São Paulo, sábado, 20 de fevereiro de 2010

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MOTOR

Um beijo, Susan


Diante da soberba reinante na F-1, dono da Lotus destoa e faz sua nova equipe merecer comparações com a antiga

FÁBIO SEIXAS
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

ERA O lançamento de um carro de F-1. Mais, a apresentação de uma escuderia. Mais ainda, o retorno de uma marca histórica, mítica. O local, o Royal Horticultural Society's Lawrence Hall, um símbolo da aristocracia londrina. Como bem definiu um colega, palco ideal para tal evento, "muito clássico, muito britânico, muito... Lotus".
Em exibição, modelos como o carro-asa de Andretti e a 97T de Senna. Circulando por ali, Moss e Mansell. E, em meio a tanto frisson, de certo deslumbramento com as linhas do modelo, de vibração com a volta do tradicional verde da era do amadorismo, um detalhe passou batido. Susan Bull. A faxineira. Ela não foi objeto de reportagens.
Ela não concedeu entrevistas. Ela continua incógnita. Mas estava lá. Mais do que isso. Susan foi citada no discurso do dono da equipe.
Não foi deferência especial. O bilionário malaio Tony Fernandes, cujo negócio mais vistoso é a Air Asia, convidou à festa todos os funcionários do time. Colocou ônibus na porta da fábrica, em Norfolk, para que ninguém perdesse a boquinha.
E, no pronunciamento aos jornalistas, mencionou os nomes dos 160. Um discurso longo, segundo li por aí, em tom de crítica. Sim, imagino que tenha sido, pronunciar 160 nomes deve tomar um belo tempo.
Mas a crítica tem mais a ver com a soberba notória e intrínseca da F-1 do que com alguma preocupação com horário. Está mais ligada ao fato de Fernandes ser um outsider do que com qualquer outro motivo.
Este colunista duvidou, meses atrás, de que esta Lotus fosse sair do papel. Rechaçou qualquer relação entre esta empreitada e o antigo time. Dobrou-se aos fatos no primeiro caso. Mudou de ideia no segundo.
Porque o carro andou nesta semana em Jerez. E porque a nova Lotus não apenas conta com a bênção da família Chapman como carrega aquele velho espírito de experimentação: se a F-1 não cita faxineiras em seus discursos, Fernandes o faz.
Já é diferente. Sua equipe já valeu a pena. A Lotus, que deve ter sido cuidada com todo o carinho por Susan nesta semana, já é vencedora.

ALÍVIO?
Campos abriu mão do sonho de ser dono de equipe, e agora a Dallara corre para tentar levar os carros ao Bahrein. Ótima notícia para Bruno, que vê o fim de um drama. Mas que se prepare para outro: Kolles, anunciado como chefe do time, é alguém que trata as pessoas como descartáveis, a síntese da tal soberba que domina o paddock da F-1.

COINCIDÊNCIA?
Em 91, Newey fez um Williams rápido, mas que quebrava. Em 92, ganhou o título com facilidade. Em 2009, Newey fez um Red Bull rápido, mas que quebrava. Ontem, Webber colocou a Red Bull na frente pela segunda vez na semana.

fabioseixas.folha@uol.com.br


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