São Paulo, segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

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FUTEBOL

Pão amanhecido, vinho avinagrado

JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA

Na guerra de desgaste que o Corinthians move contra a MSI, a contratação de Marcelinho é só mais um capítulo.
Marcelinho ganhou tudo o que poderia ganhar pelo Corinthians, mas seu tempo já passou.
Se um dia foi o "Marcelinho, pão e vinho", título de um filme espanhol dos anos 50 -épico/religioso que, na verdade, tinha como personagem um menino chamado Marcelino-, hoje o pão amanheceu e o vinho avinagrou.
São tempos de Carlitos Tevez.
Uma coisa é o Corinthians, dentro de seu direito, negociar a pendência trabalhista que tem com o ex-atleta, outra é contratá-lo para jogar no time de profissionais em vez de no de veteranos.
Não será surpresa se a MSI simplesmente vetar a presença do ídolo, mesmo sob o risco de ficar mal com parte da torcida -embora desfrute de consistente capital acumulado com ela.
Porque ou Kia Joorabchian rejeita a provocação ou dá adeus à sua autoridade sobre o futebol corintiano -coisa que o contrato da parceria lhe garante.
Aliás, surpreendente tem sido a manifestação colhida em meu blog no UOL sobre o assunto.
Um comentário como este lá publicado, na sexta-feira, tem recebido muito mais opiniões contrárias ao pequeno grande encrenqueiro do que a favor, o que pode significar que a "Gaviões da Fiel" (trabalhada pelo marqueteiro nos últimos meses, aí incluída a manifestação no jogo contra o Brasiliense, no Pacaembu) está na contramão do sentimento do torcedor comum, ou, pelo menos, do mais consciente.
No sábado, esta Folha mostrou os números da óbvia decadência de Marcelinho, que, além do mais, no máximo, poderá ser recebido com resignação por Ricardinho, nunca com entusiasmo.
Enciumado com o prestígio que Joorabchian angariou entre os fiéis, Alberto Dualib, não satisfeito em se cercar do que há de pior dentro do Corinthians (dois "anões do orçamento" e, agora, um grandão), busca mais uma maçã decomposta para ver se diminui sua rejeição entre os alvinegros. Mais: o cartola do "um-zero-zero" quer que a MSI volte a pagar a mesada que deu ao clube social durante o ano passado (R$ 600 mil por mês), com o que ficará bem com seu eleitorado da bocha etc, algo que poderá ser resolvido nestes dias, em Londres, onde Dualib está e para onde Joorabchian, contrariado por achar que deveria permanecer com o time na Libertadores, embarcaria ontem à noite.
Há, ainda, um interesse não explicitado neste cipoal de comissões sempre nebulosas: a advogada Gislaine Nunes tem como seus clientes Marcelinho e Luizão.
E por falar em transações nebulosas: quanto tempo mais levará a Polícia Federal para concluir o inquérito MSI-Corinthians?
Afinal, as relações com o mafioso russo Boris Berezovski já estão mais que comprovadas pelos próprios cartolas corintianos.
A demora pega mal, mesmo porque um dos advogados da MSI é sobrinho do ministro da Justiça, chefe da Polícia Federal.

Fácil como nunca
Não é à toa que São Paulo e Corinthians têm feito tantos gols no Campeonato Paulista. Exceção feita ao Noroeste, que já enfrentou dois grandes (ganhou do Corinthians com ajuda da arbitragem, logo na rodada inicial, e perdeu para o Santos), e o sempre duro São Caetano, os demais pequenos estão fragílimos. Uma festa para o artilheiro Nilmar, embora o São Paulo seja o time que dê mais gosto de ver. O tricolor, por sinal, pode até não ganhar nada neste ano, porque futebol é futebol. Mas, se mantiver o nível, poderá, também, ganhar tudo o que disputar. Thiago é um achado, e Danilo se firmou como um jogador de rara eficácia, tanto na armação quanto na finalização. São Paulo e Corinthians são, com folga, os melhores times do país.

blogdojuca@uol.com.br

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