São Paulo, sábado, 20 de julho de 2002

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MOTOR

Perfeita tradução

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

Schumacher pode igualar Fangio neste final de semana francês. Basta vencer e não ter do seu lado direito no pódio Barrichello ou Montoya. Não é exatamente fácil, mas também não é difícil. Se não for amanhã, será no próximo domingo, no renovado circuito de Hockenheim, ou, como de praxe, em Hungaroring.
Schumacher vai ser penta, vai igualar Fangio, vai fazer história, será contestado pelo que fez na Áustria, pelo que fez em toda a carreira, será reconhecido como melhor piloto da atualidade, como um dos melhores de todos os tempos, tanto faz, tudo vai para o almanaque, merecerá páginas e páginas de jornal, horas na TV, milhões de hits na internet.
Como ele chegou lá, porém, merece maior análise. Talvez melhor tradução: o F2002. Um grande carro, completo, algo que o alemão nunca teve nas mãos, que, para muitos, anda melhor nas do companheiro brasileiro -verdadeira ou não, a observação pelo menos corresponde ao que Barrichello vem fazendo na pista, sua mais rica temporada na F-1.
Melhor tradução porque a Ferrari deste ano é o extrato do enorme investimento feito pela fábrica italiana naquele que pode se transformar em seu maior piloto (tudo bem, a afirmação soara herética para muitos, mas pelo menos será verdadeira em números).
Com certeza mais de um bilhão e meio de dólares, seis anos de pesquisa, desenvolvimento, contratos, patrocínios, erros e acertos, sucessos e acidentes, uma perna fraturada, polêmicas com os companheiros de equipe, vaias na Áustria e, no final, a mais fina engenharia em nome de um título mundial de pilotos, um de construtores, sucesso pleno, total.
Schumacher sofreu com os primeiros carros, exigiu a contratação dos companheiros de Benetton, montou um dos melhores times que a F-1 já conseguiu produzir. E, desde a metade do ano passado, praticamente imbatível, capaz de ignorar o compasso de desenvolvimento das outras escuderias, capaz de ignorar até os princípios básicos do esporte.
Para piorar, tudo isso em um momento em que a F-1 faz as contas, decreta a falência de times e sente no bolso a fragilidade da nova economia que não teve punho, estômago, dinheiro, talvez até mesmo certo prazer de bancar a categoria como fazia o cigarro.
(Que fique claro, isso não é uma defesa do patrocínio tabagista, mas simples constatação: cigarro, como a bebida, é um dos poucos setores da economia que se beneficia de crises por ser um vício; comprar um maço é algo bem diferente do que comprar um computador; por vias tortas, a relação entre cigarro e F-1 é quase um mecenato, o que não é a proposta executiva, agora, das empresas de informação e tecnologia.)
Enfim, a não ser que alguma peça dessa engrenagem pare de funcionar subitamente, hipótese bastante improvável, Schumacher, Barrichello, Brawn, Byrne, Martinelli, Todt, Montezemolo e os mais de 200 outros responsáveis por aqueles dois carros vermelhos continuarão a se encontrar no pit wall ao final dos GPs. Por muito tempo. Ou até 2004.

Bernoldi paga multa do próprio bolso e pilota com luvas de mecânico. Tom Walkishaw tem empresa em paraíso fiscal e tentou passar a perna em um fundo de investimento. Não é só a tal da crise que explica a pobre F-1 atual.

Deux Chevaux
A citação ao Citroën 2CV na última coluna causou certa reação de alguns aficionados do modelo. Levado para o título, a descrição "dois cavalos" deu a impressão de que essa seria a potência do carrinho, que na verdade tinha algo mais (em torno de 9 cavalos, dois cilindros opostos, tração dianteira, vidros que abriam pela metade, máxima de 55 km/h, tudo isso pelo menos em 1948, quando foi lançado). Segundo uns, a designação se referiria à potência legal, para efeito de imposto. Segundo outros, o motivo seria o mesmo, mas explicado por razões históricas, dois cavalos em alguma unidade de potência do começo do século 20. Enfim, o modelo podia não andar quase nada, era um "popular" de verdade, como tantos que surgiram na Europa do pós-guerra, mas se tornou "cult".

Indy
A categoria perdeu mais uma corrida, agora na Europa. Tem gente que acha que o campeonato não chega à próxima temporada.

E-mail mariante@uol.com.br



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