São Paulo, quarta, 20 de maio de 1998

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FUTEBOL
Pesquisa realizada em Ozoir, sede da seleção, mostra que maioria das pessoas é contrária à presença do Brasil
Brasileiros são malvistos por anfitriões

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
MÁRIO MAGALHÃES
enviados especiais a Ozoir-la-Ferrière

A maioria dos habitantes de Ozoir-la-Ferrière, cidade da periferia de Paris que irá abrigar os treinos da seleção brasileira, não vê com bons olhos a chegada do time de Zagallo, marcada para sexta-feira.
Pesquisa encomendada pela Câmara Municipal de Ozoir aponta que 51% de seus habitantes estão insatisfeitos por receber a seleção.
Dos 426 moradores entrevistados entre 25 de abril e 7 de maio, 33% mostraram-se contentes com a vinda dos brasileiros, 14%, indiferentes, e 2% ou não tinham opinião formada ou preferiram não responder.
Entre os contrários à vinda do Brasil, 26% deram, como explicação, a confusão que será provocada no trânsito. A partir de sexta, quando os brasileiros chegarem à França, só poderão circular em Ozoir veículos que tiverem um passe especial. Cada carro que entrar na cidade terá de passar por uma barreira policial.
Além do problema de trânsito, encontrar vaga na rua em horários de treinos do Brasil virará tarefa das mais árduas.
Dos entrevistados, todos indivíduos com pelo menos 16 anos de idade, 23% citaram a perda do sossego noturno, quando deverão acontecer as festas dos brasileiros, e 18%, o aumento dos preços no comércio local, como principais fatores negativos de a cidade abrigar os treinos da seleção.
Dos que estão gostando de receber o Brasil, 26% disseram que Ozoir passará a ser conhecida internacionalmente, 25% lembraram que os comerciantes da região aumentarão seu faturamento e 22% citaram as festas, que deixarão a cidade mais animada.
Ozoir tem 22 mil habitantes.

Briga política
A possibilidade de a Prefeitura de Ozoir ter prejuízo com a vinda da seleção tornou-se um dos principais temas de discussão na Câmara Municipal.
Vereadores da oposição reclamam que a cidade investiu quase US$ 1 milhão a fundo perdido para receber os brasileiros.
O prefeito Jacques Loyer, do Partido Socialista, nega que haverá prejuízo. "Teremos várias fontes de receita, como as tribunas vip, os produtos Ozoir-Brasil, criados especialmente para o evento, e o aumento de faturamento com o comércio."
Loyer cita ainda como exemplo Los Gatos, cidade norte-americana que ficou conhecida por abrigar o Brasil na Copa-94, dizendo que isso acontecerá com Ozoir.
A oposição, no entanto, não se convence. "Só no gramado do estádio (dos Três Pinheiros, onde treinará a seleção), foram gastos mais de US$ 35 mil que não estavam no orçamento", reclama o vereador Jean-François Oneto.
Se, de fato, a prefeitura tiver prejuízo, Jacques Loyer tentará cobri-lo com aumento dos impostos de habitação, construção e terrenos não ocupados.
"Será um absurdo, porque no ano passado, sem o Brasil em Ozoir, esses impostos já subiram mais de 3%", protesta Gilbert Philibert, líder da oposição.
Durante a estada do Brasil em Ozoir, porém, o prefeito quer evitar polêmica.
"Esqueçamos durante um mês e meio aquilo que nos separa e mostremo-nos dignos da honra que nos foi concedida de receber a seleção campeã do mundo", apelou Loyer.
Seus opositores, apesar de terem aceitado o pedido de trégua, prometem voltar ao ataque depois de terminada a Copa.



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