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CICLISMO
Atleta radicado na Itália disputa 11 etapas da Volta da França e recoloca o país no principal evento da modalidade
Depois de oito anos, Brasil pedala na elite
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Ainda restavam 50 km para o
término da primeira etapa da
Volta da França quando o brasileiro Luciano Pagliarini perdeu o
controle de sua bicicleta e beijou o
asfalto das ruas de Luxemburgo.
Com as rodas quebradas e a
perna direita sangrando, o ciclista
cogitou abandonar a disputa ali
mesmo, na primeira das mais de
40 cidades a serem percorridas.
"Mas então pensei: estou na Volta
da França. Já cheguei até aqui, não
posso desistir", lembra o ciclista.
Pagliarini não desistiu. Consertou a bicicleta e completou o percurso de 192,5 km cinco minutos
atrás do penúltimo colocado.
A perseverança do brasileiro de
24 anos, que defende a equipe italiana Lampre-Daikin, tinha justificava: desde 1903, quando a Volta
começou a ser disputada, apenas
quatro brasileiros levaram suas
bicicletas às ruas francesas.
Conseguir entrar no evento é
talvez mais difícil do que completar os 3.277,5 km do percurso.
A competição é disputada pelas
21 melhores equipes do mundo, a
maioria européias. Cada time é
integrado por mais de 30 ciclistas,
mas apenas nove são selecionados para correr na competição.
"São apenas 189 vagas. Aqui está a elite da elite. Se europeus e
norte-americanos têm dificuldade para entrar, imagine um brasileiro", disse Pagliarini à Folha.
O atleta, porém, não chegará ao
fim da Volta da França, programado para domingo, dia 28, na
avenida Champs-Elysées, em Paris. Ele abandonou ontem, na 12ª
etapa, com dores no joelho. Sua
performance, contudo, já recolocou o Brasil no mapa do ciclismo.
"Sempre quis completar a Volta, mas ainda sou jovem e posso
obter performances melhores no
futuro. Os organizadores até disseram que estavam com saudades
da bandeira brasileira, que este
ano voltei a exibir por aqui."
Bandeira que já tremulou com
um ciclista local no lugar mais alto
do pódio da competição -na
edição de 1991, Mauro Ribeiro
venceu a nona etapa da prova. E
desde 1994 o Brasil não tinha um
representante no evento.
São de Ribeiro as últimas recordações brasileiras na Volta. "Todo
mundo me pergunta como está o
Mauro. Muitos aqui correram
com ele e demonstram grande admiração", declarou Pagliarini.
Natural de Arapongas, interior
do Paraná, ele começou a competir aos 16 anos. Foi 12 vezes campeão brasileiro, conquistou três
vezes a medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos e triunfou
na 9 de Julho, principal prova do
ciclismo brasileiro, em 1998.
O currículo o credenciou para
tentar uma vaga em equipes de
ponta do exterior. Em 1999, mudou-se para a Itália. Fez o teste para a Lampre-Daikin em 2000 e, no
ano seguinte, assinou contrato
com o time. Hoje vive na cidade
de Treviso, com a mulher, Júlia.
Na sua primeira Volta da França, Pagliarini diz que não contou
com a sorte, "que é importante
em competições tão longas".
Após a queda na etapa inaugural, ele voltou a se machucar no
sétimo estágio, realizado entre
Bagnole-de-I'Orne e Avranches,
na região da Normandia.
O ex-campeão mundial Oscar
Freire (ESP) perdeu o controle de
sua bicicleta e caiu no meio do pelotão. O brasileiro, que vinha logo
atrás, "atropelou" o colega. Os
dois foram parar na valeta da estrada. "O Oscar desistiu ali mesmo, mas resolvi continuar. Meu
joelho estava doendo, mas achei
que teria condições de aguentar.
Só que ontem [anteontem" começaram as etapas de montanha. As
subidas de 40 km exigiam muito,
e a dor ficou insuportável".
O brasileiro retornou ontem para a Itália e vai assistir às etapas finais da Volta pela TV. Pagliarini,
contudo, não tem dúvida em relação ao ciclista que cruzará a linha
de chegada no primeiro posto.
"Armstrong está em um nível
superior a todos nós. Ele ficará
com o título novamente".
O norte-americano Lance
Armstrong, que busca o quarto título consecutivo no evento, é o
atual líder da Volta da França.
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