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QUARTAS/ AMANHÃ
Fora do campo, rivais são antagônicos
Periferia e elite da bola se encontram
DOS ENVIADOS A HAMAMATSU
E DO ENVIADO A TSUNA
O confronto entre Inglaterra e
Brasil pelas quartas-de-final da
Copa do Mundo também é a disputa entre a elite e a periferia da
bola, pelo menos fora de campo.
A partida, envolvendo o futebol
verde-amarelo maculado pela
maior crise de sua história, poderá ser um termômetro da importância da estrutura e do planejamento no valor de uma seleção,
características inglesas.
Por outro lado, o jogo decisivo,
em caso de vitória do Brasil, terá o
efeito de reforçar o coro dos que
acreditam que futebol se vence
mesmo é dentro de campo, com a
força do talento individual.
Os ingleses possuem hoje o futebol mais rentável e organizado
do mundo, enquanto os brasileiros só definiram quem organizaria seu campeonato nacional deste ano há menos de um mês.
A Inglaterra teve só 11 técnicos
após a Segunda Guerra (de 1946
até os dias atuais). Enquanto isso,
apenas o lateral Cafu, que entrou
no time brasileiro nos anos 90,
trabalhou com oito treinadores
diferentes na seleção.
Os ingleses organizam o torneio
mais antigo do mundo, a Copa da
Inglaterra, que teve o seu início
em 1872. Os brasileiros tentaram
copiar o modelo europeu com a
Copa do Brasil, que começou em
1989, mas o torneio sempre teve
cunho político, oferecendo vagas
para a manutenção de Ricardo
Teixeira na presidência da CBF.
Na metade dos anos 90, quatro
anos de temporada do Campeonato Inglês foram vendidos por
nada menos do que US$ 1 bilhão,
enquanto o Brasileiro, mesmo
com o tetracampeonato conquistado nos EUA, nunca chegou a
US$ 100 milhões por temporada.
Enquanto o Flamengo, o time
mais popular do Brasil, tem dívida de mais de R$ 300 milhões, o
Manchester United recebeu proposta de Rupert Murdoch, magnata das comunicações, para ser
vendido por US$ 1,03 bilhão.
Quase 40% das receitas dos clubes ingleses são oriundas da venda de produtos licenciados -outros 40% são da TV e 20% são
provenientes de bilheterias.
No Brasil, os times ainda dependem da venda de suas revelações,
e não chega a 5% o total de receitas advindas do licenciamento de
produtos -daí a dependência da
TV, que hoje praticamente mantém os clubes vivos.
""Em um jogo desses você vai
querer vencer para mostrar que
tem qualidades e grandes jogadores. Mas, se a gente tivesse a organização que têm os ingleses, seria
muito mais fácil", disse o goleiro
Marcos sobre o abismo que separa o futebol dos dois países.
""Eles têm uma excelente estrutura e defendem o futebol inglês
com unhas e dentes", disse Juninho, que já jogou na Inglaterra
-defendeu o Middlesbrough.
""Lá não tem essa, não; perdeu,
perdeu, caiu, caiu [para a segunda divisão"", completou o meia
da seleção, em alusão às constantes viradas de mesa que costumam ocorrer no Brasil.
Mas nem tudo são flores no futebol da Inglaterra. Em dificuldades financeiras, a ITV Digital, que
detinha o contrato com a Liga de
Clubes, deixou de cumprir seus
compromissos com os times, que
já discutem a possibilidade de
adotar um teto salarial para seus
atletas.
(FÁBIO VICTOR, FERNANDO MELLO, JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO, JOSÉ
ALBERTO BOMBIG E SÉRGIO RANGEL)
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