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FUTEBOL
A doce tirania da TV
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Com o imbróglio em torno do
Caxias, ainda não sabemos
nem quais são os times que participarão do Campeonato Brasileiro deste ano, que começa no próximo dia 10.
Essa pendenga político-jurídica
diz muito sobre problemas crônicos dos bastidores desorganizados
e desmoralizados do nosso futebol.
Mas o que levanta questões novas e delicadas é a atual discussão
sobre o calendário do futebol brasileiro do ano que vem.
Ao que tudo indica, virá finalmente a estrutura de campeonato
nacional defendida por nove entre dez comentaristas e amantes
do esporte: um torneio longo, com
turno e returno, decidido em pontos corridos.
Em vez de fórmulas mirabolantes tiradas do bolso do colete, um
sistema simples, de equanimidade indiscutível, que é seguido há
décadas com sucesso pelos campeonatos nacionais europeus.
Sou plenamente favorável a um
Brasileirão nesses moldes.
Quem gosta de mata-mata continuará contando com a Copa do
Brasil, que a meu ver deve também ser fortalecida e saneada de
seus resquícios de politicagem e
irracionalismo.
Nesse novo calendário, a par do
reforço dos dois grandes torneios
nacionais, seriam extintas aberrações como a Copa dos Campeões e enxugados os campeonatos estaduais e regionais.
Sou, em princípio, a favor de tudo isso.
Estaria tudo bem, portanto, se
não houvesse um "pequeno" problema.
Essas mudanças iminentes não
são fruto de um consenso gerado
por uma discussão entre todos os
interessados (clubes, federações,
representantes de torcidas, poder
público, TVs), mas sim resultado
da decisão unilateral de apenas
um desses setores, a televisão.
Aliás, de uma única emissora, o
que é muito pior.
Pode parecer uma picuinha,
uma "birra de eterno descontente", mas não é.
Aceitar comodamente um fato
que nos é imposto -só porque,
circunstancialmente, essa imposição condiz com o que queremos- significa dar um passo
atrás no caminho do amadurecimento, do livre-arbítrio, da participação democrática, da cidadania ou do nome que se queira dar.
Submeter-se à tutela de uma
emissora de TV, por mais que essa
tutela às vezes pareça benfazeja, é
como entregar a um caudilho as
prerrogativas de "pai do povo".
Só seremos uma democracia
madura quando não admitirmos
que ninguém -seja um tirano,
um partido ou uma emissora de
TV- decida por nós o que devemos fazer, ver, ouvir ou pensar.
Transigir com a doce tirania da
Rede Globo, mesmo que seja só
"quando ela faz a coisa certa", é
um equívoco análogo à velha ilusão da esquerda de que poderia
manipular um líder populista
(Getúlio, Jango ou equivalente)
para fazê-lo tomar as medidas
que interessavam ao "povo".
Nessa perspectiva deformada, o
velho projeto furado de "tomada
do poder" -inspirado no modelo
da Revolução Russa de 1917- é
substituído pela idéia igualmente
falsa de que, se colocarmos "gente
boa" na direção da Globo, esta fará o país andar na direção certa.
Ora, dificilmente poderá ser
chamado de democracia um país
em que uma emissora de TV fabrica e destrói políticos, define os
padrões morais, estéticos e de
consumo da sociedade e, como
arremate, decide sobre o jogo dos
nossos times.
Rivaldo e Riquelme
Parece que o Barcelona está
discretamente forçando a saída de Rivaldo. A alternativa
apresentada ao jogador é sua
naturalização espanhola, para dar espaço ao novo estrangeiro contratado, Riquelme.
Não dá para saber o que vai
acontecer, mas seria muito
bom ver Riquelme ao lado de
Rivaldo, completando com
Saviola e Kluivert uma das linhas de frente mais infernais
que se pode imaginar.
Sucesso do Azulão
A chegada espetacular do São
Caetano à final da Libertadores traz de volta a velha pergunta sobre as razões do sucesso de um clube tão jovem
e relativamente modesto.
Muitas dessas razões são imponderáveis: a boa fase de alguns atletas, os inúmeros
acasos que cercam cada jogo.
Outras são muito claras: salários em dia, política prudente
de contratações e treinador
há quatro anos no cargo.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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