JUCA KFOURI
Colunista da Folha

Era preciso garantir torcida no primeiro Campeonato Mundial de Clubes oficialmente organizado pela Fifa.
Como o torneio será disputado em São Paulo e no Rio de Janeiro, tornou-se necessário inventar um critério que garantisse a inclusão de uma equipe de cada cidade.
O Palmeiras estava prestes a confirmar sua participação com a conquista da Taça Libertadores de 99, único meio, a exemplo dos outros campeões continentais desta temporada que estarão na competição, decente de garantir uma vaga.
Mas, e se o campeão brasileiro de 99 não for do Rio? E se o Palmeiras não ganhasse do Deportivo Cali?
Já imaginou? A América do Sul defendida pelos colombianos, e o representante brasileiro ser um clube fora do eixo Rio-São Paulo? Quem iria?
Pois, para não correr riscos, a CBF fez com que a Confederação Sul-Americana indicasse o Vasco, campeão da Libertadores de 98, poucos dias antes da decisão de 99.
De carona, a CBF achou a justificativa para indicar o Corinthians, campeão brasileiro de 98, em nome de uma risível uniformidade de critérios, embora não valha para África, Ásia, América do Norte e nem mesmo para Europa, cujo campeão, o Manchester United, só não virá porque resolveu priorizar o Campeonato Inglês.
O Mundial da Fifa já nasce irremediavelmente comprometido, sem representatividade, como um torneio qualquer, muito menos importante do que o jogo de Tóquio, entre os campeões Palmeiras e Manchester United, que representam os dois continentes onde se joga o melhor futebol do mundo.
Mas tem mais.
Por que a CBF trataria de beneficiar o Vasco, clube que tem negócios com Pelé?
O simples fato de pagar os favores que Eurico Miranda tem feito na Câmara Federal seria o suficiente.
Mas tem mais.
Eurico Miranda está rompendo com a empresa de Pelé, por causa do envolvimento desta, que representa a ISL, com o Flamengo.
E o Corinthians?
Ora, o Corinthians é Traffic, Traffic é CBF, é Klefer, empresa de Kleber Leite, a escolhida pela CBF para ser a responsável pelo marketing do Mundial de Clubes da Fifa.
Em resumo, em nome do negócio do futebol, vão desmoralizar o negócio do futebol, porque o critério esportivo é relegado a segundo plano, porque, por ora ao menos, são os velhos José Hawilla, Ricardo Teixeira, Kleber Leite, Eurico Miranda, Alberto Dualib os responsáveis pela modernização.
Não há, enfim, o que justifique os convites ao Corinthians e ao Vasco. E, quando Teixeira argumentou que não tinha nada a ver com a indicação do Vasco, que era coisa da Confederação Sul-Americana e que ele apenas obedeceu ao mesmo critério para indicar o Corinthians, não era nada disso. Tanto que, ao saber que a Confederação Sul-Americana já pensava em voltar atrás e indicar o campeão da Libertadores de 99, Teixeira saltou nos tamancos e declarou que lutaria pela permanência do Vasco.
Resta saber o que farão o Palmeiras, principalmente, e todos os demais clubes que participarão do Brasileiro de 99. Aceitarão passivamente, como gado?