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FUTEBOL
Otimistas e pessimistas
TOSTÃO
Tenho grande admiração pelos
pessimistas (realistas?). São sinceros e necessários. Os otimistas e
eufóricos sempre desvirtuam a
realidade. Vêem um mundo que
não existe, ou que existe só para
eles. Os otimistas também são necessários, nem que seja para iludir
ou animar os pessimistas.
Uma das grandes contribuições
de Freud foi dizer verdades que o
ser humano não queria ouvir.
Quando foi dar palestras, no início do século, nos EUA, disse para
seu então amigo Jung que levaria
a peste aos americanos. Estes, com
o puritanismo e a exagerada praticidade, escutaram duras verdades. Não sei se entenderam.
Freud dizia que o ser humano
(como Capitu) é dissimulado.
Sempre parece o que não é. A
máscara às vezes é necessária para a sobrevivência. Com o tempo,
o que era charmoso e ocasional
tornou-se comum, aceito e valorizado. As pessoas não são como
são. São o que os outros pensam
delas. Um personagem.
Frequentemente quando explica a razão de suas atitudes, o ser
humano inverte a ordem de importância ou nega a verdade. ""Fiz
isso por causa disso, isso..." E, no
final, completa: ""e também por isso". Algumas vezes, esse último
motivo é o único ou o mais verdadeiro. Seria como se a pessoa se
iludisse achando que está sendo
sincera quando menciona o real
motivo por último. Na maioria
das vezes, a pessoa mente mesmo,
com toda a lucidez.
No futebol, não poderia ser diferente. Quando o otimista Luxemburgo diz que o jogo contra a Tailândia será importante para fazer
observações técnicas antes das eliminatórias, no mínimo troca a ordem das coisas. É compreensível
que o técnico seja otimista. Talvez
alguma coisa possa ser aproveitada nesse jogo, que serve para ganhar mais um voto para o Brasil
abrigar a Copa de 2006.
O realista (ou pessimista) colunista e comentarista Fernando
Calazans tirou férias e disse que
não quer ter o desgosto de ver a seleção ser tão banalizada, enfrentando a Tailândia.
Quando Zico, ídolo de todos
nós, assume a função de garoto-propaganda da CBF e enfatiza
que, por meio da Copa de 2006, o
Brasil fará modificações nas cidades e nos estádios com grandes benefícios à população, na verdade
inverte ou desconhece os principais motivos. O maior deles é que
poucos vão faturar muito (financeira ou politicamente), enquanto
nosso pobre país vai investir muito dinheiro. É evidente que Zico
não está nessa turma, mas é sempre atraente ficar perto do poder.
Enfim, o que seria do mundo se
não houvesse os otimistas e pessimistas? O que seria da alegria sem
a tristeza, dos santos sem os pecadores, do governo sem a oposição,
de Luxemburgo sem a crítica e a
torcida de Londrina, da música
de Chico Buarque sem o pagode,
da realidade sem a fantasia?
A idéia inicial da escalação do
meio-campo do time pré-olímpico
era boa, mas Fabiano e Mozart
não tinham habilidade nem mobilidade para defender e atacar.
Na prática, eram três volantes,
tornando o time pouco ofensivo.
No amistoso de quarta-feira,
provavelmente jogarão Émerson,
Zé Roberto, Juninho e Rivaldo. O
técnico tem duas opções táticas:
colocar Émerson e Zé Roberto de
volantes, um ao lado do outro, Juninho na meia direita e Rivaldo
na meia-esquerda. A outra opção
é repetir o esquema inicial do Pré-Olímpico, com Émerson mais recuado pelo meio, Juninho pela direita, Zé Roberto pela esquerda e
Rivaldo perto dos dois atacantes.
As chances de dar certo são grandes, já que Juninho e Zé Roberto
têm muito mais mobilidade e capacidade de apoiar e marcar do
que Mozart e Fabiano.
Esse time está próximo do que
vai estrear nas eliminatórias. A
escalação de Juninho sugere que
Luxemburgo pretende realizar
seu antigo sonho -barrar Vampeta. A alegação de que o jogador
não foi convocado para não retirar dois do Corinthians (Dida foi
chamado) não procede, já que foram convocados dois do Palmeiras (Marcos e Roque Júnior). O
Corinthians só volta a jogar em 3
de março e, portanto, poderia ceder mais jogadores. Aliás, para
que convocar Marcos e desfalcar o
Palmeiras no Rio São-Paulo se o
goleiro ficar no banco? Felipão
tem razão em reclamar.
Com essa convocação, Luxemburgo também manda o aviso de
que não há lugar para Alex no time titular. Ele é reserva de Rivaldo. Conheço essa história. O tempo vai arrumar lugar para os dois.
Na verdade, escrevo sobre nada,
porque esse amistoso só serve para
a CBF ganhar mais um voto para
o Brasil abrigar a Copa de 2006.
Qualquer esquema tático e jogador podem ser maravilhosos
quando se enfrenta adversários
inexistentes.
E-mail: tostao.folha@uol.com.br
Tostão escreve aos domingos e às quartas-feiras
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