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FUTEBOL
Ro-Ri-Ro, a esperança
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O empate da seleção no
amistoso contra Portugal
deixou alguns motivos para esperança e outros para apreensão.
Comecemos pela apreensão, para não terminar este texto com
um tom sombrio.
O sistema defensivo da seleção
brasileira mostrou-se frágil, não
só no lance do gol português, que
pegou no contrapé dois de nossos
jogadores, mas em praticamente
todas as bolas altas cruzadas na
nossa área.
A interpretação de Scolari para
o fato é exatamente oposta à minha. Para o treinador, faltou
"uma atitude mais viril" aos volantes e zagueiros.
Para mim, o problema se divide
em duas partes. Por um lado, há
falhas no posicionamento e, sobretudo, no entrosamento entre
zagueiros, volantes e alas.
Nos cruzamentos pelo alto, nossos jogadores continuam "marcando a bola", e não os adversários. Os três zagueiros têm também o costume de se lançar ao
ataque, sem a devida coordenação e sem o recuo de um dos alas
para prevenir um contragolpe.
A segunda parte do problema é
a dificuldade de nosso setor defensivo de sair de uma marcação
por pressão, como a que a equipe
de Portugal realizou durante
uma parte do jogo.
Isso se deve, a meu ver, ao número excessivo de zagueiros e volantes defensivos e à ausência de
meio-campistas mais versáteis e
habilidosos.
Como assim? Excesso de zagueiros e cabeças-de-área enfraquece
a defesa?
Na minha opinião, sim. Explico:
bola que sai da defesa de qualquer jeito (num chutão, num passe errado ou num chute para fora) volta rapidinho. O mesmo vale para as faltas que cometemos.
Sem dispor de jogadores que
saibam trabalhar e proteger a bola a partir de nossa intermediária, perdemos a todo momento a
iniciativa do jogo. Assim, nem
com sete zagueiros conseguiríamos ter segurança.
O Corinthians de Parreira tem
mostrado fartamente o seguinte:
a melhor maneira de correr poucos riscos na defesa é valorizar a
posse de bola, mantendo a iniciativa das ações.
O Corinthians, cabe lembrar,
joga com dois zagueiros de área e
nenhum cabeça-de-área típico.
Tanto Fabrício como Vampeta
sabem tocar a bola e sair para o
jogo. Os dois laterais apóiam
constantemente o ataque, mas se
alternam na cobertura.
Com isso, mesmo jogando com
três atacantes, o time conseguiu
ser o que menos tomou gols no
Torneio Rio-São Paulo.
O segredo, portanto, é a qualidade do meio-campo (Vampeta,
Ricardinho e Fabrício).
Na seleção, a filosofia é outra.
Scolari opta por congestionar
nosso campo com três zagueiros e
dois volantes defensivos. Fica um
buraco entre esse bloco pesado e
inábil e os homens de frente.
A solução não é aumentar a
"virilidade". Contra Portugal fizemos 27 faltas, muitas delas violentas e desnecessárias. Não é por
aí que vamos progredir.
Pois bem, e os motivos para esperança? Eles se resumem ao trio
Ro-Ri-Ro.
Mesmo com Ronaldo fora de
forma e Rivaldo visivelmente sem
condição de jogo, foi possível vislumbrar, em alguns lampejos, o
que esse trio será capaz de fazer
no Oriente.
E numa coisa eu concordo com
Scolari: Ronaldinho Gaúcho poderá ser um dos astros da Copa.
Isto é: se o próprio Scolari não
atrapalhar.
Os "introcáveis"
Ainda a seleção. Há dois jogadores considerados intocáveis: Cafu e Emerson. Mas
acho que justamente eles deveriam ser trocados. Dizem
que ambos jogam bem na
Roma, mas na seleção Emerson está cada vez mais pesado e faltoso. Chega atrasado e
atropelando. Cafu, por sua
vez, marca mal e passa pior
ainda. Sei que é tarde, mas
talvez Vampeta (que voltou a
jogar bem) e Paulo César fossem boas opções.
Com ele não muda
Tirar Ricardo Teixeira do trono não basta para mudar o
futebol. Mas mudar apenas
as normas que regem clubes e
federações, dando ao mesmo
tempo uma força aos atuais
cartolas, como está fazendo o
governo, também não anima
muito. É preciso fazer as duas
coisas: atacar as causas da
corrupção e afastar os corruptos. Senão, eles dão um nó
nas leis e continua tudo igual.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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