Roque.
Como se vê, também no Morumbi as coisas mudaram muito, se mudaram.


Alberto Helena Jr. escreve aos domingos, às segundas e às quartas-feiras



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