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BASQUETE
Pobre paulista
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Nada mais apropriado, simbólico: logo no primeiro Nacional das cruéis maratonas rodoviárias, o basquete de São Paulo caiu na estrada e se mandou.
Nunca foi tão pífio o desempenho
dos representantes do Estado que
mais bate (ainda) a bola laranja.
A duas semanas do encerramento da fase de classificação da
malfadada "liga do busão"
-com uma média de cinco partidas restantes por equipe-, metade da legião paulista se encontra
virtualmente alijada da disputa
por uma vaga nos mata-matas.
A tão anunciada derrocada de
Franca enfim se consumou. O time de tantas tradições tombou
em 15 de 24 rodadas, performance
idêntica à do jovem Paulistano,
que chegou a ser lançado como
candidato à sensação do ano.
Completa o trio da decepção o
clube de Casa Branca, que, com 7
vitórias e 17 derrotas, aparecia
ontem na lanterna do torneio.
Tampouco há motivo para festa
entre os que conseguem emplacar
a zona de classificação.
Araraquara não parece ter material humano para confirmar
nos playoffs a campanha (15v e
10d) que por ora lhe garante a
quarta colocação. Ribeirão Preto
(15v e 10 d) tateia à procura da
coesão técnica/emocional que pavimentou a conquista do troféu
em 2003. E Mogi (14v e 12d) perde
tempo e energia tentando explicar como um elenco tão poderoso
pode se arrastar na competição,
brigar somente pela oitava e última vaga para a próxima fase.
Até ontem, as seis equipes paulistas haviam levado a melhor em
46 de 102 oportunidades. Um
aproveitamento (45,1%) patético,
que rende só a quinta colocação
em um ranking por Estados.
Em primeiro, surgem Goiás
(69,2%) e Minas Gerais (69%). Os
goianos aceleram no vácuo do fabuloso retrospecto do Ajax (18v e
8d) em seus domínios (11v e 1d).
Os mineiros, por sua vez, são alçados pelo experiente Uberlândia,
líder (17v e 4d) e melhor campanha longe de casa (8v e 2d).
Acima de São Paulo, na tabela
imaginária, também aparecem
Rio de Janeiro (54,4%), do admirável Flamengo, e Paraná (48%),
do cambaleante Londrina.
A erosão do basquete paulista
não foi um acaso. Há anos a confederação brasileira pratica/endossa uma política expansionista,
muitas vezes à custa dos genuínos
pólos de prática da modalidade.
Este espaço nunca poupou críticas à estratégia -a menos que os
novos times fixem raízes e invistam na formação de atletas, tudo
não passa de marquetagem
mambembe, vagabunda.
Mas isso não dá a São Paulo o
direito de se resignar. Ou o de
chorar o desprestígio político e
botar toda a culpa nas "balas perdidas" disparadas pela CBB.
O fiasco até aqui no Nacional
masculino deve ser visto como um
alerta. Talvez falte hoje qualidade e foco ao trabalho desenvolvido no Estado, que obteve 32 dos
37 títulos nacionais.
Afinal, o Fla entrou no campeonato deste ano sem dinheiro, sem
craques, sem planejamento e até
sem treinador -o barra-limpa
Emanuel Bonfim assumiu no talo. E os rubro-negros, vice-colocados com 20 vitórias e 7 derrotas,
também viajam só de ônibus.
SP 1
Ribeirão Preto lidera o ranking nacional em rebotes (33,8 por jogo).
Mogi ocupa o topo nos tocos (4 por partida). Araraquara é quem
mais cava lances livres (média de 31,6). Ninguém desperdiça menos a
posse de bola do que Casa Branca (12 "turnovers" por jogo). Lição:
estatísticas pouco valem se analisadas fora do contexto do torneio.
SP 2
Pode ocorrer um viravolta nos mata-matas? Claro. Ribeirão Preto e
Mogi têm repertório para decolar. Mas eu não ponho a mão no fogo.
SP 3
Helinho, Valtinho, Rogério, Estevam e Janjão. A base do Uberlândia,
que nesta noite joga pelo título sul-americano, passou por Franca.
E-mail melk@uol.com.br
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