São Paulo, sábado, 20 de abril de 2002

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FUTEBOL

Ro-Ri-Ro, a esperança

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O empate da seleção no amistoso contra Portugal deixou alguns motivos para esperança e outros para apreensão.
Comecemos pela apreensão, para não terminar este texto com um tom sombrio.
O sistema defensivo da seleção brasileira mostrou-se frágil, não só no lance do gol português, que pegou no contrapé dois de nossos jogadores, mas em praticamente todas as bolas altas cruzadas na nossa área.
A interpretação de Scolari para o fato é exatamente oposta à minha. Para o treinador, faltou "uma atitude mais viril" aos volantes e zagueiros.
Para mim, o problema se divide em duas partes. Por um lado, há falhas no posicionamento e, sobretudo, no entrosamento entre zagueiros, volantes e alas.
Nos cruzamentos pelo alto, nossos jogadores continuam "marcando a bola", e não os adversários. Os três zagueiros têm também o costume de se lançar ao ataque, sem a devida coordenação e sem o recuo de um dos alas para prevenir um contragolpe.
A segunda parte do problema é a dificuldade de nosso setor defensivo de sair de uma marcação por pressão, como a que a equipe de Portugal realizou durante uma parte do jogo.
Isso se deve, a meu ver, ao número excessivo de zagueiros e volantes defensivos e à ausência de meio-campistas mais versáteis e habilidosos.
Como assim? Excesso de zagueiros e cabeças-de-área enfraquece a defesa?
Na minha opinião, sim. Explico: bola que sai da defesa de qualquer jeito (num chutão, num passe errado ou num chute para fora) volta rapidinho. O mesmo vale para as faltas que cometemos.
Sem dispor de jogadores que saibam trabalhar e proteger a bola a partir de nossa intermediária, perdemos a todo momento a iniciativa do jogo. Assim, nem com sete zagueiros conseguiríamos ter segurança.
O Corinthians de Parreira tem mostrado fartamente o seguinte: a melhor maneira de correr poucos riscos na defesa é valorizar a posse de bola, mantendo a iniciativa das ações.
O Corinthians, cabe lembrar, joga com dois zagueiros de área e nenhum cabeça-de-área típico. Tanto Fabrício como Vampeta sabem tocar a bola e sair para o jogo. Os dois laterais apóiam constantemente o ataque, mas se alternam na cobertura.
Com isso, mesmo jogando com três atacantes, o time conseguiu ser o que menos tomou gols no Torneio Rio-São Paulo.
O segredo, portanto, é a qualidade do meio-campo (Vampeta, Ricardinho e Fabrício).
Na seleção, a filosofia é outra. Scolari opta por congestionar nosso campo com três zagueiros e dois volantes defensivos. Fica um buraco entre esse bloco pesado e inábil e os homens de frente.
A solução não é aumentar a "virilidade". Contra Portugal fizemos 27 faltas, muitas delas violentas e desnecessárias. Não é por aí que vamos progredir.
Pois bem, e os motivos para esperança? Eles se resumem ao trio Ro-Ri-Ro.
Mesmo com Ronaldo fora de forma e Rivaldo visivelmente sem condição de jogo, foi possível vislumbrar, em alguns lampejos, o que esse trio será capaz de fazer no Oriente.
E numa coisa eu concordo com Scolari: Ronaldinho Gaúcho poderá ser um dos astros da Copa.
Isto é: se o próprio Scolari não atrapalhar.

Os "introcáveis"
Ainda a seleção. Há dois jogadores considerados intocáveis: Cafu e Emerson. Mas acho que justamente eles deveriam ser trocados. Dizem que ambos jogam bem na Roma, mas na seleção Emerson está cada vez mais pesado e faltoso. Chega atrasado e atropelando. Cafu, por sua vez, marca mal e passa pior ainda. Sei que é tarde, mas talvez Vampeta (que voltou a jogar bem) e Paulo César fossem boas opções.

Com ele não muda
Tirar Ricardo Teixeira do trono não basta para mudar o futebol. Mas mudar apenas as normas que regem clubes e federações, dando ao mesmo tempo uma força aos atuais cartolas, como está fazendo o governo, também não anima muito. É preciso fazer as duas coisas: atacar as causas da corrupção e afastar os corruptos. Senão, eles dão um nó nas leis e continua tudo igual.

E-mail jgcouto@uol.com.br



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