São Paulo, quinta-feira, 20 de junho de 2002

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QUARTAS/ AMANHÃ

Fora do campo, rivais são antagônicos

Periferia e elite da bola se encontram

DOS ENVIADOS A HAMAMATSU
E DO ENVIADO A TSUNA

O confronto entre Inglaterra e Brasil pelas quartas-de-final da Copa do Mundo também é a disputa entre a elite e a periferia da bola, pelo menos fora de campo.
A partida, envolvendo o futebol verde-amarelo maculado pela maior crise de sua história, poderá ser um termômetro da importância da estrutura e do planejamento no valor de uma seleção, características inglesas.
Por outro lado, o jogo decisivo, em caso de vitória do Brasil, terá o efeito de reforçar o coro dos que acreditam que futebol se vence mesmo é dentro de campo, com a força do talento individual.
Os ingleses possuem hoje o futebol mais rentável e organizado do mundo, enquanto os brasileiros só definiram quem organizaria seu campeonato nacional deste ano há menos de um mês.
A Inglaterra teve só 11 técnicos após a Segunda Guerra (de 1946 até os dias atuais). Enquanto isso, apenas o lateral Cafu, que entrou no time brasileiro nos anos 90, trabalhou com oito treinadores diferentes na seleção.
Os ingleses organizam o torneio mais antigo do mundo, a Copa da Inglaterra, que teve o seu início em 1872. Os brasileiros tentaram copiar o modelo europeu com a Copa do Brasil, que começou em 1989, mas o torneio sempre teve cunho político, oferecendo vagas para a manutenção de Ricardo Teixeira na presidência da CBF.
Na metade dos anos 90, quatro anos de temporada do Campeonato Inglês foram vendidos por nada menos do que US$ 1 bilhão, enquanto o Brasileiro, mesmo com o tetracampeonato conquistado nos EUA, nunca chegou a US$ 100 milhões por temporada.
Enquanto o Flamengo, o time mais popular do Brasil, tem dívida de mais de R$ 300 milhões, o Manchester United recebeu proposta de Rupert Murdoch, magnata das comunicações, para ser vendido por US$ 1,03 bilhão.
Quase 40% das receitas dos clubes ingleses são oriundas da venda de produtos licenciados -outros 40% são da TV e 20% são provenientes de bilheterias.
No Brasil, os times ainda dependem da venda de suas revelações, e não chega a 5% o total de receitas advindas do licenciamento de produtos -daí a dependência da TV, que hoje praticamente mantém os clubes vivos.
""Em um jogo desses você vai querer vencer para mostrar que tem qualidades e grandes jogadores. Mas, se a gente tivesse a organização que têm os ingleses, seria muito mais fácil", disse o goleiro Marcos sobre o abismo que separa o futebol dos dois países.
""Eles têm uma excelente estrutura e defendem o futebol inglês com unhas e dentes", disse Juninho, que já jogou na Inglaterra -defendeu o Middlesbrough.
""Lá não tem essa, não; perdeu, perdeu, caiu, caiu [para a segunda divisão"", completou o meia da seleção, em alusão às constantes viradas de mesa que costumam ocorrer no Brasil.
Mas nem tudo são flores no futebol da Inglaterra. Em dificuldades financeiras, a ITV Digital, que detinha o contrato com a Liga de Clubes, deixou de cumprir seus compromissos com os times, que já discutem a possibilidade de adotar um teto salarial para seus atletas. (FÁBIO VICTOR, FERNANDO MELLO, JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO, JOSÉ ALBERTO BOMBIG E SÉRGIO RANGEL)


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