São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 2000


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Otimistas e pessimistas

TOSTÃO

Tenho grande admiração pelos pessimistas (realistas?). São sinceros e necessários. Os otimistas e eufóricos sempre desvirtuam a realidade. Vêem um mundo que não existe, ou que existe só para eles. Os otimistas também são necessários, nem que seja para iludir ou animar os pessimistas.
Uma das grandes contribuições de Freud foi dizer verdades que o ser humano não queria ouvir. Quando foi dar palestras, no início do século, nos EUA, disse para seu então amigo Jung que levaria a peste aos americanos. Estes, com o puritanismo e a exagerada praticidade, escutaram duras verdades. Não sei se entenderam.
Freud dizia que o ser humano (como Capitu) é dissimulado. Sempre parece o que não é. A máscara às vezes é necessária para a sobrevivência. Com o tempo, o que era charmoso e ocasional tornou-se comum, aceito e valorizado. As pessoas não são como são. São o que os outros pensam delas. Um personagem.
Frequentemente quando explica a razão de suas atitudes, o ser humano inverte a ordem de importância ou nega a verdade. ""Fiz isso por causa disso, isso..." E, no final, completa: ""e também por isso". Algumas vezes, esse último motivo é o único ou o mais verdadeiro. Seria como se a pessoa se iludisse achando que está sendo sincera quando menciona o real motivo por último. Na maioria das vezes, a pessoa mente mesmo, com toda a lucidez.
No futebol, não poderia ser diferente. Quando o otimista Luxemburgo diz que o jogo contra a Tailândia será importante para fazer observações técnicas antes das eliminatórias, no mínimo troca a ordem das coisas. É compreensível que o técnico seja otimista. Talvez alguma coisa possa ser aproveitada nesse jogo, que serve para ganhar mais um voto para o Brasil abrigar a Copa de 2006.
O realista (ou pessimista) colunista e comentarista Fernando Calazans tirou férias e disse que não quer ter o desgosto de ver a seleção ser tão banalizada, enfrentando a Tailândia.
Quando Zico, ídolo de todos nós, assume a função de garoto-propaganda da CBF e enfatiza que, por meio da Copa de 2006, o Brasil fará modificações nas cidades e nos estádios com grandes benefícios à população, na verdade inverte ou desconhece os principais motivos. O maior deles é que poucos vão faturar muito (financeira ou politicamente), enquanto nosso pobre país vai investir muito dinheiro. É evidente que Zico não está nessa turma, mas é sempre atraente ficar perto do poder.
Enfim, o que seria do mundo se não houvesse os otimistas e pessimistas? O que seria da alegria sem a tristeza, dos santos sem os pecadores, do governo sem a oposição, de Luxemburgo sem a crítica e a torcida de Londrina, da música de Chico Buarque sem o pagode, da realidade sem a fantasia?
  A idéia inicial da escalação do meio-campo do time pré-olímpico era boa, mas Fabiano e Mozart não tinham habilidade nem mobilidade para defender e atacar. Na prática, eram três volantes, tornando o time pouco ofensivo.
No amistoso de quarta-feira, provavelmente jogarão Émerson, Zé Roberto, Juninho e Rivaldo. O técnico tem duas opções táticas: colocar Émerson e Zé Roberto de volantes, um ao lado do outro, Juninho na meia direita e Rivaldo na meia-esquerda. A outra opção é repetir o esquema inicial do Pré-Olímpico, com Émerson mais recuado pelo meio, Juninho pela direita, Zé Roberto pela esquerda e Rivaldo perto dos dois atacantes. As chances de dar certo são grandes, já que Juninho e Zé Roberto têm muito mais mobilidade e capacidade de apoiar e marcar do que Mozart e Fabiano.
Esse time está próximo do que vai estrear nas eliminatórias. A escalação de Juninho sugere que Luxemburgo pretende realizar seu antigo sonho -barrar Vampeta. A alegação de que o jogador não foi convocado para não retirar dois do Corinthians (Dida foi chamado) não procede, já que foram convocados dois do Palmeiras (Marcos e Roque Júnior). O Corinthians só volta a jogar em 3 de março e, portanto, poderia ceder mais jogadores. Aliás, para que convocar Marcos e desfalcar o Palmeiras no Rio São-Paulo se o goleiro ficar no banco? Felipão tem razão em reclamar.
Com essa convocação, Luxemburgo também manda o aviso de que não há lugar para Alex no time titular. Ele é reserva de Rivaldo. Conheço essa história. O tempo vai arrumar lugar para os dois.
Na verdade, escrevo sobre nada, porque esse amistoso só serve para a CBF ganhar mais um voto para o Brasil abrigar a Copa de 2006. Qualquer esquema tático e jogador podem ser maravilhosos quando se enfrenta adversários inexistentes.

E-mail: tostao.folha@uol.com.br


Tostão escreve aos domingos e às quartas-feiras

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