São Paulo, terça-feira, 20 de abril de 2004

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BASQUETE

Pobre paulista

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Nada mais apropriado, simbólico: logo no primeiro Nacional das cruéis maratonas rodoviárias, o basquete de São Paulo caiu na estrada e se mandou. Nunca foi tão pífio o desempenho dos representantes do Estado que mais bate (ainda) a bola laranja.
A duas semanas do encerramento da fase de classificação da malfadada "liga do busão" -com uma média de cinco partidas restantes por equipe-, metade da legião paulista se encontra virtualmente alijada da disputa por uma vaga nos mata-matas.
A tão anunciada derrocada de Franca enfim se consumou. O time de tantas tradições tombou em 15 de 24 rodadas, performance idêntica à do jovem Paulistano, que chegou a ser lançado como candidato à sensação do ano. Completa o trio da decepção o clube de Casa Branca, que, com 7 vitórias e 17 derrotas, aparecia ontem na lanterna do torneio.
Tampouco há motivo para festa entre os que conseguem emplacar a zona de classificação.
Araraquara não parece ter material humano para confirmar nos playoffs a campanha (15v e 10d) que por ora lhe garante a quarta colocação. Ribeirão Preto (15v e 10 d) tateia à procura da coesão técnica/emocional que pavimentou a conquista do troféu em 2003. E Mogi (14v e 12d) perde tempo e energia tentando explicar como um elenco tão poderoso pode se arrastar na competição, brigar somente pela oitava e última vaga para a próxima fase.
Até ontem, as seis equipes paulistas haviam levado a melhor em 46 de 102 oportunidades. Um aproveitamento (45,1%) patético, que rende só a quinta colocação em um ranking por Estados.
Em primeiro, surgem Goiás (69,2%) e Minas Gerais (69%). Os goianos aceleram no vácuo do fabuloso retrospecto do Ajax (18v e 8d) em seus domínios (11v e 1d). Os mineiros, por sua vez, são alçados pelo experiente Uberlândia, líder (17v e 4d) e melhor campanha longe de casa (8v e 2d).
Acima de São Paulo, na tabela imaginária, também aparecem Rio de Janeiro (54,4%), do admirável Flamengo, e Paraná (48%), do cambaleante Londrina.
A erosão do basquete paulista não foi um acaso. Há anos a confederação brasileira pratica/endossa uma política expansionista, muitas vezes à custa dos genuínos pólos de prática da modalidade.
Este espaço nunca poupou críticas à estratégia -a menos que os novos times fixem raízes e invistam na formação de atletas, tudo não passa de marquetagem mambembe, vagabunda.
Mas isso não dá a São Paulo o direito de se resignar. Ou o de chorar o desprestígio político e botar toda a culpa nas "balas perdidas" disparadas pela CBB.
O fiasco até aqui no Nacional masculino deve ser visto como um alerta. Talvez falte hoje qualidade e foco ao trabalho desenvolvido no Estado, que obteve 32 dos 37 títulos nacionais.
Afinal, o Fla entrou no campeonato deste ano sem dinheiro, sem craques, sem planejamento e até sem treinador -o barra-limpa Emanuel Bonfim assumiu no talo. E os rubro-negros, vice-colocados com 20 vitórias e 7 derrotas, também viajam só de ônibus.

SP 1
Ribeirão Preto lidera o ranking nacional em rebotes (33,8 por jogo). Mogi ocupa o topo nos tocos (4 por partida). Araraquara é quem mais cava lances livres (média de 31,6). Ninguém desperdiça menos a posse de bola do que Casa Branca (12 "turnovers" por jogo). Lição: estatísticas pouco valem se analisadas fora do contexto do torneio.

SP 2
Pode ocorrer um viravolta nos mata-matas? Claro. Ribeirão Preto e Mogi têm repertório para decolar. Mas eu não ponho a mão no fogo.

SP 3
Helinho, Valtinho, Rogério, Estevam e Janjão. A base do Uberlândia, que nesta noite joga pelo título sul-americano, passou por Franca.

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