São Paulo, quinta-feira, 20 de junho de 2002

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QUARTAS/ AMANHÃ

Projeto rejuvenesce time, que usa sangue novo contra o Brasil

Fábrica inglesa de talentos vê maior teste para suas crias

PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A SEUL

Quando o lateral-esquerdo Ashley Cole, destaque da seleção inglesa na Copa-2002, nasceu, John Lennon já havia sido assassinado, Charles e Diana estavam na véspera de se casar e Margaret Thatcher já havia dado início à sua revolução liberal.
Cole, 21, é só um dos representantes da nova geração do futebol inglês, que vai enfrentar o Brasil nas quartas-de-final do Mundial.
Nenhuma das oito seleções que restam na competição aposta tanto no sangue novo quanto a comandada pelo sueco Sven Goran Eriksson. Além de Cole, são mais quatro jogadores nascidos nos anos 80 (o zagueiro Bridge, 21, os meias Hargreaves, 21, e Joe Cole, 20, e o atacante Vassel, 22). Além desses, o time tem outros cinco atletas com menos de 24.
A Alemanha, por exemplo, tem dois jogadores que nasceram nos anos 80, assim como o Brasil. A Turquia ostenta apenas um.
Além disso, na Inglaterra, jogadores jovens não estão no Mundial apenas para ganhar experiência, como fez o Brasil em 1994, com Ronaldo, e agora, com Kaká.
Toda a geração dos anos 80 convocada entrou em campo na primeira fase, antes de a equipe garantir a classificação às oitavas.
Em alguns momentos, Eriksson chegou a colocar três da geração anos 80 ao mesmo tempo no time, que ainda está invicto na Copa.
A turma "olímpica" teve papel ainda mais decisivo. Contra a Dinamarca, já pela segunda fase, os dois primeiros gols ingleses foram marcados por Rio Ferdinand, 23, e Owen, 22. O último foi marcado por Heskey, que completou 24 anos em janeiro.
Owen, aliás, foi quem marcou o início do rejuvenescimento da seleção de seu país, tradicional reduto de veteranos na Europa. Em 98, na França, ele e Rio Ferdinand eram os únicos com menos de 23 anos. Seu bom desempenho -fez um gol antológico contra a Argentina- incentivou a substituição de veteranos pelos jovens.
Na Copa da França, a Inglaterra tinha 11 jogadores com mais de 30 anos. Agora, são apenas seis.
Desses, quatro não jogaram um minuto sequer no Mundial. O único trintão com vaga de titular é o goleiro David Seaman, 38, um dos "vovôs" da Copa.
Juventude, na Inglaterra, não é sinônimo de inexperiência. Mesmo com vários jogadores sem vivência em Copas, o time não perde o controle. Segundo o Datafolha, a equipe registra, ao lado do Brasil, a segunda menor média de faltas cometidas por partida -13. O número de cartões também é baixo, tanto que a Inglaterra só recebeu quatro amarelos até aqui.
A nova cara inglesa é fruto de um projeto de longo prazo da federação de futebol do país.
A entidade tem um programa que, ao descobrir jovens talentosos, muda a vida desses garotos, que são colocados em regime de concentração em modernos centros de treinamento.
"Eu sou fruto desse programa. Eles me ajudaram até na assinatura do meu contrato com o time de Southampton, há quatro anos", afirma o zagueiro Bridge.
Para Emile Heskey, outro que passou pelo programa e hoje brilha no Liverpool, esse trabalho tem outras funções.
"Eles procuram formar não apenas jogadores, mas cidadãos. Somos instruídos a falar em público, a dar entrevistas, a comentar outros assuntos que não estão ligados ao futebol e a ter interesse por outras coisas também, até para o dia em que encerrarmos a carreira de atleta. É genial."


Colaborou João Carlos Assumpção, enviado especial a Tsuna


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