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MOTOR
Perfeita tradução
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
Schumacher pode igualar
Fangio neste final de semana
francês. Basta vencer e não ter do
seu lado direito no pódio Barrichello ou Montoya. Não é exatamente fácil, mas também não é
difícil. Se não for amanhã, será no
próximo domingo, no renovado
circuito de Hockenheim, ou, como de praxe, em Hungaroring.
Schumacher vai ser penta, vai
igualar Fangio, vai fazer história,
será contestado pelo que fez na
Áustria, pelo que fez em toda a
carreira, será reconhecido como
melhor piloto da atualidade, como um dos melhores de todos os
tempos, tanto faz, tudo vai para o
almanaque, merecerá páginas e
páginas de jornal, horas na TV,
milhões de hits na internet.
Como ele chegou lá, porém, merece maior análise. Talvez melhor
tradução: o F2002. Um grande
carro, completo, algo que o alemão nunca teve nas mãos, que,
para muitos, anda melhor nas do
companheiro brasileiro -verdadeira ou não, a observação pelo
menos corresponde ao que Barrichello vem fazendo na pista, sua
mais rica temporada na F-1.
Melhor tradução porque a Ferrari deste ano é o extrato do enorme investimento feito pela fábrica
italiana naquele que pode se
transformar em seu maior piloto
(tudo bem, a afirmação soara herética para muitos, mas pelo menos será verdadeira em números).
Com certeza mais de um bilhão
e meio de dólares, seis anos de
pesquisa, desenvolvimento, contratos, patrocínios, erros e acertos,
sucessos e acidentes, uma perna
fraturada, polêmicas com os companheiros de equipe, vaias na
Áustria e, no final, a mais fina engenharia em nome de um título
mundial de pilotos, um de construtores, sucesso pleno, total.
Schumacher sofreu com os primeiros carros, exigiu a contratação dos companheiros de Benetton, montou um dos melhores times que a F-1 já conseguiu produzir. E, desde a metade do ano passado, praticamente imbatível, capaz de ignorar o compasso de desenvolvimento das outras escuderias, capaz de ignorar até os princípios básicos do esporte.
Para piorar, tudo isso em um
momento em que a F-1 faz as contas, decreta a falência de times e
sente no bolso a fragilidade da
nova economia que não teve punho, estômago, dinheiro, talvez
até mesmo certo prazer de bancar
a categoria como fazia o cigarro.
(Que fique claro, isso não é uma
defesa do patrocínio tabagista,
mas simples constatação: cigarro,
como a bebida, é um dos poucos
setores da economia que se beneficia de crises por ser um vício;
comprar um maço é algo bem diferente do que comprar um computador; por vias tortas, a relação
entre cigarro e F-1 é quase um
mecenato, o que não é a proposta
executiva, agora, das empresas de
informação e tecnologia.)
Enfim, a não ser que alguma
peça dessa engrenagem pare de
funcionar subitamente, hipótese
bastante improvável, Schumacher, Barrichello, Brawn, Byrne,
Martinelli, Todt, Montezemolo e
os mais de 200 outros responsáveis por aqueles dois carros vermelhos continuarão a se encontrar no pit wall ao final dos GPs.
Por muito tempo. Ou até 2004.
Bernoldi paga multa do próprio
bolso e pilota com luvas de mecânico. Tom Walkishaw tem empresa em paraíso fiscal e tentou passar a perna em um fundo de investimento. Não é só a tal da crise que explica a pobre F-1 atual.
Deux Chevaux
A citação ao Citroën 2CV na última coluna causou certa reação de
alguns aficionados do modelo. Levado para o título, a descrição
"dois cavalos" deu a impressão de que essa seria a potência do carrinho, que na verdade tinha algo mais (em torno de 9 cavalos, dois
cilindros opostos, tração dianteira, vidros que abriam pela metade,
máxima de 55 km/h, tudo isso pelo menos em 1948, quando foi
lançado). Segundo uns, a designação se referiria à potência legal,
para efeito de imposto. Segundo outros, o motivo seria o mesmo,
mas explicado por razões históricas, dois cavalos em alguma unidade de potência do começo do século 20. Enfim, o modelo podia
não andar quase nada, era um "popular" de verdade, como tantos
que surgiram na Europa do pós-guerra, mas se tornou "cult".
Indy
A categoria perdeu mais uma corrida, agora na Europa. Tem gente
que acha que o campeonato não chega à próxima temporada.
E-mail mariante@uol.com.br
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