São Paulo, sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

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Campeã olímpica precoce, polonesa morre aos 26 anos

Kamila Skolimowska conquistou o ouro no lançamento de martelo na Olimpíada de Sydney, em 2000, aos 17 anos

Causa da morte da atleta, que passou mal quando fazia musculação, pode ser mesma doença cardíaca que matou jogadores de futebol

ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Tudo na vida de Kamila Skolimowska foi precoce. Com 14 anos e 264 dias e competindo com rivais sub-20, ela venceu o Europeu júnior de lançamento de martelo. Aos 17 anos e 331 dias, tornou-se a primeira campeã olímpica da prova, que estreava nos Jogos de Sydney-00.
Só não é a mais jovem vencedora do atletismo olímpico porque perde, por alguns meses, para a alemã Ulrike Nasse- -Meyfarth, ouro no salto em altura em Munique-72 aos 16.
Na noite de anteontem, Kamila desmaiou quando fazia musculação durante treinamento da equipe polonesa na Vila Real de Santo Antonio, no sul de Portugal.
Estava acompanhada por outros sete atletas e três treinadores. "Pouco depois, ela se levantou e quase foi andando até a ambulância. Em seguida, desmaiou e não pôde mais ser reanimada", contou João Cabrita, diretor do complexo esportivo.
Segundo João Paulo Almeida, coordenador do centro de saúde da cidade, uma cardiopatia hipertrófica é a causa mais provável da morte da arremessadora. Kamila tinha 26 anos.
A atleta teve uma fibrilação ventricular (transtorno do ritmo cardíaco) que causou falha no bombeamento sanguíneo.
"É a mesma doença que matou Serginho, Feher, Foe...", enumera Nabil Ghorayeb, especialista em cardiologia do esporte, citando mortes ocorridas nos campos de futebol.
"Ela é a causa de entre 26% e 40%, dependendo da região, de mortes precoces, de indivíduos abaixo de 35 anos. Segundo o COI [Comitê Olímpico Internacional], 50% das mortes anuais de esportistas têm essa causa", acrescenta o médico.
Para Ghorayeb, duas razões principais fazem com que ocorram casos desse tipo no mundo esportivo: diagnóstico errado e falta de exames adequados.
"O início da cardiopatia hipertrófica é, muitas vezes, confundido com coração de atleta. A espessura da parede do coração no sedentário é de 8 mm a 9 mm. No atleta, entre 10 mm e 13 mm. No doente, varia entre 13 mm e 30 mm", explica ele.
Outro risco é o doping. De acordo com Rafael Trindade, coordenador médico da Agência Nacional Antidoping, o uso de substâncias para aumentar artificialmente a musculatura pode agravar o problema.
"Essa doença é genética, mas os esteroides anabólicos podem desencadear arritmias ou aumentar a espessura da parede do coração", diz o médico.
Oficialmente, não é o caso de Kamila. A atleta nunca havia sido flagrada em teste nem teve resultado suspeito investigado.
Na semana passada, ela se queixara de dores, mas não foi ao médico. É outro problema grave no esporte. "Apesar das mudanças de atitude, 60% dos atletas nunca passaram pelo clínico geral", diz Ghorayeb.


Com agências internacionais

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