São Paulo, segunda-feira, 20 de maio de 2002

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FUTEBOL

Peça por peça

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Retifico a frase "temos time", que usei como título de uma coluna, há uns dois meses atrás. O jogo de anteontem, contra a seleção da Catalunha, mostrou que até temos jogadores, mas ainda não temos time.
O nível de entrosamento da equipe de Scolari está próximo de zero. Não temos padrão de jogo, nem esquema definido de marcação, nem jogadas ensaiadas, nem nada.
O que salva a seleção é o talento de alguns jogadores. No sábado, foi a vez de Ronaldinho Gaúcho e, mais esporadicamente, Denílson.
Os dribles deste último enchem os olhos da torcida, mas, quando se tornam praticamente nossa única jogada ofensiva, revelam toda a nossa pobreza tática.
Por não haver armação no meio-campo e nem entrosamento entre os homens de frente, cada um que pega a bola -seja Denílson, Ronaldo, Edílson ou Juninho Paulista- tenta resolver sozinho.
O jogador mais lúcido do time, Ronaldinho Gaúcho, até que tentou fazer tabelas com o outro Ronaldo, mas a falta de ritmo deste último dificultou a empreitada.
Scolari, aparentemente, não está preocupado com essa falta de fluência e de jogo coletivo. Se estivesse, ou se fosse um pouco mais ousado, teria colocado em campo o garoto Kaká, que tem mais capacidade de organização e de troca de passes que Juninho.
Outra coisa: a opção por três zagueiros e dois volantes essencialmente destruidores, além de diminuir as chances de criação do time, não garantem sua força defensiva.
Mesmo sem ser grande coisa, a seleção da Catalunha chegou perto do gol de Marcos várias vezes. Até agora não se percebe bem quem, entre os três zagueiros, é o nosso líbero, e tampouco qual é a área de atuação de cada um dos outros dois.
Por tudo isso, não é correto dizer que faltam só alguns ajustes e correções. Falta construir um time, setor por setor, peça por peça. E a estréia na Copa é daqui a duas semanas.
A sorte do Brasil é ter caído num grupo relativamente fácil. Assim, pelo menos teoricamente, terá os três jogos da primeira fase para tentar entrosar a equipe e criar um padrão razoável de jogo.
Mesmo assim, não dá para esperar muito. Só teremos sucesso nessa Copa se nossos craques estiverem inspirados.
Só que Rivaldo é dúvida e Ronaldo ainda está em recuperação. Nosso único astro que está em ponto de bala é Ronaldinho, o gaúcho. Não se pode, porém, esperar que ele faça tudo, sob o risco de repetir a expectativa excessiva que pesou sobre seu xará na Copa de 98.
Chega a ser irônico ver o rapaz gaúcho ser considerado a grande esperança da seleção até por aqueles que dois anos atrás o enterraram, dizendo que seu talento não passava de "fogo de palha". Agora eles dizem o mesmo de Kaká.
Se o Brasil chegar às semifinais, terá sido apesar de algumas teimosias de Scolari, como o excesso de volantes e a falta de meias de criação. E apesar, também, de nossa carência em algumas posições, como a lateral direita, onde Cafu é limitado e Belletti mais ainda.
No futebol, entretanto, tudo pode acontecer. Em seus últimos amistosos, as potências França, Itália, Argentina e Inglaterra também não foram muito bem. A tendência para a Copa, ao que tudo indica, é de um nivelamento por baixo.

Fim de feira
No Brasil, os donos do poder costumam enfeitar uma realidade feia com os ornamentos da retórica. É o que ocorre com os torneios estaduais. Receberam o pomposo nome de "supercampeonatos". Na prática, foram esvaziados: os clubes que os disputam estão desfalcados e esfalfados, recém-saídos de torneios duros. Um retrato da situação foi a realização do clássico São Paulo x Palmeiras no estádio do São Caetano. É de doer.

Desmanche verde
Se o Corinthians e o São Paulo estão desfalcados, o Palmeiras sofre um verdadeiro desmanche. De todas as dispensas decididas por Luxemburgo, a mais enigmática é a de Claudecir. Recuperado de contusões, o jogador era um dos poucos meio-campistas capazes de defender e atacar com qualidade. Por que abrir mão dele?

E-mail jgcouto@uol.com.br



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