São Paulo, sábado, 20 de julho de 2002

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CICLISMO

Atleta radicado na Itália disputa 11 etapas da Volta da França e recoloca o país no principal evento da modalidade

Depois de oito anos, Brasil pedala na elite

GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Ainda restavam 50 km para o término da primeira etapa da Volta da França quando o brasileiro Luciano Pagliarini perdeu o controle de sua bicicleta e beijou o asfalto das ruas de Luxemburgo.
Com as rodas quebradas e a perna direita sangrando, o ciclista cogitou abandonar a disputa ali mesmo, na primeira das mais de 40 cidades a serem percorridas. "Mas então pensei: estou na Volta da França. Já cheguei até aqui, não posso desistir", lembra o ciclista.
Pagliarini não desistiu. Consertou a bicicleta e completou o percurso de 192,5 km cinco minutos atrás do penúltimo colocado.
A perseverança do brasileiro de 24 anos, que defende a equipe italiana Lampre-Daikin, tinha justificava: desde 1903, quando a Volta começou a ser disputada, apenas quatro brasileiros levaram suas bicicletas às ruas francesas.
Conseguir entrar no evento é talvez mais difícil do que completar os 3.277,5 km do percurso.
A competição é disputada pelas 21 melhores equipes do mundo, a maioria européias. Cada time é integrado por mais de 30 ciclistas, mas apenas nove são selecionados para correr na competição.
"São apenas 189 vagas. Aqui está a elite da elite. Se europeus e norte-americanos têm dificuldade para entrar, imagine um brasileiro", disse Pagliarini à Folha.
O atleta, porém, não chegará ao fim da Volta da França, programado para domingo, dia 28, na avenida Champs-Elysées, em Paris. Ele abandonou ontem, na 12ª etapa, com dores no joelho. Sua performance, contudo, já recolocou o Brasil no mapa do ciclismo.
"Sempre quis completar a Volta, mas ainda sou jovem e posso obter performances melhores no futuro. Os organizadores até disseram que estavam com saudades da bandeira brasileira, que este ano voltei a exibir por aqui."
Bandeira que já tremulou com um ciclista local no lugar mais alto do pódio da competição -na edição de 1991, Mauro Ribeiro venceu a nona etapa da prova. E desde 1994 o Brasil não tinha um representante no evento.
São de Ribeiro as últimas recordações brasileiras na Volta. "Todo mundo me pergunta como está o Mauro. Muitos aqui correram com ele e demonstram grande admiração", declarou Pagliarini.
Natural de Arapongas, interior do Paraná, ele começou a competir aos 16 anos. Foi 12 vezes campeão brasileiro, conquistou três vezes a medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos e triunfou na 9 de Julho, principal prova do ciclismo brasileiro, em 1998.
O currículo o credenciou para tentar uma vaga em equipes de ponta do exterior. Em 1999, mudou-se para a Itália. Fez o teste para a Lampre-Daikin em 2000 e, no ano seguinte, assinou contrato com o time. Hoje vive na cidade de Treviso, com a mulher, Júlia.
Na sua primeira Volta da França, Pagliarini diz que não contou com a sorte, "que é importante em competições tão longas".
Após a queda na etapa inaugural, ele voltou a se machucar no sétimo estágio, realizado entre Bagnole-de-I'Orne e Avranches, na região da Normandia.
O ex-campeão mundial Oscar Freire (ESP) perdeu o controle de sua bicicleta e caiu no meio do pelotão. O brasileiro, que vinha logo atrás, "atropelou" o colega. Os dois foram parar na valeta da estrada. "O Oscar desistiu ali mesmo, mas resolvi continuar. Meu joelho estava doendo, mas achei que teria condições de aguentar. Só que ontem [anteontem" começaram as etapas de montanha. As subidas de 40 km exigiam muito, e a dor ficou insuportável".
O brasileiro retornou ontem para a Itália e vai assistir às etapas finais da Volta pela TV. Pagliarini, contudo, não tem dúvida em relação ao ciclista que cruzará a linha de chegada no primeiro posto.
"Armstrong está em um nível superior a todos nós. Ele ficará com o título novamente".
O norte-americano Lance Armstrong, que busca o quarto título consecutivo no evento, é o atual líder da Volta da França.


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