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FUTEBOL
Peça por peça
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Retifico a frase "temos time", que usei como título de
uma coluna, há uns dois meses
atrás. O jogo de anteontem, contra a seleção da Catalunha, mostrou que até temos jogadores, mas
ainda não temos time.
O nível de entrosamento da
equipe de Scolari está próximo de
zero. Não temos padrão de jogo,
nem esquema definido de marcação, nem jogadas ensaiadas, nem
nada.
O que salva a seleção é o talento
de alguns jogadores. No sábado,
foi a vez de Ronaldinho Gaúcho e,
mais esporadicamente, Denílson.
Os dribles deste último enchem
os olhos da torcida, mas, quando
se tornam praticamente nossa
única jogada ofensiva, revelam
toda a nossa pobreza tática.
Por não haver armação no
meio-campo e nem entrosamento
entre os homens de frente, cada
um que pega a bola -seja Denílson, Ronaldo, Edílson ou Juninho
Paulista- tenta resolver sozinho.
O jogador mais lúcido do time,
Ronaldinho Gaúcho, até que tentou fazer tabelas com o outro Ronaldo, mas a falta de ritmo deste
último dificultou a empreitada.
Scolari, aparentemente, não está preocupado com essa falta de
fluência e de jogo coletivo. Se estivesse, ou se fosse um pouco mais
ousado, teria colocado em campo
o garoto Kaká, que tem mais capacidade de organização e de troca de passes que Juninho.
Outra coisa: a opção por três zagueiros e dois volantes essencialmente destruidores, além de diminuir as chances de criação do
time, não garantem sua força defensiva.
Mesmo sem ser grande coisa, a
seleção da Catalunha chegou perto do gol de Marcos várias vezes.
Até agora não se percebe bem
quem, entre os três zagueiros, é o
nosso líbero, e tampouco qual é a
área de atuação de cada um dos
outros dois.
Por tudo isso, não é correto dizer que faltam só alguns ajustes e
correções. Falta construir um time, setor por setor, peça por peça.
E a estréia na Copa é daqui a
duas semanas.
A sorte do Brasil é ter caído
num grupo relativamente fácil.
Assim, pelo menos teoricamente,
terá os três jogos da primeira fase
para tentar entrosar a equipe e
criar um padrão razoável de jogo.
Mesmo assim, não dá para esperar muito. Só teremos sucesso
nessa Copa se nossos craques estiverem inspirados.
Só que Rivaldo é dúvida e Ronaldo ainda está em recuperação.
Nosso único astro que está em
ponto de bala é Ronaldinho, o
gaúcho. Não se pode, porém, esperar que ele faça tudo, sob o risco
de repetir a expectativa excessiva
que pesou sobre seu xará na Copa
de 98.
Chega a ser irônico ver o rapaz
gaúcho ser considerado a grande
esperança da seleção até por
aqueles que dois anos atrás o enterraram, dizendo que seu talento
não passava de "fogo de palha".
Agora eles dizem o mesmo de Kaká.
Se o Brasil chegar às semifinais,
terá sido apesar de algumas teimosias de Scolari, como o excesso
de volantes e a falta de meias de
criação. E apesar, também, de
nossa carência em algumas posições, como a lateral direita, onde
Cafu é limitado e Belletti mais
ainda.
No futebol, entretanto, tudo pode acontecer. Em seus últimos
amistosos, as potências França,
Itália, Argentina e Inglaterra
também não foram muito bem. A
tendência para a Copa, ao que tudo indica, é de um nivelamento
por baixo.
Fim de feira
No Brasil, os donos do poder
costumam enfeitar uma realidade feia com os ornamentos da retórica. É o que ocorre
com os torneios estaduais.
Receberam o pomposo nome
de "supercampeonatos". Na
prática, foram esvaziados: os
clubes que os disputam estão
desfalcados e esfalfados, recém-saídos de torneios duros. Um retrato da situação
foi a realização do clássico
São Paulo x Palmeiras no estádio do São Caetano. É de
doer.
Desmanche verde
Se o Corinthians e o São Paulo estão desfalcados, o Palmeiras sofre um verdadeiro
desmanche. De todas as dispensas decididas por Luxemburgo, a mais enigmática é a
de Claudecir. Recuperado de
contusões, o jogador era um
dos poucos meio-campistas
capazes de defender e atacar
com qualidade. Por que abrir
mão dele?
E-mail jgcouto@uol.com.br
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